Capítulo II - Brianna - "Talvez eu não deva ficar"

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Ajoelhei-me rapidamente, sentindo meus joelhos doerem ao entrarem em contato com o chão frio. Fechei os olhos por um segundo, as lágrimas ameaçando cair. Sentia-me completamente perdida e deslocada. Como eu havia previsto, aquele não era meu lugar e nunca seria.
Enquanto eu juntava o resto de meus livros, senti uma mão grande e aquecida encostar na minha. Ergui-me num movimento rápido, arregalando os enormes olhos assustados.
- Tudo bem... Eu só quero ajudar. - o rapaz agachado à minha frente sorria com o canto direito da boca. Os cabelos curtos e castanhos caíam sobre os olhos de uma cor amarelada. Seu olhar era triste.
O garoto se levantou em seguida, me ajudando a me erguer. Ele continuou sorrindo ao me entregar os cadernos.
- Ah, esqueci de me apresentar! Meu nome é Nathanyel, mas todos me chamam de Nate. E o seu é Brienne, não é?
- Ham... Brianna. Brianna Collins. - me endireitei, e tentei ao menos parecer gentil, e não uma bobona que tinha medo de tudo. Até porque eu era.
- Ah, claro. Bem, tenho que ir pra aula agora, se não vou levar uma baita bronca. Espero que a gente possa se ver mais tarde!
Nate subiu as escadarias apressado, e eu fiz o mesmo. No segundo andar havia um corredor longo e estreito, várias portas com números enormes, metálicos e dourados no centro. Puxei um papel amassado que marcava uma página do meu caderno e o desdobrei. Sala oito seria onde eu ficaria. Passei os olhos pelas portas até parar na que havia escrito um oito. Respirei bem fundo antes de entrar.
Minha sapatilha fazia um barulho alto a cada passo meu. A professora olhou para mim e sorriu com gentileza, os lábios finos destacados pelo forte batom vermelho, que combinava com o cabelo ruivo e alisado, que balançava cima de seus ombros levemente caídos.
- Bem- vinda à turma, querida. Pessoal, essa é sua nova colega, Brianna. Sou a Srta. Poo. Escolha uma carteira vazia e pode se sentar.
Passei os olhos pela sala e percebi que todos me analisavam. Constrangida, abaixei a cabeça e fui andando em direção ao fundo da sala, já que na frente já estava tudo ocupado. Toda a atenção estava voltada para mim, e isso me incomodava.
Finalmente encontrei uma cadeira. Aliviada, joguei com pouco cuidado meus livros em cima da mesa, e me sentei depressa. Escondi o rosto entre meus braços, e a Srta. Poo voltou a dar a matéria. Ergui a cabeça lentamente, até me concentrar no quadro branco onde estavam anotadas várias coisas importantes. Abri o caderno com pressa, pronta para copiar, até que ouvi um cochicho vindo do meu lado. Virei-me amedrontada do que iria ver, e me dei por uma garota de cabelos alisados e louros sentada ao meu lado. Os olhos azuis, o sorriso manipulador, modo de agir próprio de um líder. Ela. Logo ela! Parecia tediosa por sentar logo do meu lado e ao mesmo tempo amando.
Ela me lançou um sorriso irônico e logo em seguida cochichou algo para a menina que sentava na sua frente e as duas riram.
- Algum problema? - perguntei em tom de desafio, mas tinha certeza que estava pedindo para morrer.
- Eu acho que você é o problema por aqui, queridinha. - a garota pegou na bolsa um espelhinho e um batom e se concentrou em passá-lo nos lábios grossos.
Passei a mão pelos meus cabelos claros e continuei a anotação. Porém a garota ficou o tempo todo me olhando, cochichando e rindo.
- Você quer parar?
- Brianna e Elizabeth, algum problema por aí?- a Srta. Poo abaixou os óculos.
- Hum, eu acho que não. Temos algum problema, flor?- olhei para ela, que como sempre tinha um olhar vencedor. Baixei a cabeça.
- Não.
Tive que passar a aula toda assim, o que não foi fácil. De vez enquanto Srta. Poo nos lançava um olhar, mas logo em seguida voltava a explicar.
Quando o sinal tocou foi um alívio. Levantei-me rapidamente sem olhar para trás e fui correndo até a porta, e acidentalmente trombei com uma pessoa, que me segurou, evitando que eu caísse. Aquelas mãos... Olhei para cima e Nate estava com os olhos arregalados.
- Puxa, foi mal! Tudo bem?
- Ah, eu acho que sim... - passei a mão pela minha calça amassada - Não se preocupe.
- Ei, se você quiser sentar conosco. - ergui uma sobrancelha e ele sorriu - Bem, eu não sento sozinho. Mas eu acho que você não vai querer, já que...
Alguém atrás de Nate o puxou com força, e ao me ver, Elizabeth parou de sorrir.
- O que ela está fazendo aqui?
Todos nos entreolhamos.
- Só estava a convidando para sentar com a gente... - Nate respondeu.
- Hahaha! - Elizabeth parecia se divertir com essa idéia - Deixe de ser ingênuo! Mas é claro que não. - ela pigarreou - Não vou me rebaixar a esse ponto.
Ela segurou o ombro dele com força e os dois foram para o refeitório, me deixando sozinha e com o leve aroma de morango que saía do cabelo de Elizabeth.
Fui caminhando em direção ao refeitório, apanhei uma bandeja e coloquei poucas coisas lá. Analisei o lugar, e encontrei uma mesa pequena no canto da parede. Fui me direcionando para lá rapidamente, porém algo no meio do caminho fez com que eu tropeçasse e me esborrachasse no chão. Um turbilhão de risadas fez meu coração acelerar, e eu me levantei rapidamente. Ao me virar, dei de cara com Elizabeth rindo de um modo supremo. Olhei para a mesa que ela estava sentada e percebi que Nate me observava. Seus olhos amarelados estavam, como sempre, tristes. Talvez ele quisesse me ajudar. Mas não o fez.
- Caramba, você não pode me deixar em paz por um minuto?- segurei as lágrimas. - Não já estamos empatadas?
Elizabeth revirou os olhos e agarrou a gola da minha jaqueta, me olhando bem nos olhos com um tom intimidador.
- Eu sempre venço.
Todos riram mais uma vez. Peguei a bandeja no chão, olhei novamente para o Nate e vi que ele queria me dizer algo, porém não dei atenção. Saí às pressas do refeitório e fui correndo em direção a algum lugar vazio. No final das contas tive que almoçar dentro do banheiro feminino.
As lágrimas despencaram, e eu escondi o rosto por entre as pernas. O que faria e o que diria? Eram perguntas difíceis de responder. Eu não sabia de absolutamente nada.
Simplesmente, eu não deveria ficar. Aquilo não era pra mim. Eu tinha que ir. Logo.


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