Faces Sob Máscaras

Capítulo VII - Elizabeth - "Músicas e máscaras"

Algumas semanas depois...

- Mais próximas vocês duas! – o Sr. Clark disse pela terceira vez apenas naquele minuto. Um homem franzino, de cabelos meio grisalhos e uma boina pendurada de lado na cabeça, chegava a dar medo com aquele sotaque falso, mas era o professor que comandava o teatro.

Eu permaneci parada em frente á Brianna, que meramente deslocou seu olhar para o teto como se não houvesse escutado. Alguns estudantes se separavam em pequenos grupos sobre o palco, treinando suas falas e interpretando seus personagens, enquanto no centro, o Sr. Clark tentava inutilmente que Brianna e eu fizéssemos a cena do baile, quando dançávamos juntas.

Relutante, desloquei um passo á frente e tentei segurar a mão de Brianna, que a afastou e me olhou em confusão.

- Prefere ficar escutando o maluco da boina por mais tempo? – sussurrei em tom ameaçador.

Ela me olhou nos olhos. Esteve calada durante todo o inicio da aula, assim como eu, porém era como se temesse cada ação, repensando-a diversas vezes antes de realizar. Bufei e ergui os braços.

- Alguém mais reparou que não tá funcionando? – disse impaciente ao Sr. Clark, apesar de ter generalizado a fala.

- Tudo bem, então. – senti um pouco de ironia na voz do professor enquanto ele folheava o roteiro em mãos – Que tal tentarmos a cena – ele foi até a última página e passou o olho pelas frases – do beijo?

Forcei um olhar irônico para Brianna, que se deu por vencida.

- Dispense suas ironias. – disse tocando minha mão como se o toque ardesse em sua pele.

- É basicamente a língua com que nos comunicamos. – rebati mantendo nossas mãos apenas encostadas.

- Ótimo, ótimo. – o Sr. Clark fez aplausos silenciosos e nos olhou de cima á baixo.

- Elizabeth, mão na cintura de Brianna. E segurem direito a mão uma da outra! – ele chegou mais perto e me empurrou um pouco mais para frente.

Eu não sabia nem para onde olhar, nem como agir. Por que o sinal não tocava logo? Brianna parecia pior. Estava meio pálida quando coloquei minha mão em suas costas sem tocá-la. Tinha de ter um limite de aproximação naquela coisa.

- Maravilha, maravilha! – o Sr. Clark sorriu e pediu que colocassem a música. Um tom suave e calmo começou baixo ao fundo quando tentei dar minha passada para um lado, ao mesmo tempo em que Brianna fez pelo lado oposto.

- Parou, parou. – aquela repetição de palavras ainda me tiraria do sério – Vocês não estão relaxadas! – ele disse enquanto eu e Brianna saíamos da posição e o olhávamos.

- Jura? Eu nem havia percebido. – para minha surpresa, a fala carregada de ironia veio de Brianna, e não de mim. Eu sentia suas atitudes em minha pele, mas tinha algo mais para ela não querer participar daquilo – Talvez você devesse reparar que a diretora colocou uma bomba neste palco! Só resta saber quando ela vai explodir! – a garota literalmente gritou com o professor, uma atitude inesperada vinda dela, logo colocando o cabelo atrás da orelha numa ação impaciente e saindo do palco num passo apressado.

O resto dos figurantes tinham parado para olhar, junto com o professor e eu, os cabelos ondulados da garota desaparecerem pela cortina e ir para onde ficavam os camarins. Um minuto do breve choque depois, o barulho do sinal do término tocou e o professor pigarreou e dispensou os alunos, voltando á realidade. Logo que o professor nos dispensou, andei a passos rápidos até a cortina que separava o palco dos camarins e sem sequer passar por ela, tentei gritar para a garota.