Fatos do destino

O destino

Lara

É engraçado como você acha que tudo na sua vida depende de você, até acontecer algo que te coloca no seu lugar, lá onde você deveria estar, o ser minúsculo em meio ao universo inteiro. Um ser insignificante, sujeito a todos os tipos de acontecimentos. E principalmente sujeito a todos os sentimentos.

Culpa.

Foi o que me atingiu quando entrei novamente na casa da minha mãe, que eu não ouso mais chamar de minha. Olhar todos aqueles retratos, móveis e troféus, tudo estava exatamente no mesmo lugar. Tudo era como se eu nunca tivesse deixado aquela casa, como se eu nunca tivesse a abandonado.

Jade ajudou ela a sentar no sofá, Kevin parou na porta com as sacolas na mão. Eu tinha comprado alguns alimentos e remédios que o médico tinha indicado. Apontei o caminho pra ele e o segui. Ele estava comigo desde de o começo da furacão, na verdade eu não sei o que eu faria se não fosse por ele.

É incrível como ele sempre está lá, como um anjo ou um herói. Sempre está no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa (talvez não tão certa) e me "salvando". Se eu acreditasse em coisas do destino, até diria que o universo está tentando me trasmitir um recado, mas isso é coisa da Jade.

De qualquer forma antes de sair da cozinha, peguei em sua mão que estava sobre a mesa, olhei e disse:
-Obrigada!

Meu rosto devia estar horrível, devido às várias horas que passei chorando no último dia, deve ser por isso que ele me puxou, envolvendo-me em seus braços. Senti um aroma agradável, nada de essências conhecidas, mas acho que era o cheiro dele. Sem perceber fiquei ali um tempo, desejando que o mundo parasse ali, que o tempo não passase e principalmente, que tudo fosse simples.

Mas não era.

Me afastei dos seus braços e pedi pra ele me ajudar a levar minha mãe pra cima.

Ele pegou ela no colo, já que quando voltamos a sala a Jade acariciava seus cabelos enquanto ela dormia. Deitou-a sobre a cama e eu coloquei um edredom para cobri-la. Sem palavra alguma o pânico me bateu e as lágrimas correram antes que eu pudesse terminar de descer as escadas. Jade me abraçou enquanto eu observava Kevin. Ele parecia impaciente, talvez até incomodado. Nossos olhares se cruzaram e eu tentei identificar o que a passava dentro dele, sem sucesso, ele era um enigma difícil demais pra mim, pelo menos naquele momento.

-Jade o que eu vou fazer? -voltei a encara-la quando ela se afastou pra me olhar.- Eu não sei o que fazer, eu to perdida. Minha mãe vai morrer e eu não sei o que fazer.

-Sua mãe não vai morrer!- Jade disse rápida e decidida.- E nós vamos dar um jeito, sempre damos.

Desviei meu olhar procurando a terceira pessoa na sala, não achei.

Kevin

Eu estava inquieto, era verdade, mas isso era porque eu realmente não sabia o que fazer, o que dizer. Não sei me expressar bem, sou muito melhor na ação. Me peça pra roubar a lua e trazer embalada num pacote de presente e eu farei, só não me peça pra entender sentimentos.

No hospital eu não aguentava ficar dentro do quarto, Lara chorava sem parar e eu não queria ficar vendo aquilo porque minha primeira reação instintiva seria tira ela dali e leva-la pra longe para não vê-la sofrer, mesmo sabendo que seria inútil. Mesmo assim eu permaneci do lado de fora, ao lado da máquina de café instalada em frente ao quarto onde ela estava. Dentro das 24h que se seguiram ela se sentou ao meu lado cinco vezes, todas elas sem nenhuma palavra. Acho que não as tinha, nem eu pensaria em algo pra falar. Então ficávamos ali, ela encostada no meu ombro, em silêncio, encarando a porta branca. Durante a madrugada, que permaneci acordado, ela veio encostou sua cabeça sobre meu braço e poucos segundos depois senti o líquido escorrendo em contato com minha pele. Meus instintos novamente forçando-me a tira-la dali, mas apenas passei os braços ao redor dos seus ombros sua cabeça encostou sobre meu peito e ali eu acareciei seus cabelos até ela parar de chorar e pegar no sono.