Capítulo 25 - A Batalha Final

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Minha frustração foi tanta que acredito que não vale a pena nem descrever tudo o que fiz. Foi tanta perca de tempo quanto qualquer outra tentativa que eu fiz ao longo deste ano. Eu era, indubitavelmente, um enorme fracasso. Talvez eu devesse ter tentado algum ato de desespero, como por exemplo usar a sorte líquida a meu favor – e no minuto em que tive a ideia, perambulando pelo castelo, me xinguei mentalmente por ser tão burra ao ponto de não pensar nisso antes, quando havia tempo hábil de preparar a poção. Entretanto, não consegui de fato fazer nada. Tentei, é verdade, mas não consegui. Durante todo o tempo que Harry levou para ver as lembranças de Severus, depois para ir se entregar para Lorde Voldemort e por fim ser trazido para o castelo nos braços de Hagrid, esforcei-me ao máximo para conseguir algum resultado. Todavia, lá estava o exército de Lorde Voldemort, todo reunido, Harry fingindo-se de morto nos braços de Hagrid, que chorava silenciosamente, e todos os oponentes que pertenciam ao lado da Ordem encarando os inimigos. Eu estava entre eles. Finalmente aceitei o fracasso e desisti. Reconheci que meu ano inteiro foi uma completa perca de tempo e que qualquer coisa que fugisse do que literalmente estava escrito seria inteiramente culpa minha.
Confesso que a cena era ainda mais assustadora do que imaginei. Todos aqueles Comensais, dementadores, gigantes, monstros... isso sem mencionar o pior dos monstros que estava bem à frente, com Nagini em seus ombros. Sim, Lorde Voldemort. E ver Harry fingindo estar morto daquele jeito... Nossa, era horrível. Partiu meu coração ver a professora McGonagall gritar daquele jeito, pior ainda ao ouvir Hermione, Rony e Gina gritarem também. Fiquei quieta e impassível, pois minha reação era o de menos. Ninguém estava prestando atenção. E o discurso de vitória de Lorde Voldemort era ainda pior de se aguentar do que imaginei que seria. Entretanto, até que tudo foi bastante breve, e logo a emoção começou:
- HARRY! – gritou Hagrid, desesperado pelo sumiço do garoto que, sabiamente, já havia desaparecido debaixo da capa de invisibilidade e se afastado. – HARRY... ONDE ESTÁ HARRY?
Foi então que tudo começou a acontecer de uma só vez. Diferentemente das batalhas que ocorreram mais cedo, tudo era mais intenso, caótico e assustador.
Os centauros foram com tudo para cima dos dementadores, e por isso eu me senti muito grata. Eles eram meu ponto fraco recém descoberto. Os gigantes de Lorde Voldemort se ocuparam em esmagar tudo o que estivesse em seu caminho, e esse foi o primeiro desafio que enfrentei: não ser esmagada. Felizmente, os testrálios chegaram para atrapalhá-los, sobrevoando suas cabeças e desviando seu foco e atenção. Vi um hipogrifo entre eles, e logo lembrei que era Bicuço. Juntos, tentavam cegar os gigantes. Apenas um dos gigantes batia nos outros, e logo notei que era Grope, o meio-irmão de Hagrid. Este estava do nosso lado. No meio de tanta balburdia, todo mundo acabou sendo empurrado para dentro do castelo, seja Comensal ou defensor de Hogwarts. Comigo não foi diferente; fui arrastada na multidão. Quando finalmente havia espaço para que eu desse meus próprios passos novamente, finalmente caí nos duelos sangrentos contra os partidários das trevas, e fui com tudo contra eles. Não ficarei aqui me vangloriando de ser fácil porque não foi; cada um com quem duelei me deu muito trabalho, uns mais que outros. Investia com tudo de mais pesado que eu sabia fazer, e fui derrubando um a um, tantos quanto foi possível.
Inevitavelmente, entrei numa batalha com um Comensal que duelava muito bem. Este me rendeu mais alguns machucados feios para os que eu já colecionava, e me deu muito trabalho, mas eles não conseguiu escapar do floreio que dei ao usar a sectumsempra. Com sangue jorrando de sua garganta, ele caiu ao chão e começou a se debater. Não dei atenção a ele e já virei procurando o próximo; porque era assim que estavam as batalhas. Caiu mais um? Lindo, agora olhe ao redor o mais rápido que puder, defenda-se e tente não ser morto. Bem assim. Como nas outras batalhas que venci, assim que virava, me deparava com o próximo oponente. Para meu completo choque, ao me virar dessa vez, deparei-me com Lucius Malfoy, pronto para atacar.
- Mas que diabos...? – comecei a perguntar, mas ele me atacou, e tive que me defender. Não era para ele estar de fora? Que diabos ele fazia ali?
Ele não me deu chance de perguntar e travamos uma batalha intensa. Como se não bastasse, num dado momento vi que um Comensal tinha abatido alguém do meu lado e estava livre, e sem pestanejar virou-se para ajudar Malfoy a acabar comigo. A luta já não estava fácil antes disso, e só se tornou muito, muito pior. Malfoy lançou uma Maldição da Morte da qual escapei por pouco, mas um aluno da Lufa-Lufa não teve a mesma sorte que eu, pois a maldição lançada contra mim acabou por acertá-lo pelas costas. Isso me fez sentir um ódio terrível que parecia queimar por dentro. Furiosa, empenhei todos os meus esforços em acabar com aquele maldito Comensal, e a força que empenhei em minhas azarações e maldições era tanta que eu gritava toda vez que lançava uma. Lucius começou a perder, mas isso não me fez desacelerar. Entretanto, dois de seus amigos encapuzados nojentos vieram para socorrê-lo.
Percebi vagamente que as batalhas iam cessando, e eu já sabia bem o motivo. De soslaio, vi que Lorde Voldemort enfrentava sozinho três bruxos. Eu sabia que era a professora McGonagall, o professor Slughorn e Kingsley. Do outro lado, Bellatrix enfrentava Hermione, Gina e Luna, e a Sra. Weasley não tardaria em intervir. Então, que diabos Lucius fazia ali? Era para ele e Narcisa estarem procurando Draco. Quando o pensamento atravessou minha mente, quase fui derrotada pelo momento de distração; a maldição da morte me errou por pouco.
Travei minha luta com ainda mais intensidade, pois eu queria estar assistindo quando a vaca que matou meus pais fosse morta. Céus, queria ser eu a matá-la, mas... não sabia se conseguiria a oportunidade. Num aceno da varinha somado a um segundo de distração de um dos Comensais, minha azaração o acertou bem no peito, certeiro como uma facada no coração, e ele caiu. Faltavam dois. Por sorte, ambos se distraíram com o amigo caído, e foi assim que eu consegui quebrar o pescoço do segundo. Mais uma vez, éramos só eu e Lucius. Ele, mais uma vez cometeu o erro de se distrair, e foi assim que eu o acertei na perna. O corte ficou muito feio e o paralisou. Eu hesitei um pouco, pois pensei em matar... Mas então lembrei que era pai de Draco e, por essa razão, apenas o estuporei.
- MINHA FILHA NÃO, SUA VACA! – ouvi Sra. Weasley gritar enquanto passava correndo e já se livrando da capa para poder acabar com a Comensal.
Bem a tempo, pensei, sorrindo enquanto observava os dois duelos finais. Fui me aproximando mais e mais, pois queria ver bem de perto a vida deixar aquela maldita. Pouca coisa me animaria mais do que aquela cena no momento. E então, o acontecimento que eu mais esperava finalmente ocorreu: o feitiço que a Sra. Weasley lançou passou direto por baixo do braço esticado de Bellatrix e a acertou direto em seu coração. A multidão começou a gritar em comemoração, e eu fui uma das pessoas a comemorar, obviamente. Gritei, pulei e aplaudi muito. A reação de Lorde Voldemort foi de causar medo, e não foi à toa que o silêncio voltou a reinar. Ao ver Kingsley e os professores McGonagall e Slughorn voando para longe com a intensidade da fúria do Lorde das Trevas e ouvir aquele enfadonho grito de ódio, um arrepio muito intenso me acometeu. Observei ele virar para se vingar de Sra. Weasley e então Harry a protegeu e por fim se revelou.
Assim como toda a multidão, assisti enquanto Harry explicava para Lorde Voldemort todos os motivos pelos quais aquilo tudo era um erro dele. Explicar a teoria das varinhas. Explicar suas falhas e erros. Qual seria sua ruína. E depois, a batalha épica se desenrolou diante de meus olhos. Eu não conseguia respirar direito. Como em algumas ocasiões, meu lado de fã falava mais alto e eu não conseguia fazer outra coisa senão assistir a versão real do que eu assisti no cinema e imaginei ao ler o livro. Como sempre, a realidade era fiel ao livro então, após Expelliarmus e Avada Kedavra proporcionarem um assustador show de luzes ao se unir no espaço entre Lorde Voldemort e Harry, o feitiço finalmente ricocheteou, abatendo de uma vez por todas o Lorde das Trevas.
Precisei de vários segundos para assimilar que estava acabado. Parte de mim não conseguia acreditar que isso pudesse ser verdade. E essa parte falava muito alto, pois fui eu quem falhou em cumprir a missão de Dumbledore. Minha falha poderia comprometer esse final que se desenrolava diante de meus olhos naquele exato momento. Nada mais natural que desacreditar daquilo tudo.
Era apenas bom demais para ser real.
Incapaz de acreditar e querendo muito constatar aquilo com meus próprios olhos, fui pé ante pé, com cautela, cada vez mais próxima do corpo de Lorde Voldemort. Ele jazia imóvel no chão, aparentemente morto. Era fenomenal que pudesse ser verdade; mas eu precisava ver sua face para crer. Ver a luz deixar aqueles olhos medonhos. Ver que o peito não mais se mexia, pois já não havia mais respiração. Precisava da constatação de que o pesadelo acabara. Uma eternidade depois, – meros instantes – meus olhos finalmente encontraram os dele. Não havia mais vida ali. O peito, imóvel. Trêmula, aproximei minha mão do nariz ofídico, tento a certeza de que não havia mesmo respiração alguma. Ainda insatisfeita, levei a mão ao pulso. Não havia sinal. Nada.
Estava morto.
Enquanto dançava aquela valsa mortal com o destino de todos, que dependia do erro naquela suspeita de Dumbledore, muitas coisas aconteciam ao meu redor, mas eu estava indiferente a elas. Não me importava os comensais fugindo. Não me importava com as comemorações. Nada parecia importar além daquele momento fugaz de acabar de vez com a dúvida que me atormentara durante meses.
Voltei a ficar ereta, finalmente me permitindo acreditar. Era verdade, afinal. O Lorde das Trevas caiu. Os tempos de terror chegavam ao fim. E talvez eu nem sequer tivesse falhado! Talvez o maldito objeto misterioso nunca existira...
- Gabby. – Era só meu apelido, mas parecia ter um milhão de significados. Era Draco quem me chamava. Estava bem ali ao meu lado, querendo minha atenção. Finalmente desviei o olhar do corpo inanimado do bruxo das trevas e me afastei dele, olhando no fundo dos olhos de Draco. O brilho no fundo daqueles olhos cinzentos me chamava. Implorava por mim. Era como... bem, naquele momento eu não sabia. Lutei para encontrar comparação ao que aquele olhar remetia, mas não achei nada naquele instante. Respondi ao chamado dele apenas com um mero sorriso, que provocou um nele também. Ele abriu os braços, me chamando para aquele abraço reconfortante... e eu não pensei duas vezes! Corri para os braços dele, feliz. Sim, FELIZ! Eu mal conseguia acreditar que voltava a me sentir assim novamente. Enquanto encontrava-me no acalento de seu abraço, notei que eu possuía sim motivos para estar feliz. Deu tudo certo, afinal. Voldemort e Lestrange estavam mortos. MORTOS! E Fred e Snape vivos, sãos e salvos em algum lugar por perto. Eu estava bem, nos braços do homem que amo. Como não sentir felicidade?!
A princípio, num tolo pensamento, pensei que estava tão cheia de felicidade que meu peito doía. Talvez estivesse dificultando minha respiração, também. Era possível, certo? Entretanto, a tontura e o calor que senti nas costas não faziam sentido algum. Principalmente quando o calor foi piorando, começando a arder, como se estivesse em chamas. Mas ao ver a expressão de Draco quando ele se afastou para me olhar, entendi que algo estava muito errado. Muito errado mesmo.
Minhas pernas cederam, mas Draco segurou-me. Se não fosse por isso, teria caído ao chão. Olhei para trás e indistintamente notei Lucius com a varinha erguida em minha direção. Entendi então que o calor era na verdade sangue dos ferimentos que ele fizera com alguma azaração, e a ardência provavelmente vinha dos cortes. Mas depois de perceber o que me acontecera, não pude fazer mais nada, pois simplesmente vi tudo escurecer e desaparecer. 

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Nota da autora: Bom, pessoal, esse foi o fim da parte 2. A parte 3 está sendo escrita e muito, MUITO em breve estará aqui. Se quiserem que eu avise quando posta, é só me pedir nos comentários.

E aí, o que acharam dessa parte?

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