Capítulo Sete - Parte II
– Nicolas? – Amélia gritou estirando o pescoço ao sentir o brusco solavanco da carruagem, porém apenas veio o silêncio. Sem esperar pela resposta, ela tentou espiar abrindo a cortina olhando janela à fora. – Por que nós paramos?
Curvando seu torso, Nicolas olhou para a princesa dentro da carruagem pela janela frontal. – Parece que nós temos um probleminha, minha princesa. A trilha até o castelo fora bloqueada.
Impaciente, Amélia abriu a porta e saltou para fora da carruagem para verificar com seus próprios olhos o novo problema à frente.
– Pelos deuses princesa, por favor, fique na carruagem!
– Sim, talvez eu me machuque com algum pedregulho no meio da trilha – ela zombeteou firmando suas sapatilhas na terra da trilha, o almíscar invadiu lhe o olfato assim como o cheiro da terra úmida. Seus passos seguiram para frente da carruagem e Nicolas saltou de seu assento almofadado de cocheiro seguindo ela, os olhos de Amélia encontraram enormes árvores tombadas num formato X impedindo a passagem de qualquer locomotiva na direção que os levaria de volta ao castelo.
– Elas devem ter caído com a última tempestade.
– Pelos deuses, era o que nos faltava. Deve haver outro caminho, não?
– Sim, pelo sul.
– E quanto tempo isso demoraria? – perguntou ela examinando o céu cinzento, choveria novamente cedo ou tarde.
– Levaríamos cerca de cinco horas para fazer essa volta. Estávamos no caminho mais curto para o castelo de Skyblower, já passamos até mesmo pela cidade principal, eu não contava com esse impedimento.
– Quer dizer que o castelo está atrás dessas árvores?
– Levaríamos em torno de uma hora de caminhada, os cavalos são jovens e um tanto selvagens, já que não possuímos arções, a melhor opção seria a caminhada – ele afirmou caminhando de volta para a carruagem.
Uma hora já lhe parecia muito, Amélia saíra do castelo sem comunicar ninguém. Num caso de urgência ela contava com o bilhete que mandou uma das criadas entregar para Thor com o início do crepúsculo, mas o plano nunca fora ter ficado tanto tempo na cabana de Cirelli, e incrivelmente, ela nem tivera o tempo de perguntar tudo que queria e precisava perguntar. E a esta altura, Thor poderia receber o bilhete a qualquer momento.
– O que está fazendo? – ela perguntou ao ver Nicolas arrancando seus pertences de dentro da carruagem.
– Achei que você não tivesse problema com uma caminhada, princesa – ele respondeu ajeitando sua bainha na cintura. – A escolha é totalmente sua princesa. Podemos dar à volta e chegarmos em cinco horas ou podemos cortar o caminho e chegarmos antes do anoitecer, eu lhe deixo no castelo e volto com reforços em busca da carruagem e dos cavalos. Caso, você esteja com medo de se aventurar numa mata perigosa, eu não tenho problema em...
– Se apresse Nicolas, irá chover – ela interrompeu seguindo em direção à mata. Thor me matará caso encontre meu bilhete antes de mim.
Nicolas estendeu a mão para a princesa que se equilibrava em cima de uma úmida pedra que dividia o pequeno córrego no meio da floresta negra. Árvores finas e esguias que caminhavam para a hibernação enfeitavam a mata fria e seca, Amélia apanhou sua mão sem escolha pela barra do vestido que balançava sobre suas pernas ameaçando desequilibrá-la, e Nicolas a puxou para ele no momento o qual ela saltou caindo em terra afofada ao seu lado. Já milhares de folhas secas jaziam no chão criando um aspecto macio, entretanto a locomotiva tornava-se ainda mais cansativa pelas folhas grudentas e pesadas.
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Ceres - Agora o Inimigo é Outro [LIVRO 2 - COMPLETO]
Mystery / ThrillerSEGUNDO LIVRO DA SÉRIE AS ADAGAS DE CERES Os muros cinzentos que cercavam o castelo retinham a cruel realidade fora de suas barreiras, e mesmo com a quantidade de problemas que a rodeavam, Mia pensava que aquele castelo era uma falsa miniatura de um...