Capítulo Vinte e Cinco

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Tempos Atuais

Em passos pesados, Nicholas Crawford movimentava-se pelo grudento solo e escorregadio coberto pelas folhas cadentes da época, tingidas em tonalidades escuras de amarelo e de marrom. O cheiro frio da terra molhada lhe dava um breve reconforto. Então, o jovem que renunciara o nome Crawford tinha seus olhos cravados nas duas lápides gélidas e deterioradas pelos longos e assoladores dezoito anos da sua vida. A geada começara no fim do outono, e com o passar dos anos, ele pôde notar como o clima era mais frio ao noroeste, ou talvez aquilo era apenas uma remarca vazia depois de tantos anos fora. Toda a natureza mergulhava em hibernação até a estação da flor, onde ela renasceria, mas àquela altura, tudo tornava-se cinzento e sem vida.

Eram apenas elas, Nicholas pensou com remorso, as únicas que independente de tudo e de todos, pertenceriam sempre a sua família. Sua bondosa mãe Elena Berbatov e a eterna infanta Nália Crawford.

A morte parecia ser um fim penoso, contudo naquela altura, Lucky Berbatov acreditava que elas apenas foram poupadas de uma vida de desilusões e tristeza a qual o resto da família tivera de arcar.

Lucky continuou a encarar as lápides, com a secura na garganta.

Hesitante, ele se aproximou com o passo menos pesado que gostaria, com cautela e depois ajoelhou-se sobre seus calcanhares.

Eu realmente espero que a morte seja uma imensa e total escuridão como eu quero acreditar que é, ele pensou. Do contrário, eu me arrependeria de cada um de meus suspiros caso você tenha visto tudo que fiz na minha vida, mãe.

Então, Lucky manteve-se contemplativo e silencioso durante um longo tempo.

– Eu imaginei que estaria aqui – mais tarde, a voz surgiu de fundo. Mas, ela não surpreendeu Nicholas e nem tomou sua atenção. Ele manteve os olhos fixos nas lápides, escutando atentamente os passos se aproximando sobre o barro de folhas molhadas.

– Você tem cuidado bem daqui. O lugar está bem tratado.

– Elas mereciam mais que isso. Mas, tento fazer o meu melhor.

Então, o silêncio caiu sobre os irmãos Crawford, não pela falta de assunto entre os dois, mas por um combinado – mesmo que sem palavras – de respeito e paz. Ambos sabiam que tinham falhado com Elena, sua mãe, diante tantas exigências feitas por Yavor Crawford, ela somente desejou até seu último suspiro que seus filhos parassem de brigar. E com uma certa hipocrisia deles, esta promessa fora descumprida com a chegada de outra mulher em suas vidas.

– Creio que, independentemente de onde Elena estiver, ela ficaria feliz em vê-lo de volta, Nicholas.

Lucky, então, se pôs sobre dois pés. Aspirando fundo o ar frio.

– Fingirá que não nos odiamos durante quase seis anos Jared Crawford? – sua voz saiu seca e rouca.

– Seis anos é um longo tempo, irmão. – Jared lhe respondeu ainda fitando fixamente as lápides. Logo seu olhar desviou-se para o seu irmão mais novo. – E eu atravessei por muitas coisas desde a morte de Yavor. Meu ódio por você foi menos pior de todas elas. Acho que está na hora de crescermos e admitirmos que em toda esta história, nós fomos as vítimas e arcamos com todas as consequências.

– E este é seu argumento? Que nós fomos vítimas? – Lucky o retorquiu com acidez, virando-se cara a cara com seu irmão. – Você lançou uma recompensa pelo noroeste inteiro pela minha cabeça, somente para trazer-me aqui e obrigar-me a lembrar deste maldito passado que para sempre nos perseguirá?

– Talvez meus métodos não foram os mais pacíficos. Contudo, queria me certificar de que você ainda lembrava-se de quem foi. Eu sabia que depois de nossa primeira conversa desde sua volta, você se recusaria a ficar e fugiria novamente.

Ceres - Agora o Inimigo é Outro [LIVRO 2 - COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora