Capítulo Dezoito

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Capítulo Dezoito

No vai e vem dos trotes das mulas, Emily Winston agarrava-se o mais forte que ela podia nas rédeas da áspera corda de sua mula, que roçavam nas mãos gélidas e ressecadas devido ao ar seco que pairava nas terras nortenhas ocidentais, contudo os movimentos da subida eram bruscos e improváveis, por isso, ela não se atrevia largar as rédeas nem por um segundo sequer, suas experiências de cair de um cavalo eram memoráveis e aterrorizantes. O que lhe restava era agradecer mentalmente a luz do luar acima de suas cabeças, a lua cheia era a única fonte de luz em meio de tanta escuridão, assim como Emily era a única mulher entre os três homens montados em suas mulas.

Damyan e Boris foram os homens elegidos por Jared Crawford como os mais qualificados para subir o Vale de Trinton. Lhes guiavam, entretanto não pareciam ter vindo de bom grado, fora um longo tempo de conversa e persistência de Jared para ambos aceitarem a viagem da madrugada que era incerta e perigosa. Todavia se tratavam de sujeitos receptivos, Damyan lhes dera os cuidados básicos para a subida: não entrar em pânico quando o ar não lhes favorecer, ficariam com a fadiga mais rápido que o comum, nunca apertar demais a mula, isso era algo que elas detestavam, aproveitar a luz da lua, um archote poderia cegá-los pela densa escuridão, os alimentos mais básicos eles poderiam encontrar no segundo acampamento da ALDA, que ficava metros acima, ali descansariam algumas horas antes de partir para a verdadeira caminhada.

Damyan estava com o pé nos quarenta, espadaúdo e musculoso, tinha longos cabelos escuros e traços angulosos acompanhado de um nariz fino. Era um arqueiro assim como Boris, um homem de poucos cabelos, roliço, de cara dócil com olhos cinzentos e pele parda.

Juntos, eles atravessavam uma densa floresta de pinheiros, mas além das pontudas árvores em formas de cones escuros, Emily podia ver uma das montanhas, era como uma muralha negra em meio ao céu, sentia o início da inclinação do solo. As árvores foram aproximando-se criando um túnel negro e um caminho estreito, fazendo com que eles seguissem em fila única, bem incomoda para um claustrofóbico. A subida era até o momento monótona e silenciosa, mas as pernas das mulas eram firmes e infatigáveis.

– Faremos a primeira parada em pouco tempo – Damyan avisou, com insistência. – Se trata de um pequeno vilarejo da ALDA. Poderão comprar comida.

A única coisa que Emily desejava era uma bebida, um vinho quente, talvez aquilo a despertaria. Ela ainda sentia o cansaço da droga em seu corpo, ansiava muito por uma cama quente, mas duas coisas lhe levaram a subir naquele vale no negrume da noite:

Sua preocupação com o príncipe de Wanderwell, por algum motivo que Emily desconhecia, ela tinha um afeto por ele. Ele havia sobrevivido ao dramático controle de mente e corpo de Drazhan e Sabrina, uma reencarnação de seu antepassado Joseph Borislav. Assassinado sua própria mãe. E, ainda tentava se manter são, em nome de seu amor pela princesa do norte, Amélia. Havia prova de amor maior que essa? Emily desacreditava. Amor, era difícil de acreditar nesse sentimento depois de ter sido abandonada ainda grávida pelo conde do rei do norte e sofrer um outro trauma o qual deixou cicatrizes profundas antes de abandonar o Clã das Bruxas.

Mas então, a vida passa a perna outra vez no príncipe e todos entendem que a charada da feiticeira nunca fora para Thor, e sim para o ladrão descarado que esteve todo tempo enganando a todos, aquele que Amélia tinha sentimentos também, Lucky. Emily nunca acreditou que Amélia seria capaz de amar alguém como Lucky, talvez nem ela acreditasse. Thor estava silencioso, ele não falava muito e por vezes tinha seu olhar perdido, mas Emily sabia que ele ficaria bem, ele e Mia estavam destinados a ficarem juntos, pensou.

Ceres e Joseph. Amélia e Thor.

Estavam destinados. Aquilo não havia acontecido por um acaso. Ainda assim, era difícil vê-lo guardar sua dor e subir aquele vale, depois de tudo que enfrentou. Precisava de um tempo para pensar, por isso sentia que devia estar ali, foi com ela que Thor se abriu sobre suas dificuldades de superar o trauma e seria ela que estaria ali caso ele precisasse outra vez.

Ceres - Agora o Inimigo é Outro [LIVRO 2 - COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora