Ceres - Agora o Inimigo é Outro [LIVRO 2 - COMPLETO]

Capítulo Trinta e Três

Capítulo Trinta e Três

Jared Crawford mantinha seus olhos cravados num ponto fixo, ele observava as pequenas ondas que se quebravam no litoral da praia rochosa nortista, além do Vale de Trinton, mas sua visão foi dificultada quando uma nevasca voltou a surgir na paisagem cinzenta. O vento soprava como chicotadas violentas vindo do mar de maré alta e o frio era rigoroso. Jared não acreditava que estaria ali em três dias subindo e descendo o vale, mas precisou fazer Dani acreditar nisso, pois não queria que ela se arriscasse vindo nessa viagem incerta. Por isso ele seguiu para o norte do continente, onde existia uma única brecha entre as montanhas para o mar, e ali ele esperou sua embarcação chegar, sem nem mesmo ter a certeza de que eles viriam, pois nunca recebeu uma resposta depois que enviou um falcão mensageiro.

Jared estava com frio, entretanto sua ansiedade já percorroía por sua pele, deixando a friagem com menos importância.

O barco que viera tinha acabado de ancorar, e após descer, ele esperava no cais à beira da praia por seu chamado que parecia demorar uma eternidade. Quando enfim um homem, que ele já tinha avistado de longe, se aproximou e o cumprimentou:

– Jared Crawrford, já fazia um bom tempo. Chamo-me Kaleb. – O homem de sotaque forte lhe estendeu a mão e mostrou um sorriso charmoso, tinha cabelos longos e ondulados, uma pele parda, destacando em seu rosto suas grossas sobrancelhas levemente caídas e os olhos cinzentos, junto do nariz largo. Jared tinha uma vaga lembrança de tê-lo visto da última vez que esteve ali, lhe aparentou ser um homem com demasiada confiança.

Ele vestia a mesma roupa dos homens que vieram ao seu encontro, um casaco branco e cinza que se camuflava na neve. Isso deixava Jared ainda mais separado daqueles que ele queria se juntar, ele vestia negro, calça de couro preto, blusa de lã preta, manta de linha preta, ele se destacava no gelo e no cinza.

– Apreciou a viagem, senhor Crawford?

Jared se perguntou o que havia para ser apreciado, sobretudo por seus companheiros de viagem que não fizeram uma atmosfera nem um pouco agradável, pelo contrário, apenas fizeram Jared temer seu destino.

– Sim, seus companheiros foram receptivos.

– Eu também não teria entusiasmo, fico entediado com essa imensidão cinza que vocês chamam de mar. – Jared sabia pelo que já tinha lido que o mar de Falésia era vermelho, e suas cores poderiam levemente variar de acordo com a estação. O mar do Norte era azulado, mas durante os invernos sua cor tornava-se quase cinza, como o céu. Ele compreendia seu tédio.

– Já estamos reunidos, está pronto para seu julgamento?

Jared demorou a notar o humor, então forçou seu riso.

Ele assentiu, apanhou os braços de sua carroça e seguiu Kaleb pelo vilarejo. Se tratava de uma comunidade menor do que a ALDA, mas bem organizada. Todas as casas medianas eram feitas de uma madeira escura encontrada nas montanhas do Norte, as mesmas que usavam na ALDA, pois eram conhecidas por serem resistentes, mas ali todas as propriedades eram idênticas, ninguém parecia ter demais, nem de menos. Não havia nenhum tipo de classe social. Todos tinham os mesmos direitos e o mesmo tratamento. A única coisa que se contava como propriedade pessoal eram as casas e as armas. Jared apreciava aquele modo de vida. Entretanto parecia ser mais fácil de levar esse modo de vida numa comunidade com menos de duzentos moradores.

Kaleb lhe guiou pelos caminhos improvisados de terra até alcançarem o que parecia ser o centro do vilarejo. Diversos olhares curiosos, principalmente aqueles das poucas crianças que provavelmente não estavam acostumadas com estranhos, pousavam sobre ele. Jared gostava de observar os traços físicos daqueles que vieram do continente nórdico que já tinham se misturado com traços locais. Ele nunca soube se os boatos da origem daquele povoado eram verdadeiras, e esperava não demorar muito a descobrir.