Capítulo Dez

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Capítulo Dez

– Emily! – Amélia gritava desesperada tentando recuperar o fôlego que lhe faltava no pulmão, o céu antes purpura já havia sido revestido em negro, a friagem chegara junto da noite e estar sozinha novamente na floresta era caliginoso. Seu cavalo escapara e tudo que lhe restara fora seu arco preso nas costas, algumas setas e ferimentos. Mia tentava estancar o rastro de sangue que escorria pelo braço devido ao tombo do cavalo. Tudo que lhe passava pela mente era não pensar o pior que pudera acontecer com Emily. Ela engoliu em seco fechando os olhos e tentando não entrar em desespero como fizera à noite que fugira de Nicolas na floresta, sabia que aquilo não lhe trazia boas lembranças e por este motivo ela reforçava a repetir em sua mente que não perderia seu controle. Vendo o preto de sua mente, Amélia inspirou e expirou sentindo o vento bater contra seu corpo.

Um outro ruído surgiu e ela abriu seus olhos encontrando o breu da floresta, ela atentou seus ouvidos assim como seus olhos e preparou uma seta em suas mãos, ela mataria qualquer coisa que cruzasse a sua frente agora. Seus olhos semicerrados fitaram um ponto quase que brilhante no negrume das árvores, um suspiro percorreu de seus lábios e devido ao frio, uma fumaça esbranquiçada escapou de sua boca.

Diante seus olhos uma raposa surgiu entre as longas árvores secas.

Ela franziu o cenho encarando a pelagem cor-de-fogo intensa no meio da noite, e como num passe de mágica, Mia sentiu viajar no tempo quando um flash vindo da sua memória cegou sua mente.

Uma lembrança dos seus quatorze anos, Mia tinha visto uma raposa como aquela, cor-de-fogo, num dia qualquer de um rigoroso inverno no reino do Norte. Cansada do mesmo cenário do interior daquelas paredes, ela arriscou-se explorar as redondezas do reino. A grande floresta que encobria o campo de treinamento tinha somente uma muralha que separava a verdadeira mata aberta do castelo, e fora ali, na mata coberta pela neve que ela a viu. Em meio tanta banalidade fora como uma hipnose, a princesa a seguiu em meio a neve até perder de vista suas cores vibrantes em meio um branco sem fim. 

Ninguém nunca acreditou em suas palavras, "como um animal selvagem passearia nas redondezas do castelo e ninguém o veria?". Depois de ser tratada como uma criança de imaginação fértil, Amélia questionou-se se aquilo tinha sido mesmo real, afinal ela nunca mais voltara a vê-la nem somente uma vez.

Entretanto, nesse momento, havia uma diante dela. Ela surgira em meio a mata escura e aquela era real, mesmo que se comportasse como uma perfeita estatua parada entre as árvores observando minuciosamente a garota que lhe apontava uma flecha.

Abalada com a lembrança que revivera de forma realística, ela abaixou sua arma antes mesmo de pensar se aquilo teria sido o certo ou não. A raposa de porte médio tinha um focinho comprido e uma longa calda peluda, suas pupilas ovais tinham um brilho intenso com seus olhos claros e eles encaravam Amélia.

– Você está me seguindo? – ela perguntou mesmo que se sentisse uma idiota por falar com um animal.

A raposa mexeu as orelhas eretas.

Amélia ainda ofegante endireitou as costas se ponto ereta novamente e olhou para o animal, seu olhar correu em volta nada havia além das árvores. A raposa não desviou o olhar dela, a encarava com máxima atenção e Amélia não soube como ler sua postura. Estaria ela lhe estudando para saber o momento certo de atacar? Ou apenas era um animal curioso que se sentira ameaçado pelos seus gritos?

– Se está procurando comida, eu não tenho. Então sugiro que vá embora. Vamos, xô...

A raposa abaixou e levantou a cabeça, fazendo com que Amélia enrugasse a testa, notando sua dispersão, Mia balançou a cabeça espantando seus pensamentos e colocou o arco nas costas.

Ceres - Agora o Inimigo é Outro [LIVRO 2 - COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora