Alguns dias já haviam se passado desde que Micaela voltou para sua casa e sua vida normal. Thomas lhe deu uma semana de folga por conta dos dias que trabalhou no festival. Desde sua volta pra casa, Micaela se sentia estranha, era como se tivesse um vazio no peito. A sensação era de que havia esquecido algo para trás. Sabe quando você sai e fica com aquela sensaçãozinha de que esqueceu algo em casa, mas não consegue lembrar o que esqueceu e aquilo fica te atormentando o tempo todo. Era mais ou menos assim que a garota se sentia, com a diferença que ela sabia muito bem o que ficou para trás. O que aumentava ainda mais o seu tormento.
Micaela fez uma escolha ou dizer adeus a Nathan e não se arrependia. Ela já tinha visto aquele filme e o final não foi nada feliz. Era como se o seu passado voltasse a lhe assombrar. Às vezes não acreditava que se deixou cometer o mesmo erro duas vezes. Mas dessa vez resolveu acabar com tudo antes que acabasse com ela. Preferia guardar na memória os momentos bons de um romance que talvez tivesse futuro, do que reviver todo o drama de seu passado. Seu som estava ligado no volume máximo e a voz do Tiago Iorc ecoava pelo seu quarto descrevendo perfeitamente o que sentia.
"Pouco importa se eu vou sofrer, sem saber aonde foi. Sim, eu vou, só eu sei o quanto dói. Mesmo se tememos ir, vezes temos que seguir pra longe. Longe do que o escuro em nós esconde"
Ela estava sofrendo, era um fato incontestável, mas iria passar. Nenhuma dor dura pra sempre, não é assim que todos costumam dizer? E era nisso que Mic acreditava. Foram apenas alguns dias ao lado do moreno, não era possível que tinha se apaixonado tão rápido.
A garota encarava o teto de seu quarto enquanto seus pensamentos vagavam de volta para a praia. Era isso, só podia ser. O problema era a praia, concluiu na sua mente. Todo aquele clima de praia, de felicidade, a calmaria que as ondas do mar transmitem, as belas paisagens, o belo mar azul. Só podia ser isso que fazia a garota se apaixonar tão facilmente. Ou melhor, só podia ser o sol, o sol quente torrou toda sua massa cinzenta e derreteu a camada de gelo que havia construído em volta do seu coração. Romances de verão, bufou. Poderia ser mais clichê?
Seuspensamentos foram interrompidos pelo seu celular que começou a tocarincansavelmente. O som se misturou com a música que tocava nos alto-falantes dasua TV, e que a garota nem estava mais prestando atenção. Ela cobriu o rostocom a coberta, sentindo sua cabeça latejar pelo excesso de pensamentos e pelamistura de sons. Logo o seu celular parou de tocar. Não queria falar comninguém e nem se preocupou de ver quem havia ligado. O aparelho não ousou tocarde novo, então ela considerou que não era importante. Se fosse teriam ligado denovo.
Já estava quase pegando no sono quando sua mãe entrou no quarto, lhe assustando:
- Filha, tá acordada?
- Uhum.
- Telefone pra você. - falou estendendo o telefone sem fio em sua direção. - Tentaram ligar no seu celular, mas tá caindo na caixa-postal.
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De frente para o mar
Hayran KurguUma cidade do litoral de São Paulo resolve promover um Festival de música. Três dias de festa na praia com shows de diversos artistas locais, e para o encerramento show com a banda Fly. Micaela, estagiária de uma agência de publicidade recebe a mi...