Capítulo 14

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Babi já não se impressionava com o que tinha visto. Ela levou a varinha para casa e torceu para que ninguém visse, caso contrário teria que dar um milhão de explicações. A jovem se sentou no sofá e ligou a televisão, mas sua mente estava longe. Pensava em Léo, no quanto ele tinha se machucado por causa de Tomás e em como estava ansiosa para colocar um fim naquele problema.

Quando sentia raiva era como se Babi sentisse os objetos se movendo ao seu redor, mesmo sem desejar que nada daquilo acontecesse. Às vezes, Babi sentia medo de que fossem espíritos – até se acostumar e perceber que ela era a responsável. Começou treinando aos poucos. Pesquisou na internet como desenvolver sua habilidade e treinou com objetos pequenos e leves, como o psi wheel, pequenos quadrados de papel dobrados e sustentados por uma agulha, permitindo a sua movimentação. Babi ficava por horas sentada com as pernas cruzadas e mãos ao redor do objeto, visualizando o papel girar. Demorou para que a menina conseguisse realizar um simples movimento, afinal, sua telecinese quase nunca se manifestava quando estava calma. A intenção era poder controlá-la, independente da situação.

Após sua mente ficar exausta de tanto praticar, ela ligou para Jess:

– Jess, a que horas nos encontraremos com Tomás?

– Quando a lua estiver brilhando no céu. O livro diz que as noites de lua cheia são ideais para a realização deste ritual, momento em que as energias ficam mais fortes.

Tirou o dia para relaxar. Antes de planejar como faria para atrair a atenção de Tomás, Babi deixou pronto os trabalhos do colégio, tudo o que não precisava naquela semana era de uma ligação dos professores para sua insuportável mãe. Assim que Belinda ligasse A com B, descobriria o que Babi e os amigos estavam fazendo naqueles dias juntos.

Os cabelos vermelhos de Babi pareciam mais brilhantes naquele dia, como se fossem fogo. Naquela tarde, Babi escreveu sobre o dia em que ajudou Jess, como a porta tinha destrancado e como sentia que a amiga precisava dela. Desde que começaram a se envolver com a magia, era como se ela e Jess estivessem mais próximas do que nunca. Tudo ao redor de Babi estava se transformando, até mesmo os sentimentos que nutria por Léo e por Manu. Teve uma época de sua vida que Babi não aguentava mais os colegas, pois da turma era a única que estava sempre mudando e os amigos continuavam os mesmos. O que ela não entendia era que a raiva que sentia era de si mesma e não deles. Não importava o quanto ela mudasse, nunca estaria boa o suficiente para Belinda. Parecia indiferente aos olhos de Jonathan, o pai que estava sempre deixando suas clientes mais bonitas, jovens e mulheres da meia-idade que nunca estavam satisfeitas com a própria aparência.

Babi acordou em um salto. Adormecera e nem se dera conta. As horas passaram voando e precisava enfrentar o seu medo. Jess guiaria o ritual, mas todos deveriam aprender para que nada de errado acontecesse e cada um realizasse sua parte. As palavras de Sylvanus giravam na cabeça da menina, bruxaria não era brincadeira e tinha suas consequências, por isso precisavam levar a prática a sério.

Tomou um banho com sal grosso e uma erva de cheiro forte que encontrou no jardim de casa, para limpar as energias negativas e proteção. Babi se sentiu mais leve e esperançosa. Do lado de fora da casa, o vento dançava docemente, balançando as folhas das árvores e plantas, colocando todos em seu ritmo. Era possível escutá-lo e bastava abrir as janelas para sentir a corrente de ar acariciando a pele.

A garota pegou a varinha e foi até o pátio do colégio, onde tinham combinado de se encontrar. Naquele horário o local estava desértico, nenhum aluno ou funcionário ficava lá. As pessoas tinham receio de visitar a escola durante a noite, alguns diziam que o lugar era mal assombrado, outros tinham medo da estátua de São Cipriano e podiam jurar que ela havia se movido. Enquanto no hospital, a imagem do santo era angelical e estava relacionada à cura e ao bem-estar, no colégio ela era o reflexo de alguém que buscava o conhecimento, não importava se para isso teria que comungar com o seu lado mais obscuro. Babi vestia uma roupa toda preta e escondia os cabelos embaixo de um capuz. Ela foi a primeira a chegar ao lugar.

O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora