Capítulo 36

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Manu adormeceu no chão gelado. Quando ele acordou, viu os amigos dormindo nos cantos e a velha apagada no centro da sala. Manu se aproximou da mulher. Precisava saber por que ela tinha feito tudo aquilo. Um toque nela e se ele se concentrasse o suficiente nas energias dela, descobriria a verdade.

– Por que eu? – sussurrou Manu. Ele estava sentado de pernas cruzadas ao lado do corpo da velha e colocou a mão na cabeça dela.

O rapaz estava concentrado quando algumas imagens passaram na cabeça dele. Não era a primeira vez que ele tinha se encontrado com Anna. Manu se lembrou da velha cega que tinha visto quando foram na loja de Sylvanus. Anna estava sempre mudando sua aparência, era como se ela não tivesse uma identidade própria.

– Manu, me solta, por favor – ele viu a mãe deitada no chão e amarrada. Não conseguia acreditar no que os olhos viam. Já não sabia o que real ou ilusão.

– Mãe?

– Filho, se você não me soltar a Anna vai me matar. Rápido...

Manu parecia em transe. Ele começou a desamarrar as cordas que prendiam Anna no chão.

– O que você está fazendo? – Léo gritou com tanta força, quando viu Manu soltando Anna, que Jess e Babi acordaram.

– Eu estou soltando a minha mãe.

Anna se levantou de uma só vez e empurrou Manu.

– Obrigado, criança. Prometo te recompensar, você vai ser o último a morrer – disse Anna, revelando sua aparência jovem novamente.

Jess correu para levantar Manu. Precisavam se defender, antes que fosse tarde demais.

– Que merda você fez, Manu... – Babi sentia vontade de brigar com o amigo. Não acreditava que ele era ingênuo o suficiente para cair no truque de Anna.

– Pessoas de bom coração sempre acreditam em tudo o que lhe contam. É por isso que eu não deixo o meu coração amolecer. Minha melhor amiga costumava me dizer que seríamos amigas para sempre, não importava onde estivéssemos. Claro que era uma mentira. Na época eu não sabia...

Jess sabia que Anna estava falando de Hortênsia. Ela se lembrava de cada palavra que ouviu da avó em seu último sonho.

– E vocês sabem o que ela fez? Ela me trocou pela família dela. Disse que a família era mais importante do que a magia e que já não tinha mais vontade de seguir o caminho das bruxas. A verdadeira magia, para ela, era o amor. Todo resto era uma ilusão.

– Do que está falando? – perguntou Jess. Hortênsia não havia contado a história completa.

– Sua avó passou anos ao meu lado me fazendo acreditar que a bruxaria e a amizade dela eram a salvação que eu precisava. E quando eu precisei, ela virou as costas. Hortênsia desistiu da magia por causa da família. A única coisa pior do que morrer era não ter nenhum poder. Sua avó fez a escolha dela e eu fiz a minha. Praticar o bem já estava me cansando. A magia da natureza era divertida no começo, depois se tornou entediante. Eu precisava de mais, muito mais. Quando eu passei a praticar magia negra precisei sacrificar aquilo que eu mais amava. Eu amava a sua avó, ela era a minha melhor amiga.

– Foi você... – Jess caiu de joelhos no chão, se lembrando de como após a morte da avó, a família começou a ficar desequilibrada.

– Criança, um dia você iria me entender. Nós duas não somos tão diferentes. Ambas perdemos pessoas importantes. É um caminho sem volta. Você nunca mais será a mesma garotinha inocente. Agora, nada disso importa. Eu vou matar você, como matei sua avó e seu pai. E depois vou matar os seus amigos, um a um vocês vão cair.

O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora