Capítulo 9

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Manu não acreditou quando viu Léo naquele estado. Tinha tantas perguntas para fazer, mas se controlou, sabendo que Léo era o tipo de pessoa que só falava o que sentia quando estava com vontade e que pressioná-lo só o faria se fechar mais ainda.

– Posso tomar um banho? – pediu Léo.

– Claro. O banheiro fica ali.

– Vou precisar de uma toalha e de roupa também.

Apesar de serem melhores amigos, Manu e Léo não ficavam na casa um do outro desde que eram novos. Antes do ensino médio, os dois rapazes passavam a madrugada inteira jogando videogame e assistindo filmes. Com a adolescência, enquanto Manu ainda se interessava por jogos e tecnologia, Léo parecia um daqueles modelos que chamava a atenção por onde passava e se preocupava só com esportes e com a aparência.

– Já volto, amor. Meu amigo está aqui e não parece bem. Mais tarde nós conversamos, pode ser? – Manu mandou para Anna.

– Vai me abandonar? Tudo bem. Sabia que uma hora você enjoaria de mim.

– Eu nunca vou enjoar de você. Eu amo você!

– Também te amo. Até mais.

Aquele relacionamento virtual de Manu estava sugando todas suas energias. Ele amava conversar com Anna, porém queria tocá-la ao vivo e fazê-la a garota mais feliz do mundo. Manu já não jogava tanto quanto antigamente e sempre que se aventurava no jogo, Anna estava lá. Era como se os dois não suportassem ficar longe, um minuto que fosse. Porém, Manu estava preocupado com Léo. Sabia que o amigo tinha se metido em problemas, mais uma vez.

Quando Léo saiu do banheiro, ele parecia melhor. Os dois amigos foram para a cozinha e Manu preparou um sanduíche para Léo, como fazia nos velhos tempos quando o amigo dormia em sua casa.

– Então, vai me contar o que está acontecendo? – perguntou Manu, dividido entre a curiosidade e a preocupação.

– Nada de mais. Eu só estava correndo pela região e pensei em vir aqui.

– Corta essa! – disse Manu, enquanto entregava o sanduíche para Léo.

Manu mordeu o lanche e ficou observando o amigo comer como se estivesse morrendo de fome. Não levou um minuto para Léo devorar a comida.

– Posso comer mais um?

– À vontade.

Léo preparou o lanche para si mesmo, enquanto Manu ainda estava na metade.

– Estou esperando... – disse Manu, sério.

– O que? – Léo se fez de desentendido. – Quer mais um também?

– Não. Quero que me conte o que aconteceu. Você estava todo sujo, suado e fedendo a fumaça. Porra, Léo. O que você estava aprontando?

Então, Léo contou ao amigo que estava voltando a pé para casa quando foi sequestrado. Manu fez uma cara de espanto quando ouviu, aquilo parecia a cena de um jogo de ação. Léo levantou a camiseta e mostrou o hematoma no estômago para provar que estava falando a verdade.

– E como você conseguiu escapar?

– Nem eu sei explicar direito. O meu corpo inteiro estava ardendo como se tivessem jogado álcool em mim e acendido um fósforo, mas quando eu finalmente consegui enxergar, percebi que a corda estava queimada e minhas mãos estavam soltas. Eu saí do quarto em que me colocaram e corri o máximo que podia. Vi a casa abandonada e os homens pegando fogo. Desculpa ter vindo aqui, mas foi o primeiro lugar que eu pensei. Meus pais não poderiam me ver naquele estado.

O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora