Quando Manu abriu os olhos, ele e os amigos estavam amarrados ao redor da estátua de São Cipriano no pátio do colégio. Ele não tinha ideia de como havia parado ali. A única coisa que se lembrava era de Jess o empurrando e depois tudo se apagou.
– Acordem, minhas crianças – Jess parecia se divertir. Ela passou a língua pelos lábios. – A hora está chegando. Vocês viram como a lua está bonita hoje?
"O que está acontecendo?", pensou Manu. A boca dele e a dos amigos estavam amordaçadas. Seja lá o que Jess estava aprontando, ela estava levando a sério aquela história.
– Vocês devem estar se perguntando o que estão fazendo aqui. Estão vendo esta estátua aqui? – Jess alisou a imagem. – São Cipriano. Ele costumava ser minha inspiração. Muito do que eu sei se deve aos livros dele. Esqueça aquela bruxaria que vocês estavam aprendendo. Tudo aquilo era amadorismo perto da magia negra de São Cipriano.
Manu olhou para Anna e percebeu que ela ainda estava fraca. O tempo inteiro ele desejou que ela pudesse melhorar. Eles sairiam vivos dali e, então, dariam um jeito de ajudar Jess. Tudo ficaria bem novamente. Ninguém precisava se machucar. Manu queria dizer para Jess que a perdoava, não importava o que estivesse passando agora pela cabeça dela.
– Enquanto vocês brincavam de bruxaria, não perceberam que tinha uma bruxa de verdade ao lado de vocês. É incrível como vocês são fáceis de enganar e não conseguem enxergar o que estava em suas frentes o tempo todo. Chega de conversa! – bufou Jess.
Jess pegou o punhal e traçou uma estrela de cinco pontas no ar. Ela ficou parada por uns instantes e seus olhos ficaram escuros de uma maneira anormal, sem nenhum brilho.
– Eu queria ter paciência para esperar os seus poderes se desenvolverem mais, mas vocês são chatos demais. Não sei como se aguentam. Um drama atrás do outro. Me senti em uma novela mexicana de baixo orçamento convivendo com vocês. Tarde demais. Não foi bom conhecê-los! – Jess se sentou no meio do círculo e cruzou as pernas.
Léo olhou para Manu. Um olhar dizia mais do que mil palavras. Ele sentiu o medo do amigo e ao mesmo tempo entendeu que Léo tentava dizer alguma coisa. Babi tentou gritar, mas só era possível ouvir os seus urros abafados, como os de um animal sufocando.
– Precisamos manter Anna acordada e usar a energia do círculo para nos defender – Babi se esforçou para fazer sua mensagem chegar até a mente de Léo e Manu. – Jess está fora de controle. Se não fizermos nada, nós vamos morrer.
Embora Babi conseguisse se comunicar com os amigos, eles se esforçaram em vão para responder, não haviam praticado o suficiente. Estavam tão nervosos que não daria tempo de elaborar uma estratégia. Precisavam se livrar de vez do domínio de Jess.
– Léo, você sabe o que precisa fazer – ele assentiu com a cabeça. – Eu amo você. Agora, por favor! – pediu Babi.
Dentro do círculo, Jess meditava de olhos fechados. Até que ela começou a repetir sem parar algumas palavras em latim. Manu não sabia a língua o suficiente, porém entendeu que ela dizia algo relacionado à morte, ao círculo e ao poder.
– Agora é a hora. Vamos nos conectar enquanto ela delira – avisou Babi.
Léo se concentrou para libertar as mãos dos amigos. Com muito esforço, ele conseguiu. O rapaz observou Jess e ela continuava recitando as palavras. Babi mandou um pensamento para Léo e Manu. Precisavam dar as mãos e se concentrar. Os deuses e os elementos o ajudariam.
Os três jovens deram as mãos e a energia percorreu por eles. Manu colocou uma das mãos nas de Anna e a namorada tremeu. Anna abriu os grandes olhos verdes e trocou olhares com os amigos.
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O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1
FantasíaLivro 1 da série Os Bruxos de São Cipriano Os adolescentes Babi, Jess, Léo e Manu estão cansados de viver em São Cipriano, uma cidade minúscula, onde as coisas nunca acontecem. As férias acabaram e mais um ano letivo está prestes a começar. Manu pa...