Capítulo 22

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Jess mentiria se dissesse que não pensava mais em Tomás. O ex-namorado a visitava em seus sonhos e ela acordava desesperada. Ele dizia coisas sem sentido e pedia perdão pelo sofrimento que havia lhe causado. Jess o olhou e perguntou: Por que você se matou? e Tomás dava de ombros. Ele não conseguia se lembrar de quase nada daquela noite, como se não fosse ele mesmo. Os últimos meses tinham sido confusos demais.

No pátio do colégio, Jess se concentrou no ritual. Agora não era a hora certa para pensar em Tomás. Desde que ela e Anna se aproximaram, Jess fazia o máximo que podia para não relembrar o passado; Não queria se recordar da perda de Tomás, de Otávio, seu pai e de sua avó, Hortênsia. Não havia motivos para se entregar à tristeza, Jess tentava controlar os pensamentos e viver somente o presente, sem se preocupar com o futuro e sem fazer planos, como os amigos faziam. Ela queria viver um dia de cada vez. Sua única certeza era a de que se dedicaria à bruxaria, e uma vez dentro do caminho, Jess não se sentiria mais perdida e não olharia para trás, como Anna a havia aconselhado.

Manu varreu o lugar onde realizariam o ritual, já havia se acostumado com a vassoura. A lembrança de Tomás se matando e os sonhos em que dizia que estava fora de controle faziam Jess pensar em que entidade o estava controlando. Se eles tivessem feito o ritual corretamente na primeira vez, desejado do fundo de seus corações que Tomás se libertasse e encontrasse o seu caminho, tudo teria dado certo. Não sentia raiva dos amigos, a única pessoa que Jess sentia vontade de culpar era ela mesma, afinal, não fora ela que tinha dado a ideia do ritual de exorcismo, encontrado no livro das sombras de Hortênsia?

– Peço para o elemento Terra neutralizar as energias deste lugar – dizia Manu se movimentando de um lado para o outro com a vassoura, enquanto os amigos o observavam e não ousavam quebrar a concentração.

As palavras de Sylvanus se repetiam na cabeça dos jovens. O ritual de iniciação deveria ser levado a sério, era um caminho sem volta. Eles já tinham afinidade com a magia e seus elementos, mas assim que se iniciassem na bruxaria, se tornariam oficialmente bruxos, tendo como testemunha os deuses, a natureza e o universo.

Depois de limpar o local, Babi abriu o círculo com o athame. Tudo o que estivesse fora do ponto traçado não poderia interferir no que acontecia do lado de dentro.

– Peço para o elemento Ar a proteção. Que só o bem tenha força dentro deste círculo e nada e ninguém que estejam do lado de fora possa nos afetar – Babi passou primeiro por Manu e foi andando no sentido horário. A jovem repetiu o movimento três vezes, como exigia o ritual.

Jess não sabia como existiam pessoas que não acreditavam na magia. Era possível sentir o efeito de abertura do círculo no mesmo instante, como se a atmosfera dentro dele fosse diferente. Uma sensação de conforto, energia e paz. Se os outros vissem e sentissem o mesmo, não duvidariam. Jess foi escolhida como a sacerdotisa do coven pelos amigos, ela havia entrado em contato primeiro com a magia, graças ao livro da avó.

– Peço para o elemento Água a harmonia dentro do círculo. Que sejamos tão unidos e ninguém de fora possa nos separar – Jess segurava o cálice com água e despejava no caldeirão de ferro em frente à Anna.

– Peço para o elemento Fogo a purificação do círculo. Que possamos renascer e queimar toda energia negativa sobre nós – Léo prosseguiu com a abertura do círculo mágico, enquanto girava ao redor dos amigos com a varinha mágica.

– Peço para o elemento Espírito a energização deste círculo. Que possa nos interligar como fontes de energia, em comunhão com a natureza – disse Anna.

Anna estava no centro do círculo com o caldeirão, mexendo uma mistura borbulhante de ervas. Léo, Babi, Jess e Manu estenderam as mãos abertas para frente, emanando suas energias para Anna.

O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora