Capítulo 19

2.6K 337 93
                                    

Babi acordou com uma dor de cabeça insuportável. Ela mal acreditou quando viu no jornal uma notícia sobre a morte de Tomás, embora a repórter não desse muitos detalhes e dizia que a polícia suspeitava de suicídio. Jess não saia de sua cabeça. Ela deveria estar arrasada.

– Bárbara? – gritou Belinda. – Se arruma logo que eu vou te levar ao cemitério.

– Já estou indo, mãe!

Babi olhou para o guarda-roupa e não encontrou nenhuma roupa decente para o enterro de Tomás. Babi nunca foi muito próxima dele, mas devia aquilo a melhor amiga, Jess. A menina virou os olhos e sentiu vontade de gritar quando viu que todas as roupas pareciam exageradas demais para uma ida ao cemitério. A última vez que ela tinha visitado o lugar foi quando o pai de Jess havia morrido. Para ser sincera, ela não gostava nem um pouco de enterros. Não era como se tivesse medo ou algo assim, simplesmente não era fã de pensar na ideia da morte quando ainda tinha tanto para viver.

Quando Babi desceu as escadas, ela viu Belinda com seu vestido roxo, salto alto, cabelos loiros e maquiada como uma atriz. A mãe era linda por fora e podre por dentro, tudo o que Babi nunca gostaria de ser e tinha pavor de ficar parecida, diferente das meninas de sua idade. Belinda era tão fria, fútil e vazia. Era como se nada fosse mais importante que o seu próprio bem-estar e aparência nem que para isso que tivesse que passar em cima de quem encontrasse no seu caminho, e a filha era um alvo fácil para Belinda descontar suas frustrações. Babi não entendia porque Belinda inventou ter uma filha. Sabia que a mãe não queria ter ficado grávida. Ela sempre pedia para Bárbara ter cuidado, quando começasse a se envolver com rapazes.

– Sério? Você vai vestida assim? – Belinda olhou com uma cara de nojo para Babi, que se controlou para não demonstrar como o comentário a magoava profundamente.

– Qual é o problema? – Babi cruzou os braços e levantou as sobrancelhas, tentando se mostrar indiferente. – Se não está gostando, devia me dar dinheiro para comprar roupas. Foi a única combinação que encontrei no meu armário.

– O problema? Nenhum. Só parece que você está vestida para ir a um daqueles encontros de góticos da cidade. Babi, você está parecendo uma bruxa. E não é no bom sentido.

Belinda não tinha problema em criticar a filha, pelo contrário, ela parecia adorar.

– Nossa, mãe, obrigada! Quem é que precisa de um inimigo quando eu tenho uma mãe igual a você. – Uma corrente de ar bateu a porta com força. – Vaca... – sussurrou Babi.

– Eu te escutei, mocinha. Só estou cuidando de você. Você não precisa se fazer de vítima o tempo todo.

Babi deu um sorriso amarelo para a mãe e pensou em como nunca conseguiria agradá-la. Belinda reclamava do modo que a menina se vestia, do cabelo, da maquiagem, de tudo. Era como se ela sentisse prazer em colocá-la para baixo. Babi não via a hora de completar 18 anos para ficar longe daquela mulher. Sairia da cidade e não olharia para trás. Se possível, não visitaria a mãe nem mesmo nas férias.

Belinda dirigiu até o cemitério. Babi e ela não trocaram uma palavra durante o caminho. Era mais fácil conversar com uma estranha do que falar com a própria mãe, pensava Babi. Ela invejava o relacionamento entre Jess e Amanda. Sim, a mãe de Jess estava sempre trabalhando, mas somente para dar o melhor para a filha. Enquanto tudo o que Belinda fazia por Babi era destruir sua autoestima.

– Chegamos, filha – As palavras de Belinda não pareciam naturais, como se ela fosse desprovida de qualquer qualidade materna. – Bárbara, arranje uma carona para casa. Vou encontrar com minhas amigas e não sei até que horas ficarei lá.

– Tchau, mãe.

Babi desceu do carro. Antes de pensar em xingar Belinda mentalmente, Babi viu Jess parada ao lado de Amanda. Ela estava com o rosto inchado, como se não tivesse parado de chorar por um minuto sequer.

O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora