Capítulo 3

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Manu acordou feliz naquela manhã. Ele passou a madrugada toda conversando com Anna. Os dois falaram sobre seus jogos favoritos, programas de televisão e histórias em quadrinho. Manu nunca tinha conversado com alguém tão compatível antes.

Saiu da cama com um sorriso bobo, se olhou no espelho e gostou do que via pela primeira vez. O rapaz não gostava de se observar, mas aquele dia era especial. Não era sempre que Manu esbarrava no amor da sua vida dentro do seu jogo favorito. Mesmo sabendo que lhe causavam desconforto, ele cortou o cabelo e voltou a usar lentes de contato. Tudo aquilo se resumia a Anna, a menina que conquistou o seu coração.

Ele conheceu Anna no bate-papo do jogo. Manu jogava com um orc corpulento e estranho e Anna com uma elfa delicada e poderosa. Os dois combatiam, quando começaram a conversar. Manu interrompeu a batalha e se juntou a Anna em sua jornada. Ali se formou um casal virtual. A bela e a fera juntos – quem poderia imaginar?

No início, Manu e Anna só conversavam no jogo. Até trocarem e-mail, se adicionarem nas redes sociais, passarem o número do telefone. Quem olhasse para Manu, logo notava um adolescente apaixonado. O que para Manu era tão raro quanto encontrar um anel mágico em seu jogo.

Não bastava ter conversado o dia inteiro com Anna, quando chegou a hora de dormir, Manu sonhou com ela. Tinha algo especial em Anna. Ele precisava tê-la.

Quando chegou ao colégio, foi como se a cabeça de Manu ainda estivesse em Anna. Ele estava tão distraído que não percebeu o atraso. Nada mais importava. Para falar a verdade, tudo o que Manu queria era que a aula acabasse, para poder voltar para casa e jogar com sua princesa élfica, Anna.

Era a primeira vez que Manu via Jess desmaiar duas vezes no mesmo dia. Quando era mais novo, Manu se apaixonou por Jess, mas sabendo que ela nunca se interessaria por ele, nunca teve coragem de revelar o seu sentimento. Vê-la tão frágil causava um desconforto nele. Já não era fascinado por Jess como costumava ser, no entanto ainda se preocupava com ela.

Manu e Léo carregaram Jess até a enfermaria. Depois que conversaram com uma senhora de cabelos brancos e explicaram o que aconteceu, Manu retornou à sala de aula. A mulher cuidou de Jess e ligou para Amanda. Depois da morte do pai de Jess, Manu viu como as vidas de Jess e da mãe afundaram, mas ela parecia forte novamente.

De volta à aula, o professor de filosofia falava sobre o mito da alma gêmea, o que fez Manu se lembrar de quando gostava de Jess, mas só mesmo com Anna teve certeza de que era amor. Ele não se preocupava com Jess desde o ano em que ela ficou pela primeira vez com Tomás. Tomás tinha fama do bad boy e era como se Jess não desse a mínima. Quanto mais as pessoas tentavam contar para Jess que Tomás não era uma boa pessoa, mais ela se encantava por ele. Era como se ela estivesse se punindo por tudo de mal que tinha acontecido em sua vida. Secretamente, Manu desejava que Jess encontrasse uma boa pessoa, alguém que a merecesse e a amasse. Não um babaca metido, como Tomás.

Manu queria desesperadamente Anna, era como se ele estivesse obcecado por ela. Manu pensava nela todos os minutos do seu dia. Agora ele entendia como os amigos podiam se afastar dos outros quando se apaixonavam, era como se ele não tivesse mais controle sobre a própria mente. O coração quer o que o coração quer. Manu perdeu a conta de quantas vezes os pais haviam lhe perguntado sobre as namoradas e ele respondia que não tinha. Desta vez, tudo seria diferente. Só não sabia como namoraria à distância.

– Nos fizeram acreditar que somos metades de outra pessoa, mas somos todos inteiros – O professor olhava de aluno para aluno, como se tentasse entrar em suas cabeças.

Babi levantou a mão e a sala inteira olhou para ela.

– Até parece que alguém acredita em alma gêmea em pleno século XXI. Acho patético como as pessoas sempre acham que encontraram o amor de sua vida, terminam o relacionamento e encontram novamente sua cara-metade.

O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora