Dizer, contar e decidir ( especial )

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Confesso, sair do hospital foi mais fácil do que eu pensava. Vesti as minhas roupas e tentei tapar a pequena mancha de sangue que se encontrava por cima do meu joelho. Depois esquivei-me de todas as enfermeiras e médicos e comecei a falar com uma rapariga mais nova do que eu para não desconfiarem de mim e pensarem que estava ali com a minha irmã mais nova. Ela era baixa e magra. Tinha pequenos cabelos ruivos e algumas sardas, na verdade senti-me como que a olhar para o destino ao vê-la.

- Quem és tu? - perguntou-me ela, receosa.

- Não te preocupes. Eu só quero sair do hospital. Finge que me conheces. - digo eu

- O que é que vais fazer lá fora?

- Vou encontrar alguém de quem gosto.

- E tens de fugir?

- Sim. Tenho de a encontrar.

- E tens medo? - perguntou-me ela com doçura

- ...

- Sabes, no orfanato, dizem-nos que não devemos ter medo de gostar das pessoas só porque não tivemos muita sorte em momentos anteriores.

- Tens quantos anos?

- 5. E tu?

- 15.

- Vais mesmo embora assim? - disse ela apontando para a minha perna

- Sim.



Comecei a sorrir quase involuntariamente por começar a saber a sua história, mas eu sabia que ainda tinha de me ir embora.

- Tens a certeza de que é isso que queres? Podes magoar-te muito a sério.
- Ah...

Fiquei atrapalhada com aquela pergunta. Ela apenas quis saber se eu realmente queria fazer isto. Eu sabia que me podia magoar ainda mais, ser assaltada ou pior, por ir à procura dele numa grande cidade. Esta é uma daquelas perguntas que sei que me irá assombrar nos momentos em que eu pensar em recuar.


Já tínhamos chegado à entrada principal e eu preparava-me para sair, mas antes resolvi despedir-me dela.


- Como te chamas? - perguntei-lhe

- O meu nome é Alice Sparks.

- Que bonito nome. - disse-lhe

- Obrigada. Qual é o teu?

- Jade S... - não consegui acabar de dizer pois o meu telemóvel tocou. Era a Clara.

Despedi-me da Alice com um abraço e um suave beijo numa das bochechas.

- Adeus. - disse eu

- Vamos voltar a ver-nos?

- Espero que sim. - disse eu enquanto me afastava dela a caminhar apoiada nas muletas.

Entristeceu-me saber que existem crianças tão novas com tão pouca sorte. Espero um dia puder vê-la de novo.



Peguei no telemóvel e vi que a Clara me tinha mandado uma mensagem:

" Olá Jade.

Estás melhor? Desculpa mas ainda não sei nada do Eduardo.

Beijinhos, Clara. "



Aposto que ela ainda deve estar mais triste do que eu, tenho mesmo de o encontrar.

------------------------------- NO MEIO DA CIDADE -------------------------------------------------------------------------

Já andava a caminhar à quase 2 horas. As minhas pernas já mal conseguiam aguentar e as dores eram muitas. Mesmo assim continuei a andar.

Vi uma rua paralela que tinha muitos bares e resolvi ir dar uma vista de olhos. Talvez o encontrasse.

Entrei em 5 bares e nem sinal dele. Quando estava a atravessar a rua para ir procurar em mais sítios sinto um arrepio. Olhei ligeiramente para trás e vi que estava a ser perseguida, e o pior é que eu não estava em condições de fugir. Avistei um café que ainda estava aberto e entrei. Fiquei sentado nas cadeiras junto ao balcão onde se encontrava um jovem casal. Tentei fazer tempo para que o homem que me perseguia desistisse mas ele continuava ali, sempre a olhar para mim.

- Estás bem? - perguntou-me baixinho a rapariga que estava ao meu lado ( a do jovem casal )

- Não. Estou a ser perseguida. - disse eu sem hesitar

- Ok. Quem é que te persegue?- perguntou-me o marido dela que também nos estava a ouvir

- Aquele homem ao canto.

- Sim, já o vi. - respondeu-me ele

- Se quiseres podes ficar aqui connosco até que ele se vá embora. - disse-me a mulher

- Obrigada por me estarem a ajudar.

- De nada, mas diz-me, o que fazes aqui à noite sozinha? - perguntou-me ela

- Vim à procura de uma pessoa.

- Quem?

- Um rapaz que pensa que é o culpado de eu ter sido atropelada, - disse eu apontando para as feridas - e que eu tenho medo que se esteja a tentar magoar.

Falámos durante mais algumas dezenas de minutos e, depois de termos visto que o homem tinha desistido, trocámos números de telemóvel. De seguida, fui-me embora e voltei à rua principal, que apenas tinha mais um bar. Andei mais alguns metros, já a coxear, e consegui avistar um rapaz que se parecia com o Eduardo. Comecei a andar mais depressa e aproximei-me.




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CONTINUA...

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beyourself2504

Abril de 2016



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Alice Sparks ( Sparks = Faísca, Centelha, Cintilar )

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