Capítulo 17 - Indiretas nada discretas.

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Sofia




A Cassia sempre me pareceu ter uma vida perfeita. Sua mãe, apesar de ser separada como a minha tia, tinha encontrado um novo amor. Eu os havia conhecido a algum tempo atrás, quando fui fazer um trabalho na casa dela. Eu fui muito bem recebida. Ouvir o que eu iria ouvir a seguir, partiria meu coração e me faria desacreditar se realmente existe família perfeita. Meus pais se davam bem, e se estivessem vivos até hoje, creio que se amariam ainda mais. Não lembro-me de já ter visto eles brigando. Talvez por eles serem muito cuidadosos com isso, ou porque não tinha motivos para gerar alguma. Meus tios, eu sabia que eles se desentendiam. Foi por esse motivo que eles se separaram. Meu tio José, apesar de parecer feliz, ainda demonstra sentir saudades da mulher que já foi dele um dia. Dona Ivone, já desfilou com alguns namoradinhos depois da separação, mas não firmou com nenhum. Como ela disse, nenhum era bom o suficiente. Eu tentava acreditar nisso, apesar de saber que lá no fundo ela mantém alguma chama de esperança de uma reconciliação com seu ex marido.

— Cassia foi o André? — Ela só sabia chorar.— Edu, me fala por favor?
— Implorei.— Eu sei que você sabe algo que não sei.

— Cacá, eu sei que é difícil. Mas nos conte realmente o que aconteceu? — Ele lhe entregou um lenço, que minha tia lhe ofereceu. E ela, limpou seu rosto. O Edu se sentou ao seu lado, e a acolheu em seus braços. Ficamos esperançosos de descobrir o que tinha deixado ela tão abalada.

— Meu padastro teve uma briga com a minha mãe, e eu me meti. E acabei levando um tapa no rosto. — Eu a observei com mais cuidado e notei um vermelho perto de seus olhos. — Foi horrível. Por um momento eu pensei que ele fosse mata-la. — Ela voltou a chorar.— Eu tinha que intervir. — O Edu acariciou seus cabelos.

— Eu vou ligar pra sua mãe, pra oferecer meu ombro amigo. — Disse a tia, e a Cassia assentiu. — E vou avisar que você ficará conosco,por enquanto.

— Não precisa. — Murmurou entre seus soluços.

— Precisa sim. — Dona Ivone, sendo a protetora de sempre. — Só me passa o número dela.

—Tia, tem anotado na minha agenda dentro da gaveta da cômoda. — Minha tia logo levantou-se e foi buscá-la.
— Você precisa tomar um banho,e descansar um pouco. — Ela assentiu.

— Eu não quero da trabalho.
— Murmurou.

— Não pense assim. Sua companhia me faz muito bem.— A ajudei a se colocar de pé. Indiquei o corredor, e o Edu a levou abraçado a ela. Ela estava abatida. Tirei do meu guarda roupas uma muda de roupa e a entreguei. — Leve o tempo que precisar. — Ela assentiu, e entrou no banheiro. Me sentei na cama, e o Eduardo ao meu lado. A tia falava com a mãe dela, no quarto dela. A conversa não parecia nada amigável. Minha tia estava exaltada, e fechou a porta quando percebeu que gritava ao telefone. — Onde ela passou a noite?

— Na minha casa. — Confessou.— Ela estava desesperada. Me telefonou e eu fui buscá-la. Mais de madrugada ela fugiu, e como tínhamos que fazer um trabalho em sala, deixei pra procura-la depois. Sorte que ela veio atrás de você.

— Não pensei que eles brigassem assim.

— Essa não foi a primeira briga, Sofi.
— Constatou. — Mas foi a primeira que a Cassia não suportou. Ela se faz de durona,mas não aguenta vê a mãe apanhar.

— Porque ela nunca me contou nada?
— Ele forçou um sorriso.

— Porque ela não queria que você sentisse pena dela. Esse é seu papel,não acha? — Ele deu um leve esbarrão em meu ombro.

— Acho. — Ri sem jeito. Eu arrumei a minha cama para ela deitar. Seu rosto estava inchado, e seus olhos vermelhos. A roupa coube direitinho nela, apesar de ficar um pouco curta. Eu fechei as janelas, e as cortinas. Puxei o lençol, e ela deitou-se. Quando o Eduardo tentou sair do quarto ela o puxou e ele voltou e se sentou ao seu lado na cama.— Eu vou deixar vocês sozinhos. Se precisar de mim,e só me chamar. — Eles assentiram.

— Obrigada Sofi. — Susurrou, e fechou os olhos. Eu voltei pra sala. A Juliana já tinha voltado.

— Tô cheia de fome,e a mãe Não terminou de fazer o almoço?
— Murmurou irritada. Pegou no armário um biscoito, e o abriu.

— Aconteceu um problema, foi por isso.

— A mãe descobriu sobre vocês?
— Ela disse,em alto e bom som. Eu avancei para tampar sua boca.

— Não é sobre nós,mais sobre minha amiga da faculdade. — Murmurei em seu ouvido. E destampei seus lábios.

— Que tipo de problema?
— Interressou-se. Dona Ivone entrou na cozinha. Irritadiça. Deixou o celular de lado, e voltou o foco na comida. A Ju a olhava espantada, e temerosa de perguntar o motivo de seu desagrado.

— Amanhã vamos na casa da Cassia buscar as coisas dela. Isso se ela quiser vim morar conosco.

— Tia, a mãe dela não vai aceitar isso muito bem.

— A mãe dela, tá nem aí pra filha.
— Minha tia começou a cortar a carne com raiva. — Acredita que ela já perdoou o marido por isso? — Exaltou-se.
— Disse que foi uma briga boba, e que não tinha motivos pra eu ir me meter.

— Tia,num ponto a mãe dela tem razão. Essa briga é deles,e não nossa.

— É por isso que acontece tantas desgracas nesse mundo. Por causa desses pensamentos Sofia. — A Ju pegou um comprimido e a entregou. Era um de seus calmantes. — Deus me livre, esse selvagem matar essa pobre mulher. — A Tia pegou o copo de água das minhas mãos e tomou junto com o remédio. — No hospital já vi muitos casos assim. A maioria tem medo de denunciar, outras dizem que o parceiro vai mudar.
— Ela sentou -se em uma das cadeiras da mesa da cozinha. — A mudança só acontece se uma das partes querer que isso aconteça, coisa que passa longe da família da Cassia. — Ela voltou a se levantar. — Ju, filha. — A Ju se aproximou. — Corte essas cebolas, e depois os tomates. — A Juliana puxou a talba e começou a cortar. Ela odiava fazer isso.

— Sofia, faça a Cassia se sentir em casa. — Eu assenti. — Vou preparar um caldo pra ela. — Ela só preparava caldo, quando via que a coisa tava mesmo feia. O Edu se aproximou de onde estávamos.

— Ela dormiu. — Contou-nos.Dona Ivone foi abraça-lo. E ele a abraçou de volta.

— Ela tem sorte de ter um amigo como vocês dois. — Ele sorriu, apesar de esconder que havia chorado.

— Eu já vou indo. — Disse,assim que se desprendeu dos braços da tia. — Minha mãe deve tá preocupada. Eu sempre chego no horário, e hoje me atrasei.

— Então ligue pra ela. Avise que vai almoçar conosco.

— Eu não quero te dar mais trabalho do que os que vocês já tem.

— Será uma honra. Adoro ter a casa cheia. — Ele concordou.

— Então, o que posso fazer pra ajudar?
— Ofereceu-se, solicito.

— Avisar sua mãe. Depois, me ajudar a lavar a salada e fatiar os pepinos.
— Ele puxou seu celular do bolso, e ligou pra mãe dele. Apesar da preocupação ser bem aparente na feição da tia, ela também estava feliz por ter pra quem cozinhar.

— Podíamos chamar o Gael?
— Comentou a Ju. — Tem dias que não vejo meu irmão. Não é Sofi?
— E lá, vinha ela, com suas indiretas nada discretas.

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