Capítulo 14 - Coração mole

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Gael



Nunca vi meu pai tão surpreso com algo. Ele ficou o espetáculo todo com os olhos vidrados no palco,e no filho dele. Apaludiu de pé, asobiou, e gritou de alegria. Ele era o mais animado de todo o salão. O apresentei ao Hans, e ao André. Ele parecia um menino,no meio de outros. A alma do seu José era jovem,enquanto o da minha mãe era de uma senhora de setenta anos. Fiquei triste por ela não me permitir apresentar meu mundo a ela,mas tenho certeza de que esse dia ainda vai chegar.

— Filho, quer comer o que? Pizza? Hambúrguer? Esfirra ? — Seguiamos até o carro, seu José resolveu ir dirigindo. Nos acomodados no banco e eu olhei pro relógio do painel do carro. Já passava das onze da noite.— O que foi? — Olhou-me rapidamente, antes de dar partida no carro.— Ah, já sei. — Ele riu.
— Tá pensando na Sofi? — Eu assenti.
— Menino, tome cuidado pra não sufoca-la com tanto amor. — Brincou.

— Por isso vou querer aquelas esfirras. Vai ser de queijo ou carne seca? — Ele gostou da ideia. — Tem um tempão que não comemos ela. — Ele concordou.

—Mas depois vai me pedir pra te deixar na casa da sua mãe? — Eu ri.

— Como sabe que eu iria te pedir isso?
— Ele soltou uma risada alta.

— Já fui moleque como você. — Olhei pela janela. — Quando comecei a namorar a sua mãe, eu queria passar vinte quatro horas ao lado dela. Era difícil dar boa noite pra ir embora. — Eu o olhei,mas ele estava com os olhos focados na estrada. — Sua mãe me incentivava a fazer coisas nas quais eu nunca pensei em fazer.

— De que tipo? — Ele nunca havia me contado sobre eles,do jeito que tá fazendo agora.

— No nosso primeiro ano de namoro, ela me fez acordar cedo pra fazer uma trilha. — Eu só pensava, ele estava mesmo falando da mãe mesma mãe que conheço? — Eu já estava exausto depois de meia hora. Foi um sacrilégio que fiz com gosto. Ela ficou tão feliz.

— Vocês voltaram depois? — Ele negou.

— Eu até que sofreria de novo. Mais sua avó faleceu,aí depois ela ficou grávida de você, depois veio a Ju. — Sua feição ficou triste. — Sua mãe foi ficando paranóica. Ela queria cuidar de vocês, queria ajudar em casa. Eu estava passando por um momento delicado.

— Foi na época que o senhor se acidentou,não foi? — Ele assentiu.

— Sua mãe precisou ser forte. E acabou sendo dura consigo mesma.

— Da tempo pro senhor tentar reconquista-la de novo. — Ele respirou fundo. — Eu sei que ela te ama.

— A Carcaça dela tá mais dura que no começo. — Resmungou,tentando achar graça. — Mais o coração ainda tá mole.

— É. Está. — Meu pai estacionou na parte do delivery e pediu nossas esfiras.

— Me conta mais sobre a mãe. — Insisti. Eu notava que essas lembranças o faziam feliz. Era tudo que tinha restado da família perfeita que ele teve um dia.

— Sua mãe que me mostrou a moda. Viu como ela anda sempre bem arrumada?
— Eu assenti. — Quando saíamos, eu usava chinelo pra tudo, e jeans. Eu nem sabia usar blazer. Achava jeca. — Eu ri.
— E no meu aniversário, ela me levou no show daquela banda que usava fantasias. Eu não me lembro o nome,mas a música era engraçada.
— O Rapaz do delivery nos entregou duas caixas pequenas, e as nossas bebidas. Meu pai as recebeu,e me entregou em seguida. Enquanto retirava de sua carteira o valor que foi cobrado.

— Hoje em dia a mãe só sabe trabalhar, e dormir. Dormir e trabalhar. Ah, e nós controlar. — Ele riu.

— Eu que paguei a faculdade dela. Foi um bom investimento. — Ele deu partida no carro. — Ele é ótima no que faz.
— Meu pai estacionou do outro lado da rua. E por lá mesmo,começamos a comer. — E por isso que ela tem medo que você perca a oportunidade de escolher algo que goste, e que lhe der estabilidade.

— Ela sempre me fala isso. — Mordi um pedaço da esfira de carne seca. — Eu tô pesquisando sobre a faculdade de arte cênica. — Meu pai Surpreendeu-se.
— Infelizmente esse curso só tem em outra cidade.

— E Você não quer ficar longe da sua família e nem da Sofi.

— E tem o teatro. — Respirei fundo.

— Já conversou com a Sofi, sobre isso?
— Eu neguei.

— Tá tudo tão recente, que tenho medo dela pensar que tô brincando com os sentimentos dela.

— Ela não vai pensar isso. Vocês se conhecem a tantos anos. E conviveram mais tempo que muitos casais por aí.

— Eu sei. — Murmurei. — Talvez eu vá.

— Eu te ajudo. — Afirrmou meu pai.
— Eu pago sua faculdade e sua moradia. — O olhei. — Só reflita sobre isso.
— Eu assenti.— Eu tô feliz por você ter confiado isso a mim.

— Eu também estou. — E terminamos de comer. Meu pai me deixou na porta da casa da minha mãe. A única luz acesa na casa era a da cozinha. Acenei pro meu pai, e ele se foi. Abri a porta da cozinha, e tentei ao máximo fazer silêncio. Andei em passos de tartarugas até o corredor dos quartos. Passei pela porta do quarto da minha mãe, ela dormia pesadamente. Devagar caminhei até o quarto da Juliana. A porta estava fechada. A abri, e notei que a Sofi não estava na cama dela, e me lembrei da Ju me dizendo que a Sofi estava no meu quarto. Voltei, e abri a porta e a encontrei. Ela dormia, toda encolhida. O braço imobilizado, por cima da coberta que a Juliana havia prometido por, por cima dela. E ela fez. A minha cama sempre foi mais larga que as das meninas. Fechei a porta,e passei a chave. Eu não queria que nenhuma delas, nos visse juntos. Andei devagar, e me aproximei da cama. Levantei a coberta e me deitei ao seu lado. A abracei por trás, e me acomodei. Ela nem sentiu que eu me juntei a ela na cama. Dormia tão linda. Beijei seu pescoço. Eu sentia saudades daquela pele. Acariciei com respeito. Ela se mexeu, e quando abriu os olhos e sentiu um toque diferente assustou-se. Mas tranquilizou-se quando por fim notou que se tratava de mim, seu príncipe sapo.

— O que faz aqui? — Murmurou toda sonolenta.

— Estava com saudades. — Ela se virou para ficar de frente a mim,mas seu braço a impediu. Então eu me levantei,e me deitei de frente para ela. Ela sorria. A surpresa tinha sido boa.

— Também senti sua falta. — Murmurou, e então seus lábios tocaram os meus. Um arrepio tomou conta do meu ser,então me afastei. — O que foi? — Seus olhos me avaliavam, enquanto eu tentava me controlar.

— Eu não quero apressar as coisas. Eu sei que não estamos prontos pra esse nível. — Ela sorriu.

— Posso voltar a te beijar? — Eu concordei,e voltei a aproximar nossos lábios.

— Sofi? — Estávamos tão próximos, que eu estava hipnotizado pelos seus olhos, e atraído por seu toque. — Eu te amo.
— Sussurrei e ela sorriu com os olhos.

— Eu também.— A beijei, e me fiz esquecer de que tínhamos minha mãe, e minha irmã nos quartos ao lado,e só me lembrei de que era com ela, somente ela, que eu devia me importar.

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