Capítulo 13 - O Grandão

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Sofia


O dia mais aguardado por minha tia,havia chegado. Ela ansiava pela chegada da Juliana. Quando nossa menina entrou em casa nos contando do acampamento ,toda animada. Sorrimos. Ela tinha tantas histórias. Nos contou sobre os filhos do Fernando. Que o mais velho, roubou um beijo dela,e ela deu um tapa na cara dele. Nos riamos. Ela gostava do rapaz,mas se fazer de difícil era o jeito de fazê-lo gostar cada vez mais dela. A Tia preparou o jantar, do jeito que ela gostava. Fez uma sopa de legumes e preparou umas torradas. Nos sentamos a mesa, e a tia convidou o tio José para se juntar a nós, só faltava o Gael conosco. O tio me olhava,entre as suas colheradas da sopa. Ele dizia com os olhos, algo que com os lábios não conseguia. Eu sabia,que ele sabia sobre nós. O Gael e o tio,eram muitos próximos.

— Sofi, tá melhor? — Indagou-me o tio.

— Estou sim. — Ele sorriu.

— Eu vou agilizar com o meu advogado, para que as parcelas da sua pensão sejam pagas logo. — Eu sorri grata.
— Você tem que focar só na faculdade. Aquele trabalho não tá te ajudando em nada.

— Eu canso de dizer isso a ela,mas ela não me ouve José. — Emendou a tia Ivone. — Graças A Deus foi só um braço quebrado. — Eles se entreolharam.
— Eu não me perdoaria se algo pior acontecesse com você Sofi.

— Eu sei me cuidar. — Constatei.

— Nos sabemos. — Disse meu tio.
— Só estamos preocupados com o seu bem estar. — Eles concordaram.

— Pai, o Gael já foi pro teatro?
— Perguntou a Juliana. — Eu queria ir vê-lo.

— Vou falar com ele pra te levar,qualquer dia desses. — A feição da tia a traía. Aquele assunto a incomodava.

— Você devia conversar com ele, pra estudar, fazer um curso que renda algo no futuro. — Olhei pra Ju, que me olhou de volta. Aquele assunto era delicado, e uns dos motivos das brigas constantes entre eles.

— O garoto já é de maior. Não posso obriga-lo a fazer algo que ele não queira. — Tomei uma colherada da minha sopa,e mordi uma torrada em seguida.

— Você é o pai dele. Ele te ouve.
— Barganhou a tia.

— Sou o pai dele,e não o carrasco. O garoto é bom no que faz.

— Eu fui vê-lo, ontem. — Todos me olharam. — Ele realmente é muito bom no que faz. — A Tia me encarou. — Ele é o protagonista. A platéia aplaudiu de pé, no final.

— Tá vendo. — O tio a olhou.
— Você devia ir vê-lo,antes de continuar a ordena-lo a trocar o que gosta por algo que não o enche os olhos. — A Tia voltou a comer. Ficamos calados, ouvindo apenas o talher bater no prato e as mordidas nas torradas. Acompanhei o tio até chegar ao carro que estava estacionado do outro lado da rua.
— Sofi, tô feliz por você e meu filho.
— Me olhou nos olhos. — Mas tenha cuidado com a Ivone. Ela sabe ser rancorosa com coisas novas,e que saiem do seu controle. Já viu como ela ficou com o fato do Gael querer ser ator,não viu? — Eu assenti. — Vai preparando o coração dela até lá.

— Mas como? — Realmente eu não fazia idéia.

— Você vai descobrir. — Ele me abraçou, e beijou o topo de minha cabeça em seguida.— Se cuida. — E depois entrou no carro, e eu o esperei pegar a estrada. Voltei pra casa, a tia terminava de retirar os pratos. A ajudei a retirar a toalha de mesa, e a recolher os talheres que ficaram, os deixando na pia.

— Tia precisa de mais alguma coisa?
— Ela negou. Estava chateada por ser sempre a pessoa que ninguém compreende. — Eu vou pro meu quarto. — Ela assentiu. Segui pro corredor, a porta do quarto estava aberta. A Juliana desfazia as malas, e cantarolava uma música. Eu gostava dessa Ju descontraída. Como eu já tinha tomado banho, e estava pronta para dormir fui apenas no banheiro para escovar meus dentes. Pensei em voltar pro quarto e tentar dormir, mas ela merecia de um pouco mais de espaço no quarto dela. Então, abri a porta do quarto do Gael e fechei em seguida. Estava tudo arrumado, e sem vida,já que ele não morava mais concosco. Me deitei na cama, e curtir o silêncio e a essência do rapaz que roubou meu coração a muitos anos atrás. Fechei meus olhos, e me lembrei com perfeição dos detalhes da noite passada. Senti o gosto do seu beijo, a sensação que suas mãos davam ao meu corpo,assim que os tocavam. Eu já sentia saudades dele,e de como eu me sentia quando estava com ele.


Gael



Quando meu pai chegou em casa, eu já estava saindo pra ir pro teatro. Ele estava cansado,mais sorriu quando me viu. O abracei forte, e recebi um beijo no rosto. Ele não tinha vergonha de mostrar que amava,e que se importava com os filhos. E se o chamassem de afeminado por isso,ele ria e dizia: Se ser assim é ser afeminado, que seja. Não vou parar de demonstrar amor por causa dos outros. Eu sou o que sou,e não o que pensam que sou.

— Filho, você tá muito atrasado?
— Eu neguei. — Tem como esperar seu velho pai tomar um banho e trocar de roupas?

— O senhor quer ir comigo?
— Ele assentiu.

— Quero. — Disse com convicção.
— A Sofi te viu ontem. — Eu assenti. —Então também quero ver. Não sei se vou está vivo até lá, pra te ver de novo.

— Vai estar. Tenho certeza.
— O ajudei a levar a mochila dele pro quarto. Rapidamente ele foi pro banheiro pra tomar um banho. Peguei meu celular da mochila e disquei o número da Sofi. Eu estava com saudades dela. Mas a voz que atendeu não era a dela, e sim da monstrinha que divide o quarto com ela.

— Grandão, a Sofi não tá aqui.
— Me sentei na cama do meu pai.

— E onde está? — Ela riu.

— Sei lá. — Murmurou. E em seguida a ouvi gritar pela Sofi. Fiquei aguardando ela responder algo. Demorou,mas logo voltou a falar.
— Ela tá no seu quarto. Tá dormindo. — Eu sorri. Ela também sentia saudades minha. — Eu devia me sentir culpada por ela ter ido pra lá,mas não me sinto. — Era bem a cara da Juliana pensar isso. — Acho que vou pegar uma coberta pra cobri-la.

— Acho que você deve fazer isso.
— Ela riu. — Agora vou desligar. Tchau pequena.

— Tchau irmãozão. — Meu pai saiu do banheiro já vestido, e perfumado.

— Vamos,temos uma peça pra assistir.
— Murmurou empolgado.

— E eu um espetáculo pra apresentar.
— Levantei da cama e juntos seguimos até a porta.

— Como se diz boa sorte no teatro?
— Logo me lembrei da reação da Sofi quando lhe contei.

— Que tenhamos muita merda hoje.
— Meu pai Riu. — Por que?

— Porque antigamente as pessoas iam de cavalos assistir ao espetáculo, e os cavalos deixavam suas merdas na frente do estabelecimento. Então quanto mais merda tinha, significava que estaria lotado,ou que seria um sucesso. Daí surgiu essa expressão.
— Ele sorriu satisfeito com explicação.

— Faz sentido.— Nos sentamos no carro, e eu no banco do motorista.

— Então que tenhamos muita merda!
— Disse entusiasmado.

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