Capítulo 9 - Meu Gael

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Gael


Eu andava de um lado ao outro. Nervoso, e ao mesmo tempo ansioso pela resposta dela. Eu lia o roteiro, e falava minhas falas como se fosse no palco. Usava os tons necessários, gesticulava entre uma fala e outra. Eu fechava meus olhos e me via no palco,rodeado pelos meus colegas de trabalho e a platéia com os olhos vidrados em nós, e em mim. Essa seria a minha noite de glória. Shakespeare era o cara do teatro,e do romance dramático. Foi por causa dele que me inspirei a escrever algumas palavras, essas que eu iria explanar num momento especial pra provar que estou disposto a conquista-la do jeito que ela merece.

- Gael! - Sai dos meus desvaneios e prestei atenção no rapaz que entrava na sala da minha casa. Era o Hans.
- Uma hora dessas ainda vão te roubar. Tem que parar de deixar a porta destrancada.
- Murmurou ao se sentar ao meu lado. Puxou o bloco de notas que eu escrevia, e se surpreendeu-se ao ler. - Isso está muito bom. - Puxei a folha das mãos dele.

- Eu estava te esperando a duas horas atrás. - Murmurei e ele levantou-se e seguiu em direção a cozinha.

- Tive um imprevisto.- Me disse, antes de desaparecer da minha frente. - Cadê as batatas? - Gritou.

- No armário. - Voltei a escrever,mas a presença do Hans bloqueou minha criatividade. Logo ele voltou para a sala,com o pacote de batatas chips em mãos.

- Você vai se sair bem. - Cosntatou.
- Ensaiamos juntos, a algumas semanas. É impossível que já tenha se esquecido das falas. - Sentou-se ao meu lado.

- Eu só estou nervoso. - Peguei umas batatas do pacote, em seu colo.

- Por causa da peça? - Eu neguei.

- Por causa da Sofi. - Enfiei na boca um punhado de batatas e o Hans riu.

- Pelo o que você me contou, ela te ama.

- É, parece que sim. Mais tem medo.
- Contei.

- As meninas te amam! - Disse com empolgação. - Você é o Rei das garotas. A Karine e a Lola,que o digam.

- É por isso que ela tem receio de acreditar no que eu falo.

- É meu amigo, boa sorte com ela.
- Deu Dois tapas em meu ombro e voltou a atenção dele nas batatas. Terminamos as batatas,e ele passou as falas comigo pela última vez. As horas já estavam avançadas, levei o Hans pra casa,no carro do meu pai e estacionei na frente da casa da minha mãe. Fiquei tentado a entrar e agara-la, mas eu não podia. Ela tinha que querer isso. Isso me consumia. Eu a vi pela janela enquanto saia de um cômodo ao outro, uma menina de fios castanhos curtos estava com ela. Pelo menos ela tinha alguma ajuda. Pensei em ligar, mas desisti. Eu tinha que me contentar em espera-la. Se ela não aparecesse, eu iria seguir com a minha vida, e trata-la como sempre tratei. Apesar de tudo,éramos amigos e nada no mundo iria mudar isso.
Voltei pra casa, me arrumei e recolhi as minhas coisas e as joguei na mochila. Peguei as chaves do carro, e abri a porta e rezei. Seja o que Deus quiser! Antes tarde do que nunca,não é?



Sofia



Tive uma manhã conturbada. Almocei um misto quente,e chamei a Cassia, minha amiga da faculdade pra passar a tarde comigo. Contei a ela sobre o Gael,e ela ficou feliz por mim. Me disse que era um dos meus sonhos se realizando. Ela tinha razão. Eu sonhava com ele desde muito tempo. Eu não lembrava de nenhum dia, em que meu coração não o pertencesse. Depois de prepararmos um ensopado de carne e batata para o jantar. Eu não queria dar mais trabalho para a tia. Ela iria chegar cansada,e eu sabia que ela iria me encher de perguntas sobre os motivos deu estar com o meu braço quebrado. Seguimos juntas pro meu quarto. A Cassia fez uma trança embutida nos meus cabelos, e me ajudou a escolher uma roupa. Ela tinha muito bom gosto, e eu, vivia lhe perguntando porque insistir em ser jornalista,e não designer de moda? A resposta era sempre a mesma. Era o sonho do pai dela,e ela não queria desaponta-lo como a irmã dela fez.

- Você está perfeita . - Me disse, assim que me olhei no espelho. A Cassia escolheu uma camisa com desenho de um cachorrinho com brilho que eu não usava a muito tempo,mas que coube perfeitamente. Uma calça jeans rasgada num tom claro, e uma sandália de salto baixa, preta com tiras. A Cassia me esticou uma bolsa preta, pequena. - Quer carona? Ou alguém vai vim te buscar?

- O Gael tinha me falado que iria vim me buscar,mas agora não faço idéia. - Olhei-me novamente no espelho e passei mais um pouco de batom rosa nude, nos lábios. - Cassia, quer ir comigo?

- Eu não trouxe roupa pra isso. - Olhei pro meu guarda roupas. - Você usa uma das minhas,ou da tia ou da Ju. Fica a vontade. - Ela deu um pulo da cama. Pegou uma blusa de botões Branca, no meu guarda roupas, uma calça jeans e uma jaqueta no da tia Ivone. Rapidamente correu pro banheiro e eu me sentei na cama e a esperei.



Algum tempo depois



Comprei o ingresso da Cassia,o meu nome estava anotado, num papel que estava nas mãos do rapaz que nos recepcionava. Estava lotado, nos sentamos nas poltrona do meio. Elas eram inclinadas, para o palco. Igual a poltrona do cinema. As cortinas estavam fechadas.

- Caramba, tô ficando nervosa.
- Murmurou a Cassia. - Não acredito que finalmente vou conhecer o seu Gael. - O meu Gael. Sorri ao ouvir. Logo as luzes apagaram, e as cortinas se abriram. Era o Gael. Ele estava lindo,naquelas roupas antigas. Parecia um príncipe, faltando apenas o cavalo branco.

- É ele. - Murmurei pra ela.

- Gatinho.- Sussurrou de volta e eu ri. Ele falou suas primeiras falas, outros atores entraram em cena. Era uma peça inspirada em William Shakespeare. Riamos algumas vezes, em outras o silêncio paiarava e era cortante. Todos os olhares concentrados naquele palco. Ela não tinha me visto,e a peça estava quase chegando ao fim. Um beijo encenado me desconcentrou. Eu sabia que ele iria beijar alguém. Sempre beijam. Mas não era eu,e sim outra. Um aplauso tomou conta do salão. A peça havia sido um sucesso. As luzes acenderam, e quando todos ameaçaram levantarem, um rapaz usando roupas normais, apareceu.

- Peço a atenção de todos ,mais uma vez. - Todos tomaram seus lugares de novo. A Cassia e eu,nos entreolhamos.
-Nosso ato final, começa! - Mais aplausos.

- Eu não sabia que tinha essa parte.
- Murmurei pra Cassia.

- Então estão improvisando,ou talvez não. Isso é teatro,o mundo do improviso. - Eu concordei.

- Nossa peça falou sobre o amor. Vamos continuar a falar sobre ele!
- Esplanou. - Amor a primeira vista. Será que existe? Ou será apenas nossa mente confusa? Amor ou química? São tantas teorias, mais nenhuma delas explica a atração instantânea de dois corpos. - Todos assentiram.
- Amor , amor...- Gesticulou com os braços. - Grande merda da vida.
- Todos riram. - Onde amar é perder o controle de tudo. É como, se andassemos na corda bamba o tempo todo. Como se colocasse seu coração em outras mãos e dependesse desse amor retribuído para ser feliz...
- Gritou. - E lá vem aquele blá blá blá de sempre. - Rimos.
- É tanto drama,que fica impossível o amor não virar aquele imenso clichê.
- Rimos mais uma vez.- Esbarrar na mulher da nossa vida, num ponto de ônibus. Ou, trocar olhares enquanto atravessa a rua. Ou talvez, olhar pra uma moça da platéia e se apaixonar. Igual a você! - Ele apontou pra mim,e eu indaguei. - É, você mesma. - Pediu aplausos, e eles soaram.
- Venha até o palco, todos querem te ver. - E eu coloquei-me de pé, e cheia de vergonha subi ao palco. - Ela não é uma linda Rapunzel? - Um "É " ecoou pelo salão. E o rapaz saiu pela lateral e me deixou sozinha. Que merda estava acontecendo aqui? O infeliz me deixou sem saber o que fazer. Pensei em sair correndo,mas ele apareceu e eu não via mais ninguém que merecesse a minha atenção. Era só ele,o Gael. Meu eterno príncipe sapo.

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