Refeição

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Durante todo o dia, Maximilian dedicou seus minutos a arrumação de seu aposento pessoal e a leitura de um dos livros que lhe fora dado. Dentre as caixas deixadas em seu quarto haviam sobretudos, mantos e peças de roupas ao estilo Volturi, assim como a grossa corrente que carregava o brasão do clã, ele com certeza teria de usá-las no banquete daquela tarde.

A chuva pôde ser ouvida do lado de fora da janela escurecida, conforme as horas corriam, contudo, foi somente quando estava para anoitecer que o vampiro deixou seu livro de título francês de lado e se arrumou para o banquete.

Preto, preto, preto e preto, era apenas disso que a vestimenta dos Volturis era feita. Não que o camaleão achasse isso ruim, afinal, ele adorava preto, mas aquele sobretudo e o manto eram, no mínimo, uma ofensa para o seu gosto descolado. E no fim das contas apenas a calça e a blusa de gola alta lhe foram úteis, pois, acima disso, o camaleão preferiu vestir seu casaco de couro.

Apesar de tudo, Maximilian sentia-se elegante com aquela blusa que moldava perfeitamente o contorno de seu tronco, o que também parecia deixar o brasão Volturi ainda mais evidente sobre seu corpo. E Aro não deixou de se alegrar com o fato, de início acreditando que se tratava de orgulho por pertencer ao clã mais poderoso do mundo.

Todos os vampiros já se faziam presentes na sala dos três tronos quando o camaleão apareceu. Jane e Alec esperavam ao lado dos tronos, lado a lado, pela entrada dos humanos para novamente realizar seu jogo preferido. A vampira era linda e Maximilian não conseguia tirar seus olhos do contraste sedutor que sua pele alva fazia com seus olhos vermelhos e com sua vestimenta negra. E como se pudesse ler os seus pensamentos, Jane vira o rosto em sua direção, o encarando e estreitando os olhos ao perceber que era observada.

Ele sorri, achando graça na forma com que ela tentava parecer cruel, pois não conseguia enxergá-la daquela forma: como alguém sem sentimentos ou a quem devesse temer. É claro que o camaleão se conformava com a ideia de alguém com o coração congelado, afinal, até o dele era, mas nunca pensaria em Jane como alguém sem sentimentos.

La mia ragazza – sussurra ele para a vampira, fazendo-a bufar no mesmo instante em que as portas do grande salão se abriram.

O cheiro dos humanos se espalhava rapidamente conforme eles adentravam o local. Estavam todos alvoroçados, como sempre acontecia naquele ponto do passeio, e suas fragrâncias se misturavam no ar fazendo os olhos do camaleão cintilaram num vermelho tão profundo, que qualquer um pôde perceber o quanto ele estava sedento.

Dentro todos os aromas, houve um em especial que fez Maximilian respirar profundamente e sua boca salivar. É claro que aquele não era o aroma "la tua cantante" de Jane, pois este, infelizmente, ele nunca pode apreciar depois de transformado; todavia, o cheiro em questão era realmente agradável e lhe renderia uma boa refeição.

Aro se levanta para o pronunciamento de boas-vindas, o mesmo que sempre fazia e que sempre gerava as mesmas reações na raça humana. Os vampiros apenas esperavam o seu comando para avançar, e como Maximilian era de longe o mais sedento de todos eles, logo se agachou, colocando-se em posição de ataque e com os olhos fixos no aglomerado de humanos. E assim como sua presença atraiu seu olhar da primeira vez, tal movimento não passou despercebido por Jane, que agora o fitava com interesse, imaginando se ele era tão bom caçador quanto parecia ser.

Bon appetite – recitou Aro por fim, fazendo os vampiros saltarem de seus lugares no segundo seguinte e um coro de sofrimento se erguer pelo salão, escalando suas paredes como almas tentando fugir de sua condenação.

O banquete era farto naquele dia e os vampiros pareciam não poupar esforços para saciar suas sedes. Todos se moviam com extrema velocidade, fazendo seus mantos parecerem borrões negros aos olhos dos pobres mortais. Todos estavam caçando... Bem, talvez não todos...

Coração GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora