Desentendimento

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Jane abre a porta do seu quarto lentamente, averiguando o corredor por 10 segundos contados, saindo em seguida com a pretensão de trocar o seu livro na biblioteca, mas sem ser seguida por Maximilian.

Ela havia meditado por horas sobre o inusitado flash que tivera de seu passado, tentando se convencer de que não era real. Durante muitos anos, tudo o que ela conseguiu lembrar de sua vida humana foi o quanto lhe fizeram mal, o quanto machucaram Alec, e que os Volturis os salvaram. Entretanto, não tinha como negar o óbvio: aquela lembrança era nova e bastante real, ela citava o camaleão e isso tornava parte da história dele verdadeira.

Fazendo um voto de silêncio consigo mesma, Jane decidiu que ninguém poderia saber do acontecido e Maximilian jamais poderia saber que tinha se lembrado dele, ou nunca mais iria embora. A vampira ainda não havia se lembrado de promessa alguma, no fim das contas, mas ser obrigada a confiar nas palavras de Maximilian já era motivo suficiente para irritá-la.

Com passos silenciosos e contantes ela rumou para a biblioteca, encontrando Renata sentada numa poltrona acolchoada, lendo um de seus romances melosos, e Demetri e Felix novamente se enfrentando em um demorado jogo de xadrez. Ela nunca entendeu porque eles passavam tanto tempo jogando aquilo, dia após dia, se o rastreador sempre ganhava de Felix, que tinha mais força do que paciência para jogar algo tão estratégico

Jane entra na biblioteca devagar, pensando em não atrapalhá-los, permitindo que os vampiros percebessem sua aproximação.

— Jane, que coincidência você aparecer por aqui! – diz Demetri, contorcendo-se em sua cadeira para olhá-la, enquanto seu oponente fazia a sua jogada. – Estava falando justamente de você para Felix...

A vampira o observa sem esboçar reação, mas opta por ignorá-lo. Ela sentia que Demetri estava procurando algo além de uma conversa casual e não pretendia cair em sua lábia até saber exatamente o que ele estava querendo. Jane caminha em direção a sua repartição favorita, pretendendo devolver o seu exemplar de "O Bebê de Rosemary", que acabou lendo duas vezes consecutivas para apreciar melhor aquela interessante história.

— Me diga, Jane, você entregaria o seu próprio irmão, se ele fosse um traidor do clã? – pergunta Demetri de repente, fazendo a vampira paralisar antes de entrar no corredor de livros de terror. – Felix entregaria... Se ele tivesse um irmão, é claro. – Ri, como se estivesse apenas dizendo asneiras sem sentido. – Eu também entregaria, afinal, a lealdade ao clã e aos mestres deve estar acima de tudo. Mas e você, querida Jane, entregaria Alec se ele lhe pedisse para guardar uma informação importante de seus mestres?

Felix o encara seriamente, sabendo que Demetri estava aprontando alguma coisa. Eles não estavam conversando quando Jane adentrou o cômodo e ele pouco sabia sobre qualquer dado que pudesse estar sendo escondido por Alec, contudo, conhecia o pequeno vampiro rastreador por tempo suficiente para saber que ele era rancoroso e que escrachadamente não gostava de Jane Volturi.

No fundo, era fácil odiá-la. Jane era a favorita dos mestres e ninguém evoluía dentro do clã a não ser que ela permitisse, e, obviamente, a única pessoa que ela havia permitido crescer era o seu gêmeo, Alec. A vampira mantinha a liderança da Guarda na base da força, fazendo qualquer um que a desagradasse pagar o preço da dor, tornando qualquer conversa inviável e obtendo obediência através do medo, nunca do respeito.

— Está insinuando alguma coisa? – pergunta Jane, contendo um rosnado e se aproximando lentamente, como um predador preparando o seu bote, não gostando de ter o seu irmão ameaçado daquela forma.

— Sim, estou! – responde Demetri, percebendo o comportamento da vampira e também se ajeitando em sua cadeira, prevendo o ataque. – Uma vez você me puniu por esconder uma informação, uma pequena informação da existência de uma recém-criada, que não apresentava importância alguma para a nossa missão... Você me puniu com o seu dom e disse que nada deveria ser escondido do clã!

Coração GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora