Primeira Missão

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A primeira noite de Maximilian no castelo Volturi passou de forma extremamente lenta. Ninguém o incomodou durante todo o período, ele próprio se recusou a sair de seus aposentos e, por um longo momento, os corredores se tornaram livres de qualquer barulho ou movimento, como se todos tivessem saído.

A Guarda ofensiva de Aro realmente havia partido para limpar a sujeira de alguém, mas não era como se ele se importasse. As palavras finais de Alec ainda rodavam na cabeça do vampiro, fazendo-o por um instante oscilar em sua missão.

O que ele estava fazendo ali? Por que insistia naquilo se era óbvio que Jane não se lembrava dele? Por que não se conformava de uma vez e morria definitivamente? Aquele plano, aqueles ideais, tudo lhe parecia extremamente descabido naquele momento.

― Eu a procurei por tanto tempo – dizia para si mesmo, com os olhos fixos no teto –, agora que finalmente a encontrei, sinto-me derrotado com o primeiro choque de realidade que sua indiferença me impôs... Eu sabia que poderia ter resistência, mas não pensei que houvesse o esquecimento – conclui pesaroso, sentindo algo doer dentro de seu peito. – Contudo, não posso desistir, não agora que finalmente me coloquei ao seu lado, que a encontrei... Meu coração ficará dilacerado, mas você certamente se lembrará de mim!

Quando sua cabeça finalmente pareceu estar de volta no lugar, o camaleão sentiu necessidade de pensar em seu próximo passo e por isso retirou seu casaco e sua camisa, guardando-os no armário antes de se jogar na enorme cama e embrenhar-se nas cobertas e lençóis. Seu corpo masculino trajava apenas as calças pretas e, no conforto daquele colchão, seus olhos se fecharam causando a ilusão de dormir. Seu tronco subia e descia com o falso respirar – uma mania que não quisera se livrar – e seu cheiro humano já se fixara em todo o cômodo.

Perto do amanhecer o vampiro ouviu a porta se abrir, alguns barulhos de passos e, na sequência, o som de coisas pesadas serem colocadas no chão e na escrivaninha. Seus olhos se abriram levemente apenas para ver a imagem de Renata deixando sua área particular, que amigavelmente havia trazido todas as coisas que pedira a Alec algumas horas antes.

Horas depois, o Sol raiou sobre Volterra novamente, porém, ainda assim Maximilian continuava inerte, estirado em sua cama como um humano preguiçoso que queria acordar somente ao meio dia. Ele ainda estava ressentido pela conversa com Alec e por isso não se animara nem em verificar as caixas empilhadas em seu quarto, seu único consolo era que sua mente finalmente havia bolado um novo plano.

Duas batidas na porta anunciaram que alguém estava prestes a entrar, fazendo o vampiro sentar-se rapidamente na cama, em expectativa. A enorme porta se abre revelando novamente a imagem de Renata, fazendo-o soltar um muxoxo quase que instantaneamente.

― Mestre Aro lhe espera no grande salão! – anuncia ela.

O vampiro levanta-se da cama num salto, caminhando para fora do quarto com pés descalços e sem se importar de vestir algo, afinal, pegar uma gripe não era algo com que devesse se preocupar no fim das contas.

― Deveria colocar uma camisa antes de ver o mestre – diz Renata ainda na porta, olhando o tórax despido do vampiro que já se encontrava no corredor.

― Não é como se o seu mestre... Digo, nosso mestre... Fosse se sentir assediado! – lança ele, corrigindo-se no meio do caminho.

― Certamente que não – confirma a vampira, o tom de voz baixo como o de uma pessoa tímida e os olhos ainda cravados em seu tórax, desenhando silenciosamente as curvas do corpo masculino –, mas seria um escândalo um membro da Guarda se apresentar à frente dos três tronos de maneira tão inapropriada.

― Está certo, tentarei não ficar tão à vontade da próxima vez, mas por hora, acho que Aro não ficará feliz com um atraso. –  Pausa, esperando um comentário que não veio. – Meus olhos... – recomeça, sacudindo a mão direita em frente ao tronco e atraindo a atenção da vampira para ela. – Estão aqui em cima...

A mesma mão que balançara em frente ao corpo subiu em direção ao rosto, atraindo a atenção de Renata para o local em que deveria olhar desde o começo. Seus olhos carmesins pareceram sorrir naquele momento, como uma criança travessa que fora pega em flagrante, e seus lábios esboçaram o mesmo sentimento.

― Vamos garanhão – zomba, sem alterar o timbre de sua voz –, se não pretende se vestir, não vamos deixar o mestre esperando ou ele se irritará ainda mais.

Com passos rápidos Renata ultrapassa Maximilian, tomando a frente da caminhada e conduzindo-o até o salão onde o Aro, Marcus e Caius o esperavam.

Lá chegando, o camaleão não encontrou ninguém mais além dos líderes e da Guarda defensiva, o que queria dizer que ele não veria Jane tão cedo naquele dia. Maximilian se coloca à frente dos três mestres, fazendo uma leve reverência e divertindo-se interiormente quando seus olhos vermelhos captaram o horror no semblante de Caius, ele definitivamente havia odiado sua forma inóspita de se apresentar.

― Isso é maneira de se colocar diante de nós? Vampiro insolente – rosna o loiro.

― Creio que isso não passou de um mal entendido, não é mesmo, Maximilian!? – interrompe Aro sem realmente esperar por uma resposta, pois não se sentia paciente o bastante para aturar os acessos de fúria de Caius.

― Sim, senhor – concorda.

― Muito bem, meu camaleão. –  Faz uma pequena pausa. – Logo mais estarás saindo para sua primeira tarefa como um Volturi e espero que encontre seu lugar o quanto antes em nosso meio... Lealdade, respeito e obediência são coisas que prezo imensamente e espero poder encontrar todas elas em você.

Maximilian leva apenas alguns segundos para processar aquelas palavras e o que elas realmente denotavam: lealdade significava nunca se voltar contra os Volturi, respeito referia-se aos mestres que deveria reverenciar e obediência queria dizer que nunca deveria questionar ou recusar as ordens dadas.

Os requisitos não lhe pareciam um problema, era à parte mais fácil de cumprir. O que realmente preocupou o vampiro foi à forma possessiva com que Aro referiu-se a ele, ao seu dom, como se não lhe pertencesse mais e sim aos Volturi. Aquilo com certeza o traria dificuldades na hora de deixar o clã...

― Seguramente encontrará, mestre – confirma respeitosamente.

― Fabuloso! – comemora Aro, dando exatas três palminhas para demonstrar seu contentamento. – Teremos outra refeição hoje, um banquete especial para que a Guarda possa deixar o castelo totalmente saciada quando anoitecer.

― Certamente, senhor, esta seria a maneira ideal de partir numa missão – concorda ele, bajulando-o como imaginou que o mestre gostaria –, mas perdoe-me a insolência, mestre, qual será o encargo desta noite?

― Recebemos relatos de que uma criança imortal foi criada numa família na escócia... E eu quero que você a mate! – ordena com um leve olhar de desafio. – Este será seu feito inaugural como um membro da Guarda Volturi.

― Não lhe desapontarei, mestre! – conclui o vampiro improvisando uma reverência, fazendo o sorriso de Aro se alargar.

― Agora vá, apronte-se para essa noite e planeje sua melhor estratégia para alcançar seu objetivo – ordena Aro, referindo-se principalmente ao objetivo do vampiro de retirar Jane do clã. – As coisas podem ser mais difíceis do que você imagina...

Maximilian se despede com um aceno de cabeça, não captando a mensagem subliminar nas palavras e no sorriso alucinado do mestre. Ele fora desafiado a retirar a vampira do clã, a fazer a serva mais leal trair o seu senhor, e essa era uma missão impossível aos olhos de qualquer um que conhecesse o histórico da vampira.

Totalmente alheio ao desafio oculto de Aro, o camaleão retorna ao seu quarto sabendo exatamente o que fazer naquela missão: ser bem-sucedido, para que pudesse permanecer no clã e impressionar Jane.

Jane seria sua, não importando o quanto tivesse que lutar ou quantas missões tivesse que realizar, ela seria sua companheira ou a eternidade não lhe faria mais sentido.

Coração GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora