Levou pouco mais de uma hora para que a Guarda Volturi estivesse devidamente protegida do amanhecer, escondidos num moinho abandonado. A grama ao redor do edifício era tão alta, que nenhum ser humano normal cogitaria passar por aquelas bandas e, por isso, os vampiros sentiam-se relativamente seguros.
O interior do moinho era amplo, com uma escada velha que levava ao andar de cima, carroças quebradas e restos de móveis de madeira espalhados por todo o lugar. Maximilian havia sido o primeiro a entrar, correndo para o andar de cima e se atirando nos amontoados de feno que ainda estavam por ali, fazendo daquele espaço o seu território.
Alec veio logo atrás, com os olhos novamente interessados em cada movimento do camaleão, parando num canto do recinto e esperando os outros se acomodarem. Ele não sabia explicar o que se passava, mas sua cabeça simplesmente borbulhava com algo que ele não sabia o que era... "Sentir" era quase proibido para qualquer um dos Volturis e, apesar de o vampiro jurar que Jane sentia prazer em matar – o que, tecnicamente, significava que ela estava sentindo –, sua mente juvenil não foi capaz de identificar o óbvio: que ele estava sentindo curiosidade.
― Alec, saia de perto da janela – pede Jane, ao vê-lo apoiado próximo demais da luz solar –, estamos longe dos humanos, mas ainda devemos ser cautelosos.
O gêmeo dá um passo largo para o lado, afastando-se da janela e, consequentemente, aproximando-se ainda mais de Maximilian. Seus olhos vermelhos cruzaram com os do camaleão, que lhe deu um sorriso travesso e se encolheu num canto de sua cama de feno, abrindo espaço suficiente para que outra pessoa deitasse confortavelmente ali.
― Pode deitar se quiser, eu não cobro nada! – brinca Maximilian, observando o rosto inexpressivo de Alec e captando perfeitamente o momento que ele desviou o olhar para Jane, como se buscasse nela a autorização para aceitar o convite. – Você precisa do consentimento da sua irmã para deitar num amontoado de mato seco? Francamente, pequeno Alec, você já foi mais independente.
O vampiro mais novo bufa em protesto, sentindo um lapso de rebeldia lhe fechar o semblante e atirar o seu corpo sobre o feno instantaneamente, mesmo sob a proibição de Jane. Demetri e Felix suprimem uma interjeição de espanto, pois ninguém ousava desobedecer a vampira sem pagar um preço de dor, e nem mesmo Alec escapava à regra.
Nenhuma conversa é iniciada pelas mentes ali presentes e horas se passaram sem que os vampiros se movessem ou pronunciassem uma única palavra. O camaleão direcionava sua mente a coisas triviais de vez em quando, mas, na maior parte do tempo, estava pensando em qual seria seu próximo passo, em como faria a vampira notá-lo e se lembrar dele.
Jane permanecia sentada sobre uma cadeira velha, imóvel como uma pedra de gelo e com os olhos voltados para a janela. Em contrapartida, Alec parecia distante, pois, com uma cama de feno tão aconchegante, ele se perguntava constantemente se alguma vez em sua "vida" já havia deitado em algo como aquilo.
― É uma sensação tão diferente, que seria um desperdício não fazê-lo quando se é humano – pensa com seus botões.
Nada lhe vinha à mente, nem mesmo as imagens nebulosas, como acontecera no castelo, mas, apesar disso, Alec agradecia mentalmente por, pelo menos, os seus pensamentos ainda lhe serem privados, afinal, Aro enlouqueceria se soubesse que alguém de sua Guarda estava finalmente pensando no passado.
É claro que deitar-se no feno fora apenas a primeira interrogação na cabeça do gêmeo Volturi, porque, nas horas que se seguiram, muitas outras perguntas lhe invadiram a mente, conforme se lembrava de coisas que os humanos costumavam fazer: será que já havia tomado sorvete? Nadado em um rio? Abraçado ou beijado alguém? Rido ou, ao menos, amado?
― Como eu era? – solta Alec de repente, quebrando o silêncio e atraindo a atenção de todos, devido ao tempo verbal de sua frase.
Ninguém ousou dizer nada, afinal, não sabiam com quem exatamente ele estava falando, contudo, quando sua cabeça pendeu para o lado e seu olhar curioso focou o rosto de Maximilian, Jane sentiu seus instintos gritarem em alerta.
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Coração Gelado
FanfictionFria, cruel e calculista, era assim que Jane Volturi sempre fora conhecida. Por onde passava sua fama a precedia, os vampiros a temiam, sua presença imponente inspirava medo e seus olhos emanavam a morte. Reconhecida por seu mestre como um símbolo d...