A Franqueza do Sentimento

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Jane sentia que estava diferente. Olhando para o seu reflexo no espelho, localizado em um dos banheiros da casa de Maximilian, a vampira percebia que aquela não era mais Jane Volturi.

Sim, nitidamente ela não era. Apesar de novamente vestir as roupas do clã e carregar o brasão em seu pescoço, ela sabia que não poderia mais se chamar "Volturi" quando sua lealdade não estava mais com eles. Os olhos vermelhos que a fitavam do espelho pertenciam à pequena Jane, porque elas eram a mesma pessoa – apesar de passado e presente terem se desconectado no meio de sua segunda vida – e a pequena Jane nunca jurou fidelidade ao clã mais famoso do mundo imortal.

Agora, depois de uma longa jornada que ela nem sabia que estava trilhando até aquele instante, a vampira sabia exatamente quem foi e o que teve, quem se tornou e o que perdeu, e quem era e o que recuperara. Ela foi uma humana e teve um coração humano, tornou-se uma vampira e perdeu seu coração, mas agora ela recuperara a si mesma e era simplesmente "Jane".

Seus olhos se desviam do espelho momentaneamente, encarando a adaga em suas mãos e buscando coragem para iniciar mais uma importante missão. Alec ainda estava em Volterra, no castelo que servia de esconderijo aos Volturis e sob a posse de Aro, e a ideia de deixar o clã sem levá-lo consigo era inconcebível. Ambos agora eram importantes para ela, Maximilian e Alec, e o orgulho de Jane não estava disposto a abrir mão de nenhum deles. Por isso ela voltaria para a Itália a fim de buscar o gêmeo.

Jane sentia que essa seria a tarefa mais importante e difícil de toda a sua existência, pois teria que fazer tudo sozinha, visto que o camaleão não poderia pisar em Volterra de novo. E se Alec se recusasse a ir? E se ele a considerasse uma hipócrita e traidora do clã, depois de tanto lhe cobrar que fosse leal? Ela temia que Alec não entendesse sua mudança, já que sequer tiveram chance de conversar sobre as suas recordações, mas se arriscaria mesmo assim, porque era Alec, o seu irmão, e ela não o deixaria para trás.

— O levarei nem que seja arrastado – conclui em pensamento, ajustando a adaga da família de Maximilian na cintura, como se ela fosse o seu novo "brasão" e representasse a sua lealdade a ele.

Jane sai do banheiro lentamente, caminhando até a sala e encontrando o vampiro sobre sua costumeira poltrona. Ele havia notado a sua movimentação e sabia de sua intenção de partir, e a vampira reconhecia isso somente por observar o olhar perdido em direção à janela, junto ao seu semblante de quem estava pensando um punhado de asneiras.

Seus olhares se cruzam assim que ela entra no cômodo.

— Pretende mesmo partir? – pergunta ele em tom de despedida, como se eles nunca mais fossem se ver caso ela passasse por aquela porta.

— Sim. Eu preciso voltar – responde somente, analisando o seu semblante e o questionando a respeito: – Em que besteira está pensando agora?

— Não é nada...

— Responda!

— Você vai ficar irritada. Você sempre fica brava quando falo sobre isso... – Ri levemente, não achando tanta graça na própria piada, mas tentando amenizar o clima estranho que se instalara entre eles desde o ataque de Andrômeda, no dia anterior.

— Só responda: em que besteira está pensando agora? – pergunta novamente, levando-o a se ajeitar na poltrona e morder o lábio inferior antes de responder.

— Estava pensando se em algum momento eu tive chance... – responde com sinceridade, e a vampira sabia exatamente sobre o que ele estava falando. – Fui até Volterra para reencontrar você e levá-la comigo, e entrei no clã com o intuito de fazê-la se lembrar de mim e de reconquistá-la... – Pausa, fixando os olhos nos dela antes de perguntar: – Alguma vez eu tive chance? Ou eu apenas me iludi de que poderia fazer isso?

Coração GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora