Sussurros no Vento

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Três dias se passaram sem que a neve desse trégua. Com o vento e os flocos brancos que não paravam de cair, Maximilian não conseguia recriar as trilhas para Andrômeda e, por causa disso, Jane não conseguia completar a sua missão e voltar para Volterra.

Ela já começava a ficar irritada novamente.

— A neve parará logo – diz Maximilian do sofá, tentando acalmar a vampira que andava em círculos ao redor da mesa de centro, na sala, um comportamento que ele nunca a tinha visto fazer até aquele momento, e que já o deixava preocupado.

— Essa espera já está ficando insuportável! – confessa Jane entredentes.

Maximilian engole em seco. Ele estava aproveitando cada minuto de seus dias ao lado dela, torcendo para que sua criadora demorasse ainda mais a aparecer, pois sabia o que lhe esperaria ao final daquela missão. No entanto, Jane não parecia apreciar aqueles momentos tanto quanto ele, e isso o magoava.

— A neve parará logo! – repete, como uma garantia de que retornaria ao trabalho assim que o tempo estivesse propício.

Havia tanta coisa que ele ainda não sabia sobre ela, tanta coisa de sua segunda vida que sequer teria tempo para descobrir. E como poderia, afinal? A sensação de que morreria em breve o atormentava todos os dias, como uma espécie de maldição, e, mesmo que Andrômeda demorasse a aparecer e seus dias naquela casa se prolongassem, o pressentimento continuava lá, o atormentando e o consumindo por dentro.

Tudo o que o vampiro podia fazer era suportar aquilo em silêncio, lutando para que o medo da morte não chegasse até o seu rosto e para que Jane não o visse mais. Ela o orientara a enfrentar o seu destino e ele estava tentando da melhor forma possível, querendo que, ao menos naquele ponto, ela sentisse orgulho dele.

A emboscada era outro ponto que lhe trazia mau presságio. Apesar de a vampira não falar a respeito e nem lhe contar suas possíveis suspeitas, Maximilian sabia que aquilo tinha sido arquitetado para ele e que somente um grupo de pessoas desejava a sua morte naquele momento: os Volturis. No entanto, como eles saberiam que estavam ali? Ele não havia dito a ninguém para onde iam e comunicou a Jane somente quando estavam fora de Volterra. Então quem seria o mandante de tal ataque? Será que Demetri os havia localizado? Ou a emboscada era obra de Andrômeda?

Maximilian sente um arrepio atravessar o seu corpo ao pensar em sua criadora, como se o simples fato de pensar a estivesse chamando para perto. Internamente, ele desejava que Jane conseguisse mesmo matá-la, porque se não pudesse, estaria perdido nas mãos dela...

— Está fazendo aquela cara de novo!!! – esbraveja Jane sentindo ainda mais raiva, reconhecendo no rosto dele o semblante de "eu vou morrer em breve". Ao contrário do que o camaleão acreditava, ela sabia que ele ainda tinha medo, ficando satisfeita com seus esforços em não deixar aquilo transparecer. – Eu já lhe disse que isso me irrita!!!

— Tem razão, você disse.

Maximilian sorri, engavetando todas as suas teorias e dúvidas no fundo de sua mente, mas o seu sorriso não alcança os seus olhos, o que incomodou a vampira de uma forma particular, afastando momentaneamente a sua preocupação com a missão. Ele já não sorria tanto e não a confrontava como antes. Em Volterra o camaleão se animava por muitas coisas e, às vezes, batia de frente com ela para retirar-lhe algum tipo de reação ou respostas maiores que monossílabos, no entanto, agora parecia mais retraído. Ela sentia falta do seu sorriso.

A vampira se aproxima da janela de repente, colocando-se a olhar para o lado de fora enquanto seus olhos se esbugalhavam com sua própria constatação. Ela sentia mesmo falta de seu sorriso? Sim, ela sentia, mas não fazia ideia de quando isso começara a acontecer.

Coração GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora