Lidando com Heidi

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Dois dias depois do tenso evento da biblioteca, Maximilian já estava cheio de Heidi.

Com exceção dos momentos em que a vampira trabalhava na recepção do castelo, organizando excursões que terminariam em um grande banquete, ela permanecia o restante do tempo no interior da construção, conversando com os membros mais comunicativos da Guarda ou ouvindo música na privacidade de seu quarto. Entretanto, um novo hobby se instalou em sua rotina desde que falara com Jane pela última vez: perseguir incessantemente o camaleão.

Maximilian entra na cozinha do castelo pela primeira vez. Ele sempre soube que ela existia, mas nunca tivera necessidade de estar ali até aquele momento, afinal, ele não precisava comer. A cozinha possuía um aspecto estranhamente limpo e conservado, apesar de nunca ser usado, e o vampiro julgou que o local deveria ser parte do trajeto das excursões – pelo menos, das excursões que não terminavam em morte.

Ele sentou-se em uma das cadeiras e respirou fundo. Será que Jane se sentia tão irritada, quando ele a seguia, quanto estava se sentindo agora? Heidi não o deixava em paz um segundo sequer, sempre o perseguindo e tentando seduzi-lo. Maximilian era aparentemente mais novo do que ela, mas, pelo que pudera notar, a vampira gostava de rostinhos novos como o dele.

O vampiro não era idiota, havia percebido o interesse dela há muito tempo, porém, somente agora ela realmente resolvera "investir" nele, e ele não entendia o motivo daquele estranho comportamento. Entretanto, por mais bonita e interessante que ela fosse – ou tentasse ser –, sua preferência por Jane não mudava.

— Talvez tenha que colocar tudo em pratos limpos, no fim das contas. – pensa ele com seus botões, com os olhos fixos em um ponto vazio na parede. – Algumas pessoas não entendem indiretas, sendo necessário usar todas as letras!

Aquilo seria bastante embaraçoso, ele tinha que reconhecer. Heidi era uma vampira legal, mas escolhera a pessoa errada para seduzir, alguém que já tinha o coração e a mente preenchidos por um amor de longa data, e que não o trocaria por nada. Ele nunca a corresponderia e nunca teve intenção de fazê-lo.

— Então você está aqui – diz Heidi quebrando o silêncio, fazendo o camaleão suspirar com impaciência.

— Precisava de um lugar calmo para pensar! Como me achou?

— Demetri o rastreou e eu segui suas orientações – explica ela, fazendo o vampiro crispar os lábios, sabendo que o rastreador estava fazendo aquilo de propósito.

— Isso precisa parar, Heidi – começa ele, levantando-se e fechando o semblante para mostrar que falava sério.

— Do que está falando?

— Disso. – Faz um movimento circular com o dedo. – Essa coisa de ficar me seguindo. Eu não posso lhe dar o que quer, e não vou lhe dar o que quer, mesmo que insista!

— Você persegue Jane, eu sei, todo mundo sabe! – lança Heidi com uma carranca.

— É mais do que perseguir, Heidi. Eu a amo desde muito antes da minha transformação, e esse sentimento nunca me deixou, sendo forte o bastante para cruzar a linha da imortalidade juntamente comigo...

— Ela não o quer, me disse isso pessoalmente.

— Tudo bem, eu... – Pausa, sentindo-se afetado pela verdade que Heidi esfregava em sua face. Por mais que percebesse aquilo, falar em voz alta parecia tornar tudo ainda pior, porém, ele manteve o semblante firme ao continuar: – Não é como se eu já não soubesse. Jane não se lembra de mim, mas tenho esperanças de que isso mude...

— Você é tão tolo quanto Renata, que se prende aqueles livros de romances estúpidos. Jane não vai lhe corresponder nunca, porque ela não sente nada por ninguém. Ela não tem coração!

Coração GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora