Pressentimento

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Após a descoberta dos poderes de Aro, os dias no castelo já não eram os mesmos para Maximilian. Ele estava deitado em sua cama, sem camisa e com os olhos fechados, quando uma sensação estranha se apoderou de seu corpo pela primeira vez. O camaleão nunca tinha sentido algo como aquilo antes, nem mesmo quando estava vivendo escandalosamente e fazendo coisas ilegais ao lado de Andrômeda.

Primeiro veio o estranho formigamento em seu corpo, que começou na ponta de seus pés e se alastrou pelos outros membros, terminando em um claro e gritante pensamento, que invadiu sua mente e o fez abrir os olhos no mesmo instante. Seus olhos vermelhos encaram o quarto vazio por um segundo, verificando se estava realmente sozinho ali, e, depois de se sentar na cama, ele deu voz àquele súbito raciocínio:

— Eu vou morrer! – sussurrou para o vazio, sentindo um calafrio percorrer toda a sua espinha e os seus instintos ativarem sua camuflagem no mesmo segundo.

No momento em que disse tais palavras, Maximilian soube que aquilo era verdade, soube que iria morrer, pois era isso que os seus instintos lhe diziam e era disso que sua camuflagem tentava protegê-lo.

A morte final nunca havia o assustado antes, afinal, ele não tinha mais família, nem amigos e nem a garota por quem sempre fora apaixonado. Ele definitivamente não tinha nada a perder. Contudo, depois que reencontrou Jane e conquistou novamente a amizade de Alec, o camaleão sentia que tinha readquirido uma parte importante de sua vida e isso era o bastante para querer continuar vivo.

— Aro vai me matar. Ele sabe de tudo, tenho certeza! – sussurra novamente, sentindo outro calafrio atravessar sua coluna.

Maximilian suspira profundamente, ponderando suas opções. Se ficasse ali, Aro o mataria e ele não ficaria com Jane. Porém, se fugisse agora para preservar sua existência, será que a vampira o acompanharia? Ele sabia que não, sabia que ela ainda não se lembrava dele e tampouco de sua promessa, sabia que seu tempo para conquistá-la estava acabando e que a lealdade dela com o clã ainda era forte.

— Acho que, de todas as formas, eu fracassei – sussurra para si mesmo. – As coisas não estão saindo como o esperado...

E depois desse dia, aquele estranho pressentimento não o abandonou mais. Independente do local em que Maximilian decidia ir ou com qual vampiro resolvia conversar, a sensação de sua morte iminente o acompanhava.

— O que houve? – pergunta Alec certa tarde, interrompendo o treinamento por conta própria por achá-lo aéreo demais, não parecendo tão concentrado ou desafiador como de costume.

— Nada – menti, esboçando o seu mais convincente sorriso para fazê-lo acreditar que aquilo era verdade. – Estava apenas pensando em você e Jane. Como vocês estão?

— Nos acertamos, como você disse... – revela sorrindo, sentindo a felicidade se tornar cada vez mais comum em seu interior, apesar de não poder exteriorizar algo desse tipo na frente dos outros vampiros do clã. – Ela até mesmo me pediu desculpas – segreda com um sussurro, deixando claro que aquele fato não poderia ser contado a mais ninguém.

— Nossa! Jane sabe pedir desculpas? – zomba no mesmo tom, apenas para fazer graça.

— Para mim, sim. Para os outros, tenho as minhas dúvidas – responde com um sorriso convencido nos lábios, fazendo o camaleão rir.

Maximilian gostava de Alec. Apesar de não se lembrar de muitos detalhes, o vampiro recordava-se de sua amizade com ele, no passado, e estava feliz por ter reestabelecido aquela ligação, mesmo que os mestres Volturis não apreciassem coisas como amor ou amizade verdadeira. Porém, o pressentimento de que iria morrer o fazia lamentar ter que perder novamente aquele amigo tão importante...

Ao pensar nisso, o camaleão novamente foi confrontado com a dúvida que o corroía desde o dia em que sentiu que faleceria em breve: por que Aro ainda não o havia matado? Seus instintos lhe diziam que ele sabia de suas intenções com relação a Jane, contudo, o permitiu ficar ao lado dela durante todo aquele tempo, mas por quê? Por que dar a ele aquela chance? Ou não se tratava de uma chance, e sim de uma punição, já que nunca atingiria o seu objetivo?

— Você está com aquela cara de novo. O que está acontecendo? – questiona Alec, fazendo o vampiro encará-lo com uma súbita vontade de lhe contar o que andava sentindo desde que descobrira sobre o dom de Aro.

Amigos serviam para isso, no fim das contas, para desabafarem e apoiarem-se mutuamente. Maximilian havia apoiado Alec quando estava brigado com Jane, dizendo-lhe que tudo ficaria bem logo porque nada poderia separar os gêmeos por muito tempo; e agora ele sentia vontade de ser apoiado também, de ouvir o seu único amigo de verdade dizer que aquela sensação bizarra não era nada, que Aro não sabia de suas intenções, que Jane se lembraria dele mais cedo ou mais tarde, e que tudo terminaria bem.

Contudo, quando ele finalmente se convenceu a contar à Alec o que estava lhe acontecendo, Renata invadiu o salão de treinamento como um tornado, com um semblante aflito que realmente não combinava com suas feições dóceis e tímidas.

— Jane e Demetri estão brigando! – lança num rompante, fazendo Alec e Maximilian correrem porta afora no mesmo segundo.

— Onde? – questiona o camaleão enquanto avançava pelos corredores, mas sem saber para onde ir.

— Na biblioteca! Eu sei que ela está lá! – responde Alec, não sabendo exatamente onde ela estava, mas sentindo, através da irmandade que os unia, que ela estava exatamente naquele cômodo.

Maximilian não tinha tempo de perguntar como ele poderia ter tanta certeza de sua localização, se eles passaram a tarde tendo um péssimo treinamento – devido a sua falta de atenção. Contudo, se tivesse perguntado, Alec certamente lhe responderia que não sabia como aquilo funcionava, que, quando pensava em Jane, ele simplesmente sabia onde ela estava e pronto, quando ia conferir, ela estava realmente lá.

Assim como Jane sentia "o chamado" conduzi-la ao gêmeo sempre que ele precisava de sua presença, Alec possuía um sexto sentido para a localização de sua irmã, como uma bússola interna que sempre o levaria até ela, caso precisasse. Porém, apesar de ambos os irmãos não revelarem estes segredos um para o outro, suas estranhezas se completavam, pois como gêmeos eles nasceram no mundo mortal e como gêmeos foram transformados, e se tornaram fortes pelo simples fato de terem um ao outro.

Os vampiros correm pelos corredores do castelo em direção à biblioteca, encontrando a porta aberta e alguns móveis revirados pelo chão. Alec avista Jane rapidamente, no canto esquerdo do cômodo, sendo pressionada contra a parede pelo pescoço e com os pés longe do chão, enquanto acertava Demetri com os joelhos na altura das costelas.

Seus olhos vermelhos exalavam raiva, havia um terrível corte em seu rosto e seus caninos estavam expostos, mas, apesar de valente, Jane era pequena e sem muita estrutura muscular, o que tornava os seus golpes insuficientes para causar algum dano em seu agressor, que era fisicamente mais forte do que ela.

Felix também estava presente no cômodo, assistindo ao confronto de braços cruzados, apenas esperando por um desfecho, todavia, não tomando partido de nenhum dos lados.

— Tire as mãos dela! – rosnam Alec e Maximilian ao mesmo tempo, irritando-se em uníssono e chamando a atenção de todos os presentes.

Coração GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora