Mexo-me desconfortavelmente no sofá devido ao nervosismo, espero ansiosamente que o Zayn venha aqui a casa, não tendo a certeza se o fará.
Eu estou bastante magoada com ele, mentir é das piores coisas que me podem fazer, apesar de, neste caso, eu até entender mais ou menos os seus motivos, no entanto, não servem de justificação. Não quero que a conversa de ontem seja a nossa última conversa, ainda por cima, não foi propriamente uma conversa amigável, depois de tudo que passamos juntos acho que, tanto eu como ele, merecemos falar como adultos que somos e, daí, tirar alguma conclusão.
Ouço o som da campainha indicando que, provavelmente, Zayn acabara de chegar, ele ainda tem a chave daqui de casa mas preferiu tocar. Levanto-me e dirijo-me à porta abrindo-a de seguida e confirmo que é mesmo o moreno pelo qual eu esperava.
-"Olá"- esboço um sorriso triste- "Entra"- dou espaço para que ele entre sendo que é o que faz.- "A nossa conversa de ontem não correu muito bem"- aponto para o sofá onde ambos nos sentamos.
-"É"- o seu nervosismo é evidente e presumo que o meu também- "Eu pensei que não ias querer ver-me mais à frente"- indaga- "Ninguém quer ligação a um traficante"
-"Não é essa a questão Zayn"- a minha voz permanece calma- "Claro que não fico feliz pela vida que levas mas eu sempre soube que não seria nada de bom, a julgar pelo facto de não me quereres contar, mas uma coisa era eu não saber e respeitar isso outra coisa diferente foi tu deixares que se passa-se tudo que se passou entre mim e os meus pais e eu ter-te perguntado e tu dizeres sempre que era mentira"- explico.
-"Eu só não te queria perder"- baixa a cabeça.
-"Admito que, no início, se eu soubesse que fazias o que fazes, talvez tivesse ficado um pouco reticente mas, como já antes te disse, não sou de julgar as pessoas e não deixaria de falar com alguém que gosto por saber disso"- profiro- "Não podias era contar com o meu apoio porque isso não faria, não acho correto que tenhas ido por esses caminhos ainda por cima eras um rapaz rico, não tinhas necessidade de te meteres nisso"- ele volta a encarar-me.
-"Apesar de, como tu mesma disseste, eu ser um rapaz rico, a minha vida não era conto de fadas Elena, o meu pai impunha que eu fosse o melhor e estava constantemente a comparar-me com o corno do James"- uma lágrima caí sobre o seu rosto- "Queria que eu tirasse as mesmas notas que ele, que eu seguisse os seus passos, ele nunca percebeu que eu era diferente, que ser contabilista ou empresário não era o meu sonho, a minha mãe entendia-me"- um brilho aparece no seu olhar- "Mas ela morreu e desde esse dia a minha vida foi uma merda, meti-me com as pessoas erradas e acabei onde estou"- solta um longo e ruidoso suspiro quando acaba de falar.
Apesar de ser namorada dele, nunca soube destas coisas, acho que falamos muito pouco sobre os nossos passados.
-"Eu não sabia disso"- por muito que eu não queira, porque sei o quanto ele odeia isso, sinto pena.
-"Não te contei isto para me fazer de coitadinho nem para tentar justificar a mentira"- limpa o seu rosto com uma das mãos- "Eu sei que agi mal mas eu amo-te, é tão difícil de perceber o medo que tinha de te perder? É tão difícil colocares-te no meu lugar? "- o seu tom mantém-se sempre calmo.
Eu sei, eu sinto, que tudo é verdade mas eu também sentia isso quando ele me mentiu.
-"É difícil acreditar em alguém que já me mentiu"- digo sinceramente enquanto coloco um pouco de cabelo atrás da orelha.
-"Eu imagino que sim Elena mas fico triste por saber que duvidas do meu amor"- tira e coloca de novo um dos anéis nos seus dedos encarando as suas mãos.
-"Agora vai acontecer o quê na investigação?"- mudo o assunto por não saber mais que dizer.
-"O mais certo é não conseguirem provar nada"- responde- "Já sabes quem fez a denúncia? "- passa mão nos seus cabelos/cabeça.
-"Não, só me disseram que tinham feito uma denúncia"- respiro fundo- "Tu sabes?"- volto a colocar o bocado chato de cabelo atrás da orelha depois de este sair e me incomodar.
-"O teu pai"- assim que ele diz isto a minha boca abre-se como demonstração da minha surpresa.
-"Não pode ser"- indago estupefacta.
-"Parece que ele estava disposto a tudo para que tu descobrisses a verdade, eu sabia que não devia ter sido nem o meu irmão nem o Lewis, nunca me denunciaram"- explica- "Assim que o teu pai soube que tinha sido encontrado um carregamento viu nisso uma oportunidade de te fazer ver quem eu sou"- respira fundo- "Fez a denuncia e a minha sorte foi que me ligaram a avisar"- recordo-me do telefonema de ontem no fim de almoço- "Tirei tudo que tinha em minha casa que nem era muito porque pessoas como eu nunca guardam coisas em casa e, para não suspeitaram ainda mais, fui até a esquadra e disse que me tinhas dito que eles andavam à minha procura"
Não condeno o meu pai, afinal, ele sempre me tentou alertar e eu nunca acreditei, ele é muito certinho, não me admira assim tanto que tenha denunciado o Zayn mas não pensei que o fosse fazer, nem me passou pela cabeça essa possibilidade.
-"Não fazia ideia de ter sido ele"- indago.- "Espero que não sejas preso"
-"Eu sei"- sorri- "E nós? Como ficamos?"
-"Eu amo-te e isso é mais que evidente"
-"Achas que és capaz de acreditar em mim e ficar ao meu lado?"- pergunta esperançoso.
-"Achas que és capaz de deixar essa vida?"- respondo com outra pergunta.
-"As coisas não são assim, sair não é fácil, eu controlo uma rede"- explica.
-"Como é que vamos viver uma vida normal sabendo que tu andas nisso?"
-"Como temos vivido até agora Elena, até porque depois desta investigação vamos ter que parar um bocado para não levantar suspeitas mas não me peças para sair disto porque não dá "
-"Eu odeio a ideia de te ver sair de casa e saber que vais para essa merda, tu não consomes pois não?"- já lhe perguntei isto uma vez mas foi há imenso tempo.
-"Não, agora não"- profere- "É a minha vida, eu próprio já quis sair mas não dá, se quiseres estar comigo vais ter de aceitar essa minha faceta mais escura, vais ter de o fazer"
Eu não sou capaz, eu amo-o mas não consigo viver uma vida assim, eu tenho 18 anos, vou viver o resto da vida apavorada, com medo que lhe aconteça alguma coisa ou que seja preso?
-"Eu quis que viesses cá porque achei que merecíamos esta conversa mas não me peças para aceitar tudo, não me peças para aceitar o facto de seres um traficante"- limpo uma lágrima que insistiu em cair- "Somos de mundos diferentes"
-"Eu entendo aquilo que dizes e sei que ficares ao meu lado talvez não seja a melhor opção, admito que ainda tinha esperança que ficasses"- funga o nariz.
-"Lamento mas eu não sou capaz"- são as últimas palavras que dirijo ao moreno antes de ele se levantar e sair do meu apartamento.
"Nem todo o amor do mundo consegue unir o que a vida quer separar"
Fim.
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Dark Romance {Z.M}
Fanfiction"A certa altura, tens de perceber que algumas pessoas podem ficar no teu coração mas não na tua vida" Nem todo o amor do mundo consegue unir o que a vida quer separar. Elena & Zayn #777 #286 #130