Sabe quando você acorda pensando que queria ter continuado a dormir? Talvez para sempre? Foi como eu acordei hoje. Eu lembrei do baile (que não tinha a menor vontade de ir), fiquei resmungando porque teria que ir para a casa da Babi de ônibus e ainda por cima com o meu vestido de 2 toneladas e não gostei quando o pressentimento de que uma coisa ruim iria acontecer voltou.
Levantei da cama resmungando, tomei banho resmungando, tomei café da manhã resmungando e resmunguei comigo mesma porque estava resmungando muito.
Na verdade, eu acordei bem tarde, pouco antes do horário de almoço, mas não me importei, tomei café da manhã normalmente. Fui ao meu quarto, troquei de roupa e arrumei o meu vestido em uma bolsa junto com as poucas maquiagens que tenho. Então, eu lembro que não tenho nenhum sapato adequado para o baile, mas talvez a Babi tenha um salto baixo.
Para tentar chegar na casa da Babi no horário marcado, saio de casa e vou para o ponto de ônibus. O ônibus chega minuto depois, porém, está lotado, e muito, se não entrar nesse, vou chegar atrasada na casa da Babi. Eu mal entro no ônibus e o motorista segue seu caminho me fazendo dar um tropeção para frente e esbarrar em uma moça.
- Ai meu Deus. Me desculpa, moça. - eu mal termino de me desculpar e a moça, bem irritada, me joga em cima de um cara, o cara, por sua vez, decide me jogar no chão, o que leva vários passageiros a me olharem e um menininho gargalhar de mim no colo da mãe. Ótimo. Eu fiquei balançando de um lado para outro no chão, batendo na perna das pessoas até o motorista parar no próximo ponto porquê eu não conseguia me equilibrar o suficiente para levantar. Mais pessoas sobem no ônibus e mais passageiros ficam se espremendo e se empurrando, eu acabo grudada na catraca do ônibus atrapalhando quem quer passar, por isso, eu mesma acabo passando pela catraca. Gentilmente vou pedindo licença ás pessoas para ficar perto da porta de saída já que graças a Deus meu ponto está chegando. Quando chego a porta um cara de mais ou menos cinquenta anos, peludo e suado acaba se espremendo atrás de mim, pois tem muitas pessoas o empurrando para a porta, eu consigo sentir até a respiração dele na minha nuca e consigo sentir também o cheiro do seu suor.
- Você é muito bonita! - o cara diz com a voz áspera na minha orelha. Ai meus Deus, me tira daqui! Então ele põe a mão na minha cintura e aperta.
- Me solta ou eu grito - eu ameaço com a voz baixa e tremendo, parece que ele acha que eu estou blefando porque ele aperta mais ainda a mão na minha cintura, talvez eu esteja blefando mesmo, mas se o desespero for grande eu grito mesmo, então acho bom ele tirar a mão daí. Tento respirar apenas pela boca já que o cheiro dele está mais forte, e solto um suspiro de alívio por dentro quando vejo que meu ponto está chegando, aperto o botão na barra de ferro para alertar o motorista que meu ponto está chegando. Droga, agora a mão dele está descendo. Que nojo! Como ninguém está vendo o que está acontecendo?
- Não vai embora, não, gostosa. Espera chegar no meu ponto, daí a gente pode ir para a minha casa! - ele segura meu braço e cochicha no meu ouvido.
- Me solta! Agora! - digo me soltando de seu braço, para a minha sorte a porta do ônibus se abre eu salto para fora. Fico com medo de que venha atrás de mim, mas ele fica lá me encarando com um olhar de ódio.
Ainda bem que o condomínio onde a Babi mora fica perto do ponto de ônibus assim eu não preciso andar muito. Cheguei na portaria e sr. Geraldo, o porteiro lembrou de mim e me deixou entrar logo de cara. Bato na porta e Babi abre sorridente.
- Nai, entra aí as meninas já chegaram! - ela abre mais a porta para me dar passagem. Então, ela viu minha expressão assustada e o sorriso desapareceu. Ainda estou sentindo a mão suada e nojenta daquele cara tarado na minha cintura. - O que aconteceu? - conto toda a história do homem tarado para Babi. - Que horror, Nai! Você está bem?
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PRETO E BRANCO • [Em Revisão]
Teen Fiction[CONCLUIDA] Naiara é uma menina decidida e dedicada, ela não é nem um pouco influenciável, mas assim como qualquer outra pessoa, ela tem que enfrentar fantasmas de seu passado, alguns os quais ela nem tem conhecimento ainda. O que será que ela fez...