14 - hóspede...

24 5 1
                                    

- Qual é o problema com a minha casa? - ele não responde. Ele abre o porta-malas, pega todas as malas de uma vez e fica esperando que eu pegue o meu material também, mas eu não o faço, fico apenas encarando o carro dele que é inacreditavelmente idêntico ao da série.

- Você gostou mesmo do meu carro, não é? - ele estica o braço se apoiando na traseira.

- Você é muito convencido, mas, sim, eu gostei do seu carro - eu me abaixo e vejo os bancos de couro preto e o rádio na qual a única estação é uma de rock.

- Eu pensei que você tivesse medo desse tipo de série! - eu dou uma risada um pouco surpresa.

- Você tem razão, eu morria de medo des série, ainda tenho um pouco de medo, mas meu pai não parava de falar sobre esse carro e essa série. Um dia nós achamos o carro para vender e eu pude entrar nele e ver bem de perto, ele parecia bem legal e eu acabei gostando.

- Seu pai conseguiu comprar o carro? - balanço a cabeça negando - Por quê?

- Vamos entrar! - mudo de assunto pegando, finalmente, meu material no porta-malas e o fechando.

O sol nasceu há menos de duas horas atrás e já está brilhando fortemente no céu. Se eu estivesse na escola, poderia ver o sol brilhar assim através da janela da minha sala de aula, mas eu estou aqui, destrancando a porta da minha casa com Luccas fazendo uma cara azeda. Tudo isso porque levei uma suspensão por causa dele, aliás, não sei porque não estou brava, não sei nem porque ele não está bravo.

Ele é louco, isso sim, fomos para a diretoria porque ele explodiu. Chegando na diretoria ele sorriu docemente para a diretora e riu de mim, depois começamos a conversar normalmente sobre o carro dele. E então, chegando aqui ele fica olhando para minha casa como se fosse uma caixinha de fósforo grudenta, isso não é normal. Por que não estou irritada? Fui suspensa da escola pelo resto da semana, ele vai morar na minha casa e nem tem um tempo exato.

Quando eu destranco a porta e coloco a mão na maçaneta para girá-la, meu coração acelera. Eu dei meu máximo para arrumar essa casa depois que meu pai causou aquele "acidente" no meu quarto, na cozinha e na sala. E mesmo depois de ter terminado a limpeza, achei uns portas-retrato com as fotos da minha mãe e do meu pai, jogados e quebrados embaixo da cama deles.

- E aí? Vai abrir ou não? Está com medo do que eu posso encontrar na sua própria casa? - ele provoca. Não percebi que havia parado para pensar no meio da ação por tempo. Eu  finalmente abro a porta e entro primeiro colocando minhas coisas no sofá. Ele entra e olha ao redor reparando em cada detalhe. - Tem comida? Estou com fome! - ele finalmente diz algo, mas não é o que eu esperava, nem de perto é oque eu esperava.

- Na verdade não...e-eu estava pensando em ir ao mercado hoje, mas... - eu paro, não posso dizer que é porque eu não tenho dinheiro, eu estou morrendo de fome e para ajudar mais ainda minha barriga resolve roncar o mais alto que ela consegue justo agora, tinha até esquecido que estava com fome com tudo oque aconteceu nas últimas horas, mas minha barriga não, ela continuava lá, roncando firme e forte.

- Isso...isso foi sua barriga? Há quanto tempo você está sem comer? - ele coloca todas malas em um canto do sofá e chega mais perto de mim.

- Há uns dois dias, mas eu só percebi o quanto estava com fome hoje de manhã!

- Você está há dois dias sem comer nada? Como você ainda não desmaiou? Vamos ao mercado AGORA! - ele quase grita, pegando as chaves do carro do bolso.

- Espera! Não dá! - eu o paro.

- Por quê? - ele pergunta irritado

- Eu não tenho dinheiro - respondo tão baixo que tenho quase certeza que ele não ouviu, mas ouviu.

PRETO E BRANCO • [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora