25 - Os super melões

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É tão bom voltar para casa e lembrar que não tive que tomar soro...infelizmente, eu não tive a oportunidade de sentir essa felicidade. Como sempre enfiaram uma agulha gigantesca em meu braço e tive que ficar esperando as bolsas de soro acabarem para eu poder ir embora. Esse lugar é horrível. Ainda bem que a comida era boa.

- Você está se sentindo melhor? - Lucas pergunta quando entramos no carro.

- Bem melhor do que antes. - respondo com um sorriso reconfortante esperando que ele pare de se preocupar tanto.

- Olha, a médica me disse que você só precisa se alimentar mais e melhor. Então, vamos passar em um mercado para compramos alguns vegetais, frutas e essa coisas ruins, mas que você tem que comer.

- E você não? Você não precisa comer frutas e vegetais?

- Não. - ele dá um sorriso de lado e automaticamente começo a sorrir também. Estou ficando louca!

Em poucos minutos, Lucas estaciona na frente de um mercadinho pequeno e apertado, nunca tinha vindo aqui antes, mas tenho certeza de que fica perto de casa. Ele abre a porta para mim e começa a andar atrás de mim como um guarda-costas.

- O que você está fazendo? - me viro bruscamente. Ele está andando devagar como se eu fosse uma senhora com um andador, como se eu pudesse cair a qualquer momento.

- Bom, se você desmaiar pela centésima vez hoje, eu vou estar aqui para te segurar pelo menos uma vez. - O que? Eu nem desmaiei tanto assim. Minha resposta é apenas uma revirada de olhos, não sei o que dizer sobre isso.

Entramos no pequeno mercado e Lucas praticamente corre para as verduras e legumes. Você gosta de aipo? E de couve, e de ervilha? ele fica perguntando. Eu poderia até pensar que ele é uma pessoa boa, se ele não tivesse colocado tudo no carrinho mesmo que eu tenha dito "não" para todas as perguntas.

- Eu não vou comer nada disso! - pego um negócio dentro do carrinho que parece ser algum tipo de raiz - Isso é gengibre? - ele concorda - Que horror! Você está tentando me matar? - ele revira os olhos e tira e treco da minha mão e coloca no caixa.

Uma moça que tem no máximo seus dezenove anos, pega as coisas no carrinho e passa tudo com tanto desgosto...mas só até olhar para cima e ver Lucas abrindo a carteira. Ela se senta mais ereta e puxa o uniforme para baixo, aumentando seu decote. É, eu sei que ele é bonito! Mas pelo menos não haja como uma piranha.

- Qual é a forma de pagamento? - então, ela se debruça sobre o caixa como se não conseguisse ver o que está escrito na tela do computador. Lucas entrega uma nota a ela que abre o caixa para pegar o troco. Então, por acidente, ou não, umas das moedas cai entre seus seios. Essa vadia só pode estar brincando comigo! E enquanto tudo isso está acontecendo, Lucas está colocando os vegetais na sacola. Ela enfia a mão no meio daquelas duas bolas de basquete e estica o braço para finalmente entregar o troco para Lucas.

- Quer saber? - não me aguento - Você pode ficar com o troco. Você precisa mais do que a gente. - pego algumas das sacolas e ando rápido até o carro. Lucas coloca as compras no banco de trás.

- O que foi que aconteceu? - Lucas pergunta todo inocente.

- Como se você não tivesse visto.

- Vi o que? - ele finge muito bem, deve estar acostumado com as meninas dando em cima ele o tempo todo.

- Aquela menina. Quase fez um stripetease para você. Aqueles dois melões dela estavam implorando pela sua atenção. - ele para em um farol vermelho e começa a dar risada.

- Eu juro que eu não vi, eu estava colocando as compras na sacola e nem olhei para ela. E por que você ficou tão brava? Está com ciúmes? - Sim! E daí?

- Não! - minto - É que esse tipo de vulgaridade me incomoda. - evito olhar em seus olho, portanto, fico olhando pela janela até chegar em casa, e graças a Deus não demora muito.

Chegando em casa, Lucas vai para a cozinha e eu vou tomar um banho, já são quase dez da noite e eu preciso dormir por que amanhã eu tenho aula. Preciso organizar a minha vida. Enquanto estou no banho repasso na minha mente tudo o que está acontecendo.

1- Meu pai me abandonou e minha mãe nem sabe. E eu não sei como contar a ela.

2 - Eu não faço ideia do lugar onde meu pai está agora, por onde ele anda,o que está fazendo, onde está dormindo, porquê fez o que fez. E isso me preocupa.

3 - Não tenho dinheiro para nada, até agora Lucas está pagando tudo e eu estou indo em festas como se eu não me importasse que com a conta de água ou de luz.

4 - Minha mãe ligou apenas uma vez desde que saiu para viajar e eu não sei ela conseguiu um emprego ou não, nem quando vai voltar.

5 - Eu não tenho onde comer nem beber, já que meu pai quebrou tudo. Não tenho armários e até um pedaço da parede está me faltando.

6 - Nunca soube esconder os meus sentimentos de mim mesma, sempre admiti o que eu estava sentindo, mesmo que eu não quisesse aceitar, eu aceitava...e eu sei exatamente o que sinto por Lucas e isso me preocupa.

7 - Estou preocupada porque acho que estou me apaixonando por um menino que me odeia, que quer o meu mal e me trata mal. Não sei o que eu vi nele. Ele me confunde, ás vezes me trata mal e me faz chorar e ás vezes ele é tão gentil que me dá vontade de agradecê-lo o tempo todo pelo o que ele faz.

8 - Gostaria de considerar todas as coisas horríveis que Lucas fez para mim e nunca pediu desculpa nem demonstrou arrependimento, mas eu não consigo. Por que sempre preciso perdoar e relevar?

9 - Eu também perdi minha melhor amiga, e tenho dois amigos que perderam suas namoradas por uma traição e não vai ser fácil reconfortá-los amanhã.

10 - Não falo com a Gaby e Vinicius há muito tempo e não sei como vou explicar meu sumiço.

Resumindo: Eu não tenho ideia de como vou consertar a minha vida.

Apenas saio dos meus pensamentos quando a água do chuveiro começa a ficar gelada e de repente as luzes se apagam. Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha. Desço as escadas do jeito que estou mesmo. Lucas nem vai me ver assim está completamente escuro, preciso me esgueirar nas paredes para chegar ao topo da escada.

- Lucas? Você sabe por que estamos sem luz? - consigo ver sua silhueta na porta da cozinha, então fico tentando encarar seus olhos.

- Não sei. Você pagou a conta de luz? - droga! Sabia que cedo ou tarde ele iria perceber - Droga, Naiara! Porque você não me avisou? Eu podia ter pago.

- Esse é o problema, Lucas. Eu não quero que você faça mais nada para mim. Eu não sei por que você está sendo tão gentil comigo e isso me incomoda, por que sei que você não seria assim comigo por livre e espontânea vontade. Você deve se sentir obrigado a ser tão gentil comigo ou algo assim porque depois de tudo o que você fez, não é fácil enxergá-lo como uma pessoa prestativa e bondosa. Então não quero que você faça mais nada para mim por obrigação. - nunca pensei que diria tudo isso, estava na minha cabeça, mas não pensei que eu pudesse colocar em palavras.

- Quer saber? No começo eu queria sim foder com a sua vida assim como você ferrou com a minha, mas você sabe o quanto é difícil para mim te ver sofrer? Eu tentei ser legal, eu tentei mudar por você mesmo indo contra meus princípios, eu podia simplesmente acabar com a sua vida inteira, mas eu não consigo. E se isso não é o bastante para você, eu posso ir embora que não fará diferença. - princípios? que princípios?

É tão estranho brigar com ele sem poder vê-lo, mas tenho certeza de que se eu visse seu rosto de dor e decepção, eu ficaria ainda mais acabada. Ele passa devagar por para não tropeçar ao subir as escadas no escuro. E eu só fico parada ouvindo-o arrumar todas as suas coisas e depois passar por mim uma última vez e ir embora. Sem dizer nada.

PRETO E BRANCO • [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora