PRETO E BRANCO • [Em Revisão]

32 - Eu estava errada.

- Oi! - O menino Eduardo diz para mim. Gostaria de responder alguma coisa, mas minha voz não sai, tudo o que sai de mim são lágrimas e mais lagrimas. Eduardo puxa seu irmão mais velho e pergunta em seu ouvido algo que consigo escutar claramente: - Por que ela está triste? Ela não gostou de mim?

- Não é isso! - Lucas responde - Tenho certeza que ela não está chorando por sua causa.

Não suporto o que está acontecendo e consigo forçar minha pernas a saírem do quarto, mas elas não aguentam muito e eu caio no chão no meio do corredor. Lucas vem logo atrás de mim. As lágrimas descem sem parar agora.

- Por que? Por que está fazendo isso comigo? Está tentando mostrar o quanto sou horrível? O quanto posso ser perturbada? - Eu questiono em meio as lágrimas.

- Não. Não, claro que não. Estou tentando te mostrar que está tudo bem e que não tenho raiva de você. Queria apenas que você entendesse por que eu tenho sido tão cruel com você todo esse tempo.

- Eu entendo você. Entendo tudo o que você fez. E acho que mereço muito mais.

- Não, Naiara. Eu só estava com raiva por que você conseguiu mudar tão rápido.

- Como...assim? - pergunto entre um soluço e outro. Ele senta ao meu lado e encosta na parede olhando para o nada.

- No primeiro dia de aula. - ele começa - Eduardo tinha acabado de sair da cadeira de rodas por que já estava conseguindo alguns movimentos das pernas, era o primeiro dia dele com as muletas, então eu estava muito preocupado com sua adaptação, eu não parava de trocar mensagens de texto com Agatha para saber como ele estava a indo. E daí eu trombei com você. - ele engole em seco. Por isso ele estava tão concentrado no celular. - Eu te reconheci na hora e você estava usando uma maldita camisa polo. Era muita hipocrisia, eu pensei. - ele explica com dor em seus olhos - Então eu gritei com você, já estava todo tenso e você brigou comigo por ser rude. Eu achei o cúmulo você me dando lição de moral, logo você. - ele parou para pensar e eu tentei respirar.

- Continua. - eu pedi. Minha voz quase inaudível.

- Tive aquela aula de química com você, eu não estava acreditando que você tinha pulado um ano por causa das boas notas, pensei que fosse tudo uma grande pegadinha. - ele deu um pequeno sorriso de lado - Daí o professor me pediu para fazer aquele vulcão com você, tudo por que eu cheguei atrasado por que estava conversando com a Agatha. Então eu descontei tudo em você. Não fazia nenhum sentido eu estar sofrendo tanto pelo o que você tinha feito e ainda me sair mal e você com todos os elogios. Você estava fazendo amigos e saindo para comprar vestidos para o baile enquanto eu saia para comprar remédios. - uma lágrima escorreu pelo seu rosto e eu não estava mais aguentando, eu já sei onde essa história termina. - Então você já sabe, eu fiz tudo aquilo no baile e eu estava te odiando por você ter mudado tanto sua vida e a minha continuado na merda, até que eu fui obrigado a morar com você, só Deus sabe o quanto minha raiva cresceu e eu me revelei ainda mais. - As lágrimas não escorriam mais pelo seu rosto, já eu tinha certeza de que estava com os lábios roxos de tanto chorar - Eu sempre fui de guardar raiva dentro de mim, eu dei uma festa com strippers e bebida alcoólica quando eu tinha 12 anos, sabia? Só por que minha mãe me fazia vestir aquelas roupas horríveis e dizia não para quase tudo o que eu queria fazer - ele sorri ao se lembrar - Mas então eu percebi o quanto você havia mudado de verdade e o quanto você lutou para isso, tudo o que fiz para você, você suportou de cabeça erguida. - ele segurou minhas mãos fortemente com uma mão e com a outra ele segurou meu rosto e tirou as lágrimas que ainda desciam. - E eu? Eu guardei minha raiva por todos esses anos. E ainda sim, no meio de tuda essa raiva e sofrimento... - Ele olha no fundo dos meus olhos - eu me apaixonei completamente por você. - ele me encara e eu não consigo dizer nada. Nada. Apenas respiro fundo e beijo ele com toda a vontade do mundo.