PRETO E BRANCO • [Em Revisão]

11 - Droga de sensação ruim!

Eu estou com medo de como o dia vai render hoje. Meu pai é a primeira pessoa em que penso quando acordo. As lembranças de ontem á noite voltam com tudo na minha mente e as lágrimas enchem meus olhos quase instantâneamente. Será que amanhã ele vai conseguir olhar nos olhos da minha mãe de novo depois que ele colocou tudo para fora? Ou será que ele vai fingir que nada aconteceu e dizer que a ama na maior cara de pau?

Fico algum tempo na cama pensando se meu pai se lembra do que aconteceu ontem; se hoje ele me pedirá desculpas por tudo o que disse ou se irá apenas se queixar da dor de cabeça que provavelmente virá; se irá querer saber o que fez todo aquele estrago na cozinha ou se irá querer me bater de novo e quebrar mais coisas; se ele irá dizer que vai mudar ou irá confirmar as minhas suspeitas de que perdi meu pai para as drogas e o álcool. Então, de repente, minhas dúvidas se acabam.

- DESLIGA ESSA BOSTA! - ouço meu pai gritar do quarto dele, e só então percebo que o alarme do meu celular está tocando.

Enxugo uma lágrima idiota que escorreu pelo meu rosto e levanto para tomar banho. Dou uma olhada geral no quarto e vejo como está bagunçado. A base da minha prateleira está quebrada no chão junto com alguns livros amassados e várias páginas do livro que meu pai destruiu. Vendo o lado positivo, os livros novos não foram nem tocados já que coloquei eles no topo da prateleira. Ele também derramou uma boa quantidade de uísque pelo quarto. Tenho que me controlar para não começar a limpeza, mas a prioridade agora é a cozinha.

Antes de entrar no chuveiro, tranco a porta do meu quarto para garantir que mais nenhum estrago seja feito. Dou uma olhada no espelho do banheiro e percebo que minhas olheiras estão enormes, eu estou pálida e a única cor que meu rosto tem é o vermelho, quase roxo, da minha bochecha, graças ao meu pai. Como é possível a marca de um tapa ficar tanto tempo no rosto? Quando ele meu deu aquele tapa, foi como levar uma soco de um lutador de UFC. Nunca levei um soco de um lutador de UFC, é claro, mas deve ter o mesmo nível de dor. Acho que ele acumulou toda a raiva que sentiu de mim nesses quinze anos e descontou ontem á noite. Tento esconder a marca de sua mão em meu rosto com maquiagem, mas não dá nem um pouco certo, a única solução que encontro é ir de cabelo solto e deixa-lo cobrindo a minha bochecha.

Dou uma espiada no quarto do meu pai depois que já tomei banho e coloquei uma roupa simples, ele está dormindo profundamente, porém, com uma expressão totalmente carrancuda e fechada. Desço as escadas devagar já que mesmo bêbado, meu pai parece ter o sono leve. Tive que programar meu celular para que o alarme tocasse mais cedo já que meu pai exigiu que eu limpasse toda a bagunça feita por ele, porém, acho que tenho uma certa parcela de culpa já que eu fui a primeira a espalhar cacos na cozinha quando peguei a garrafa de uísque da mão dele e joguei contra a parede.

Chegando na cozinha, levo um susto enorme. Depois que me mandou subir para o quarto, eu ainda pude ouvir coisas quebrando, mas não pensei que ele tinha quebrado tantas coisas. Acho que não existe um pequeno espaço nesta cozinha que esteja sem cacos e uísque. Tem na parede, na pia, no balcão, alguns respingos nos armários e na geladeira, e muito, muito mesmo no chão. Não consigo dar uma passo sem pisar em algum caco ou escorregar em uísque, ainda bem que estou com minhas sapatilhas.

Começo a limpeza sem pensar, varrendo todos os cacos, passando pano e bastante desinfetante. O suor escorria junto com as minha lágrimas, que desciam toda vez que tentava não gritar com cada caco que me cortava, se a cozinha não estivesse tão suja, diria que meu sangue sujou mais do que a própria bagunça que estava presente a pouco tempo. Nem sei porquê tomei banho e depois vim limpar a cozinha se ia suar tanto, acho que só não queria limpar tudo de pijama. Depois de ficar mais tempo do que achei que ficaria limpando aquilo, não fiquei muito satisfeita com o resultado, ainda tem algumas coisas, mas dá para enganar meu pai.