12 - Ele vai pagar!

39 4 0
                                    

- Pai!? - chamo ainda olhando para a chave a em minhas mãos e com medo da resposta, mas ninguém responde e me assusto completamente quando levanto a cabeça e olho a situação da apertada sala de estar a minha frente. Todo o ar que podia estar em meu pulmões saiu. A minha voz se foi e meu coração não tem espaço para mais nenhum sentimento a não ser dor e susto. Já vi uma parte dessa cena ontem a noite, mas hoje está pior.

Caminho devagar na sala tentando desviar de dezenas de maços de cigarros espalhados pela sala. Isso aqui está pior que ontem, tem várias garrafas de bebidas espalhadas pelo chão, vários cacos de vidro no sofá e no tapete. É sério! De onde vem tanta garrafa de bebida alcoólica? Ele não consegue pagar as contas, mas consegue dinheiro para comprar uísque e cigarro! A cortina está rasgada e a uma das paredes que é de gesso está com um buraco do tamanho de uma bola de basquete. O sofá está totalmente molhado e com um cheiro horrível de uísque.

Ando lentamente até a cozinha e percebo que está com um cheiro de maconha horrível. E não é para menos, o balcão está cheio de vários tipos de drogas como, maconha, cocaína, crack. Os armários que estavam quase vazios antes, agora estão no chão e as poucas coisas que tinham estão quebradas. As janelas também estão rachadas e tem vários pedaços de vidro no chão. Vejo algo em cima do balcão no meio de toda aquela droga, mas mesmo com muito nojo consigo pegar o bilhete e lê-lo.

Não tenho mais nada pra fazer nessa casa!
ASS: Carlos

Oque? Isso é um absurdo, não possível que meu pai tenha feito isso. Como assim? Claro que ele não tem mais nada para fazer nessa casa, ele já destruiu quase toda a casa. Penso nele enquanto sinto uma lágrima descer pelo meu rosto e molhar o papel em minhas mãos. Com raiva, rasgo o bilhete e jogo do lixo ao meu lado. Ele é meu pai, não pode nos abandonar.

Começo a subir as escada correndo, entro no quarto, que agora é da minha mãe e abro o guarda-roupa e as gavetas. Não tem mais nada do meu pai ali, nem um mísero par de meias. As malas que estavam em cima no guarda-roupa se foram. Ele não nos abandonou. Não posso e nem quero acreditar nisso. Ele pode ter pego todas as roupas do guardas-roupas porque não sabe quando vai voltar. Ele foi se encontrar com a minha mãe. Ele vai voltar. Ele não nos abandonou. Daqui a pouco, minha mãe vai ligar e dizer que está tudo bem e que meu pai está com ela. Eu posso ter interpretado o bilhete de uma forma errada, não é? Ele pode ter dito que ele acabou de fazer o que tinha que fazer aqui em casa por hora e que agora a função dele é apoiar minha mãe ou coisa assim, não é?

O resto do dia fico inventando hipóteses e teorias. Eu tento não acreditar no que está acontecendo, não quero aceitar o que claramente está a minha frente. Não quero aceitar no fato de que...meu pai me abandonou. Meu pai nos abandonou, minha mãe e eu. Essas hipóteses e teorias estão sendo inventadas por que ele é meu pai, eu ainda o amo, mas então percebo que ele não pensa assim , ele não me ama e não sei se um dia já amou. A raiva toma conta de mim por um tempo e tenho apenas uma frase em mente:

Ele vai pagar!

***

PRETO E BRANCO • [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora