21 - A Festa - parte 2

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Levanto a cabeça e vejo Gustavo com uma garrafa de cerveja na mão. Mesmo com a pouca luz do ambiente consigo ver que chorou. Está com os olhos completamente inchados.

- Namoramos por muitos meses. - ele despeja tomando vários goles seguidos da cerveja.

- Tivemos uma amizade muito longa. Mas sabe? Você não precisa beber para esquecer disso.

- Preciso sim. Mas o que eu mais preciso é pegar alguém para esquecê-la. - isso é uma coisa que não admiro nas pessoas, principalmente nos homens. Beijar só por beijar, para esquecer outra pessoa não faz muito sentido para mim.

- É. Talvez isso funcione para você, mas não deve funcionar para mim.

- Vamos testar, então. - antes que eu possa dizer qualquer coisa, Gustavo gruda seus lábios nos meus. Ficamos assim por um momento e eu o empurro.

- Por quê você fez isso? - pergunto desesperada.

- Você é gata. - ele dá de ombros e dá mais um gole na bebida, já está bêbado.

Levanto do sofá e ando até a cozinha. No caminho, vejo Bia oferecer um copo de cerveja ao Lucas pela milésima vez, mas desta vez ele aceita. Chego na cozinha e abro os armários a procura de copos. Não me sinto bem fuçando em tudo, mas preciso tirar esse gosto de cerveja barata dos meus lábios.

Acho um copo e acabo enchendo com a água da torneira mesmo. Encosto na pia e fico encarando as pessoas dançando em frente à porta. Pouco tempo depois, uns caras que parecem ser os amigos de Lucas lá da escola entram na cozinha sendo apoiados pelo próprio Lucas que parece não conseguir ficar em pé de tão bêbado.

- Eu to bem, beleza? Só quero um pouco de água. - os amigos de Lucas trocam olhares maliciosos e um deles fala:

- Eu sei preparar um shake que é bem melhor do que água para tirar o álcool do sangue. - óbvio que é mentira, mas Lucas está bêbado demais para perceber isso.

- Manda ver - ele fala se apoiando no balcão, eles nem estão me vendo. Ou só estão me ignorando mesmo.

Meia hora depois uma gororoba horrível está prestes a acabar com o estômago de Lucas, não por estar cheio de coisas nojentas, mas sim por esse negócio  estar lotado (lotado mesmo) de leite e queijo. Me deu nojo só de ver ele colocando no liquidificador.

- Aqui está. Vai fazer bem. Se você não tomar não vai poder dirigir seu lindo carrinho de volta para casa. - o mestre-cuca debocha e seu ajudante começa a rir.

Lucas pega o copo e tudo começa a passar em câmera lenta na minha cabeça: Lucas vomitando até seu pâncreas doer e depois brigando comigo por deixá-lo tomar isso. Se ele acabar ficando doente por causa disso, nem tenho dinheiro para comprar remédios. Sem perceber, pego o copo de sua mão e bebo tudo, foi tão rápido que nem senti o gosto da bebida. Claro que eu podia ter simplesmente tirado o copo de Lucas ou jogado no chão, mas não quero causar problemas à Luana, principalmente depois de ter ouvido ela chamar atenção da Bia.

Os tais "amigos-do-Lucas" me encaram com raiva e surpresa ao mesmo tempo, eles devem ter ficado furiosos por um ter salvo o Lucas de ir para o hospital e surpresos por eu ter tomado tudo tão rápido sem fazer careta nem passar mal, claro que estou fazendo cena, posso calcular o horário exato em que meu estomago vai me trair e devolver esse shake em qualquer lugar, não importa onde eu esteja. Pelo menos o gosto de cerveja saiu dos meus lábios.

- Por quê vocês estão tentando envenenar ele? - pergunto, na verdade, nem me importo com a resposta, só quero que parem de me encarar e vão embora.

-  Foi só uma brincadeira. - o ajudante explica.

- Vocês sabem muito bem que foi uma brincadeira de muito mal-gosto. Agora saiam daqui antes que vomite em vocês. - sei que foi a pior ameaça de todas, mas é a arma que eu tenho no momento.

Eles saem da cozinha dando risada e me deixam sozinha com Lucas, acho que depois de todo esse tempo ele já consegue ficar em pé, ele ainda cambaleia, mas consegue ficar em pé.

- Por quê você fez isso? - ele pergunta arrastando as palavras.

- Você é um idiota! Tinha leite, queijo, manteiga e virou uma gororoba aquilo. Você ia passar mal mais do que eu vou passar amanhã. - Ele murmura um "ta bom" e sai cambaleando da cozinha. Nem um "obrigado".

Depois de andar algum tempo pela festa, minha barriga começa a doer demais e tenho certeza de que vou vomitar. Subo as escadas correndo em direção ao banheiro. Chego na privada e coloco tudo para fora. Não demorou muito para eu conseguir parar de vomitar, mas minha barriga ainda está doendo um pouco. Quero ir embora, mais do que nunca agora.

P.O.V: Luana

Mas que droga! Essa festa não está sendo nem um pouco parecida com o que eu imaginei. Era para ser uma comemoração organizada. Iria ter um bolo muito bonito que eu ia fazer, mas a Bia não quis. Parece que ela não quer que ninguém saiba sobre o nosso aniversário.

Eu não aguento mais ficar colocando os vasos caros de volta em seus lugares ou tirando latas de cerveja de cima dos lugares para dar merda.

Eu quero encontrar a Bia, mas ela sumiu. Deve estar mais bêbada do que nunca. Da ultima vez que à vi estava quase em cima daquele garoto ridículo, o Lucas. Não quis interromper para não arrumar briga, pois quero conversar com ela sozinha, mas agora que não aguento mais esperar, quero falar com a Bia, mas ela desapareceu. Estou preocupada! A Bia não está aqui embaixo  e minha única esperança é vê-la lá encima, espero que não esteja vomitando no banheiro do meu quarto, mas por outro lado vai ser bom encontrá-la, então espero que esteja lá.

Subo as escadas rapidamente esperando ouvir a Bia vomitando. Quando finalmente chego na porta do meu quarto não ouço nada e as esperanças vão embora, mas quando entro no quarto encontro a Bia, mas não do jeito que eu esperava.

Lucas desgruda seus lábios dos de Bia empurrando seus ombros justo quando eu falo desesperada:

- O que está acontecendo aqui? - Lucas se levanta da rapidamente da cama, mas não parece conseguir se manter em pé de tão bêbado.

- Olha, não é o que você está pensando...foi a Bia que... - bem na hora, Bia se levanta também e tampa a boca de Lucas o impedindo de se explicar.

- Então, Luh... - Bia começa falando meu apelido tentando fazer com que eu amoleça, mas eu nem consigo me mexer, estou paralisada e sem reação diante dessa situação - O que o Lucas está tentando dizer é que... - ela tira a mão da boca de Lucas e ele se senta na cama meio molenga - Eu esqueci de te dizer... Acabou!

Bia joga seus cabelos loiros por cima dos ombros e pega a mão de Lucas fazendo ele se levantar com tudo da cama, ele não deve fazer a menor ideia do que está acontecendo. Eu queria ficar com raiva dele, mas não consigo. Ele parece tão impotente agora. Mas ele não devia estar tão bêbado assim, só bebeu umas duas latas de cerveja, três no máximo. Eu sei por que andei observando ele durante a festa, a não ser que alguém tenha posto algo em sua bebida.

Bia passa por mim na porta toda sorridente levando Lucas consigo. Minhas pernas começam a fraquejar e sinto lágrimas descendo pelo meu rosto violentamente. Quando percebo que vou cair fecho a porta e me escoro nela caindo no chão lentamente.

Depois de minutos chorando ouço a voz da Naiara do lado de fora do quarto chamando pelo meu nome. Decido ignorar, ela deve ter vindo avisar que alguem quebrou algo, mas isso não parece mais tão importante agora. Em pouco tempo ela vai embora e eu consigo pensar melhor.

PRETO E BRANCO • [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora