33 - Tinha que ter um "Felizes para sempre"

27 4 0
                                    

Lucas errou o caminho umas duzentas vezes.  Eu estava acostumada a ir andando da minha casa, fiquei perdida ao ir para o trabalho de carro e ainda por cima partindo da casa de Lucas. Nós dois ficamos pedidos na verdade. Dei graças a Deus quando estacionamos na frente do restaurante e ainda bem que tinhamos saído cedo de carro.

- Ás 19h, não é? - Lucas confirma e eu concordo. Me viro para o branco de trás para falar com Edu.

- Tchau, Edu. - estico a mão para cumpromentá-lo e ele dá um soquinho na minha mão. Me viro para Lucas.

- Tchau, Lucas. - dou um selinho em seus lábios e abro a porta do carro - Se divirtam! - digo saltando para fora do carro.

- Tchau, meu amor! - ele exclama do nada e todo bobo. Coro absurdamente, Lucas sorri ainda mais  e acelera o carro. Vejo seu carro descendo a rua com Edu acenando para mim pro de trás do vidro da janela. Suspiro meio boba me virando para entrar no restaurante.

- Oi, Gustavo. - digo assim que entro.

- Oi, Naiara. - ele não parece feliz - Vá colocar seu uniforme, tenho um negócio para te contar. - concordo e pego meu avental no fundo do restaurante.

- Tudo bem. - digo me sentando próxima ao balcão. - Pode falar - Gustavo pega uma garrafa de uísque em uma prateleira e enche um copo na sua frente. Eu congelo. Odeio essa bebida e imagens dessa mesma garrafa se estilhaçando na minha frente preenchem minha mãe - Por favor, não beba isso! - é o que consigo dizer - Você pode não beber qualquer bebida alcoólica na minha frente, por favor? Eu odeio essas coisas. - ele concorda e joga o pouco de uísque no copo na pia.

- Então... - ele olha em meus olhos e quase começo a chorar quando vejo seus olhos marejados, fico preocupada no mesmo instante. - Meu tio teve um infarto ontem á noite, o enterro foi hoje de manhã, - ele termina e abaixa a cabeça no balcão para esconder o choro.

- Oh meu Deus, eu sinto muito, Gustavo! - exclamo e dou a volta no balcão para abracá-lo. Ele apoia a cabeça no meu ombro e tenta parar com os soluços, mas é inútil. - Sinto muito mesmo. Eu vou entender se não formos abrir hoje. O que eu posso fazer por você? Você não quer ir para casa e descaçar? - Eu realmente não sei o que fazer em situações como essa. Acho que isso é bem notável.

- Não, não. Estou bem...quer dizer, mais ou menos...tem mais! - o que pode ser pior do que a morte do senhor tão gentil que me contratou? - Eu não...consigo sustentar essa bar sozinho. Vou vendê-lo. - uma lágrima escorre pelo seu rosto e eu o abraço de novo. Lágrimas escorrem pelo meu rosto.

Penso em tudo o que passei para chegar aqui. Penso em tudo o que aconteceu nessas últimas semanas. Perdi meu pai para o álcool, um menino sem coração veio morar da minha casa e fez da minha vida um inferno e me humilhou de formas horríveis, depois eu percebi que foi tudo merecido, então depois de tanto ódio nos apaixonamos. Nesse tempo eu consegui o que poderia ser o melhor emprego para alguém da minha idade, mas eu mal trabalhei nesse lugar. E perdi minha melhor amiga, descobri que não era quem eu pensei que fosse.

Penso em Gustavo que descobriu que a menina por quem estava completamemte apaixonado o traiu descaradamente. Acabou de perder o tio e o bar de que ambos gostavam tanto. Pois é, ta todo mundo na merda.

- Sinto muito mesmo. - digo depois que nos soltamos.

- Está tudo bem. Vamos só trabalhar hoje como se fosse um dia normal e não nosso ultimo dia. - Concordo.

Passamos o dia calados, apenas fazendo nosso trabalho. Quando estávamos fechando o bar juntos, nos viramos um para o outro e prometemos nunca esquecer um do outro. Prometemos manter nossa amizade. Sempre que um precisar do outro, estaremos aqui. Assim que nos abraçamos, ouço a voz de Lucas atrás de mim:

PRETO E BRANCO • [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora