PRETO E BRANCO • [Em Revisão]

30 - Eu sinto muito!

A casa dele é gigantesca, sua televisão de tela plana gigantesca fica bem na frente de um sofá gigantesco dentro de uma sala de estar gigantesca. Estou me sentindo uma formiguinha dentro desse lugar. Ele vê minha expressão de choque e dá uma risadinha sem graça, depois me pega pela mão e me puxa para a cozinha que com certeza é gigantesca.

- Vai me dando as coisas para eu ir guardando, por favor. - ele pede e aponta para as sacolas ao meu pé.

- Tudo bem. - me viro de costas para pegar algumas coisas de geladeira atrás de mim e ouço algo que se parece com um gemido vindo de Lucas. - Está tudo bem? - arqueio as sobrancelhas e ele balança a cabeça.

- Será que tem como você não se abaixar assim? Principalmente quando estiver de costas para mim...por favor. - ele fala respirando pesadamente.

- Como assim? Qual o problema? - acho que tenho uma ideia do problema, mas pode ser engraçado vê-lo tentar explicar.

- Ah, não, Naiara. Você sabe qual é o problema, e eu não repondo por mim se você continuar empinando essa bunda pra mim. - acho que parece impossível eu ficar mais vermelha do que estou agora. É, não foi muito engraçado para mim.

- T-ta bom, então. - me viro de costas de novo tento me abaixar de uma outra forma, talvez.  Fico de  joelhos logo de umas vez e vou passando as coisas para ele assim mesmo. Quando terminamos tudo, Lucas se vira para mim e me encara por um tempo, ele parece estar pensando no que dizer. Para mim fica tão claro a briga interna que está tendo consigo mesmo para dizer algo. Fico olhando dentro dos seus olhos esperando que termine de pensar diz:

- E-eu quero que você conheça uma pessoa. - ele parece extremamente nervoso e com medo.

- Uma pessoa? Que pessoa? - chego mais perto dele e seguro sua mão apertando levemente para tentar deixá-lo mais confortável, ele parece muito tenso.

- É...bom, primeiro eu tenho que te contar uma coisa... - ele desvia o olhar do meu a todo custo, fica olhando para o chão sem parar.

- Lucas, está tudo bem. Pode falar. - tento passar confiança e então ele me arrasta para a sua sala imensa.

Ele faz um gesto para o sofá (gigantesco) pedindo que eu me sente. Ele começa a andar de um lado para o outro pela sala rapidamente passando  as mãos no cabelo e isso me preocupa mais ainda.

- Eu...eu não sei por onde começar...eu... - ele passa as mãos pelos cabelos de novo.

- Lucas, primeiramente, se acalma e respira. - sua respiração pesada me preocupa - Senta aqui e me explica o que está acontecendo. - dou umas batidinhas no espaço ao meu lado. Ele não senta.

- Tudo bem...olha, vou te levar à lugar e te explico no caminho. Mas você tem que prometer que vai tentar entender o meu lado. Eu tinha muita raiva dentro de mim e me arrependo de tudo o que fiz. Prometa que vai tentar me entender, por favor.

- Eu prometo. - fecho os olhos e respiro fundo. Levanto do sofá e ele segura minha mão fortemente o tempo todo.

- Acho que você já deve ter percebido que, ás vezes eu te chamo de "Liz". - meu corpo gela no mesmo instante, preciso de muito esforço para concordar com a cabeça, apenas.

- Como...você conhece esse apelido? - pergunto depois de uns segundos em silencio. È muito estranho para mim saber que ele conhece meu apelido de quando eu era mais  nova, odeio ele, faz eu me lembrar da pessoa horrível que eu era. Será que ele me conhecia quando eu era mais nova? Meu pai que me chamava assim, mas quando eu mudei e tentei ser uma pessoa melhor, ele parou com isso. Será que ele conversou com meu pai?

- Eu conheço você mais do que imagina. - arqueio as sobrancelhas esperando explicação - Você não se lembra de mim mesmo, não é? - balanço a cabeça indicando que não. - E você também não tem ideia do por que de eu ter implicando tanto com você quando nos conhecemos.

- Na verdade, eu pensei que você só implicava comigo por diversão. As vezes, eu me sentia em uma história de "A nerd e o popular" que sempre tem nesses sites e aplicativos em que qualquer pessoa pode entrar e escrever um livro ou fanfic, aparentemente. - ele não sorri e continua olhando para a calçada.

- Nós nos conhecíamos. Quando tinhamos uns doze anos de idade - tento me lembrar dele, mas não consigo. - eu usava óculos e aparelho ao mesmo tempo. - ele sorri brevemente. - minha mãe adorava me vestir com aquelas camisas polo.  Eu odiava, mas não gostava de ficar reclamando. E todos da escola ficavam fazendo piadinhas sobre isso. Mas você...

E de repente, eu paro. Eu sei o que ele vai dizer. Não consigo respirar. Olho para Lucas  e tenho toda a certeza do mundo que nunca me arrependi tanto na minha vida inteira. Meu coração se aperta tanto que parece que vai explodir ou que está prestes a parar, isso se já não parou.

- Eu sinto muito, mas muito mesmo! - digo com toda a sinceridade que tenho dentro do meu ser.

Eu me lembro dele. Lembro até demais.