Capítulo XXXIX

2 1 0
                                    

                – Benedito, que bom que veio, por favor, sente-se ali. Preciso conversar com você – disse o bispo, não tão nervoso como Pedro o fizera acreditar que estaria.

Imaginemos o susto do rapaz quando colocou o pé na cozinha e a primeira coisa que ouvira foi a voz tão angustiada quanto agitada do Guardião do Convento dizendo que o Bispo precisava falar com ele o quanto antes. Foi assim que o irmão mais velho lhe deu bom dia naquela manhã gelada de agosto.

– Benedito, bom dia. Escute bem: Assim que terminar seus afazeres na horta, por favor vá ao encontro de Dom Gabriel, toque a sineta e aguarde a ordem para que entre em seu quarto, compreendido? Ele me disse ontem à noite, antes de recolher-se, que precisa conversar com você. E pelo jeito o assunto parece importante, afinal me disse para lhe repassar que não fizesse cerimônias, que fosse logo entrando. No entanto, acho melhor que alguns costumes sejam mantidos, certo? Não podemos esquecer quem está no comando e mais próximo de Deus por aqui. Outra coisa: ele me disse para que você fosse até ele assim que levantasse, mas creio que seja melhor deixá-lo terminar seus primeiros afazeres. Só eu sei o quanto é sagrado o horário matutino das orações e leituras para aquele homem.

E assim lá estava ele, nas primeiras horas do dia, ocupando um assento no já popular sofá do dormitório do bispo de São Sebastião do Rio de Janeiro.

– Que bom que chegou, meu rapaz. Já não aguentava mais de impaciência. E olhe que pedi para Pedro lhe endereçar ao meu escritório na primeira hora da manhã. Aposto como meu amigo deve ter dito para você não vir tão cedo ao ponto de incomodar-me, estou certo? – Benedito apenas concordou com uma risada. – Haha, pois bem, eu sabia. Mas não percamos mais tempo, afinal, não estou com tanta pressa por um motivo torpe. A ideia de sua vinda aqui é para termos uma conversa sobre um assunto de bastante importância, tanto para mim, quanto para você e para isso gostaria de ser o mais transparente possível, pedindo, logicamente, que me retribua o tratamento, dando a opinião mais sincera que tiver, a qual prometo respeitar independente de qual seja.

– Assim como fui no desenrolar de minha malfadada transferência para o norte, prometo-lhe ser o mais transparente possível, também nesta ocasião, senhor.

– Ótimo, e na verdade o assunto que trataremos hoje tem muito a ver com este que até então estava dado como encerrado.

– Problemas com minha escolha?

– Com certeza não, meu amigo. Muito pelo contrário, eu diria que as novidades são excelentes por demais, principalmente para você.

– Outra boa notícia para mim? Nem em sonho, lá em Portugal, poderia imaginar que o Brasil me seria tão feliz.

– E é de lá mesmo que vem a boa nova.

– Do generoso arcebispo, creio eu?

– Acertou em cheio.

– E o que o nosso estimado líder religioso tem para mim dessa vez?

– Como disse, algo do qual você ficará muito feliz e eu também. O que ocorre é que recebi mais outra carta ontem pela manhã, não sei se percebestes?

Benedito negou de pronto ter visto qualquer correio, também pudera, afinal não havia existido qualquer tipo de visita no dia anterior, tampouco chegada de correspondências. A jogada do bispo, mais uma vez, fora de mestre. Sabendo que era melhor atacar do que torcer pela inércia do adversário – Sun Tzu estava entre seus livros prediletos – ele achou melhor indagar e exigir uma resposta rápida do garoto do que deixar ele raciocinar por si próprio e perceber que aquela fala de visita no dia anterior não era verdadeira. Vendo que o jovem não o questionaria sobre isso – e para não dar tempo que o fizesse –, ele continuou:

O Preço De Se Tornar RodrigoOnde histórias criam vida. Descubra agora