19 - Planos

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Olá gente, tudo bom? Quero pedir mil desculpas pela demora, não deu mesmo pra postar, eu tinha algo pronto, porém estava sem tempo para revisar e escrever também. Tava meio corrido essas últimas semanas do bimestre. Enfim... espero que me perdoem, já estou de férias e vocês serão devidamente compensados, adiantarei muito da história esse mês. Bom, é isso, já peço desculpas por qualquer erro que tiver e boa leitura ;).

— Onde? – pergunto após o susto. – Onde foi que ouviu essa voz?
Ela nos olha um pouco assustada e então respira fundo.
— Nos... nos meus sonhos. E quando – sua voz falha – Quando nós quatro nos encontramos.
Ela suspira nervosa.
Então todos nós ouvimos essa voz?
Não perguntei a Gwen sobre isto, não especificamente. Tem muita coisa que ainda não esclarecemos ou nem mesmo conversamos sobre.
— Alguém mais além de Luna e eu? – olho para Ravi e Gwen.
Eles assentem com a cabeça.
— Voz? Seria aquele tipo voz do bem e do mal, do nosso subconsciente? Tipo... anjo e diabo? – Bryan pergunta sentado na cama.
— Não. É apenas uma voz, uma voz robótica e um tanto sombria, que sempre diz coisas sem sentido algum. – Ravi responde erguendo as sobrancelhas.
Ele está certo. Não há nenhum sentido em nada, na verdade.
Precisamos organizar o que sabemos. Retiro meu celular do bolso e abro o aplicativo de bloco de notas, anoto o que já sabemos: Nossos pais sumiram – menos a de Luna e Ravi, os quatro têm poderes – poderes divergentes, nos comunicamos por mente, além das pedras mágicas, ouvimos a mesma voz.
— E o que fazemos com isso agora? Vendemos para algum colecionador? Acho que ganharíamos um bom dinheiro. – Ravi indaga.
Ele segura a pedra – agora com quatro cores diferentes – maior do que antes.
— Só não a solte no ch...
Mas ele solta. Como se soubesse o que eu iria dizer, e, para provocar, a soltou. Se este pedregulho tocar o chão provavelmente atravessará muitos pisos e tetos, dependendo do ponto de vista. Isso acabará com qualquer chance que temos em nos esconder. Sem falar dos custos.
Preciso agir, penso rápido.
Respirando fundo, imagino segurar aquela pedra – foi mais ou menos o que fiz das outras vezes. Uma energia flui da pedra para mim, obtendo sucesso me impressiono com o que faço. Os outros também estão impressionados.
A poucos centímetros do chão a pedra flutua, sinto minhas veias pulsarem, isso é muito complicado e ainda há recesso da última luta. Exige precisão e foco. Na casa dos Evans parecia mais fácil, provavelmente por conta da adrenalina. Ou sorte.
Fico concentrado, ignorando tudo à minha volta. E devagar a pouso no chão. Escuto um creck, mas nada que leve o piso abaixo. Gwen a pega e coloca em cima da cama de Ravi em um movimento rápido.
— Eu disse que não era para soltar ela – o encaro ainda recuperando o fôlego.
Você não manda em mim. E eu queria ver a resistência dessa coisinha.
E o custo era nossa segurança. Penso. Talvez alto demais, pois ele se enrijece e me destroça com os olhos.
— Sobre o que você sonha, Luna? – Gwen pergunta, obviamente querendo afastar o confronto.
Luna ajeita seus óculos e até cora ao nosso olhar.
— Bom, primeiro eu estou dentro de uma floresta, correndo. Eu só não sei dizer se estou fugindo ou perseguindo alguém. Mas logo chego a um local, um campo eu acho, o clima é denso e o céu escuro e sombrio, como se tudo estivesse no fim, toda a vida dali arrancada. Criaturas horripilantes surgem para me atacar, quase parecidas com aquelas que aqueles caras transformaram-se lá em casa – ela contrai os lábios – Só que maiores. Eu não sei como, mas corria de um jeito que nunca corri, tão rápido quanto Ravi, me desviava de seus ataques com muita agilidade... então tudo acontece em um flash. Um deles me derruba e um garoto... um garoto que nunca vi, e no sonho mal consigo vê-lo direito, aparece de repente ao meu lado, como mágica, e entra em minha frente quando um dos monstros está prestes a me atacar. A expressão em seu rosto é assustadora, mas antes que eu possa digerir toda aquela situação, uma energia estranha me inunda, deixando minha visão turva, quando consigo tê-la de volta, não estou mais onde estava; na verdade, estou há alguns metros de distância. Logo vejo o garoto, ele é cercado por aqueles monstros que me atacavam e um deles... – ela para por um segundo, respirando ou até mesmo tentando lembrar-se das cenas – um deles já está com sua unha cravada no peito do garoto, grito algo para ele, algo que eu mesmo não consigo entender junto as lágrimas em meu rosto, algo como Saia daí, fuja, você não devia ou por favor... não sei dizer, e mais algo que nem adivinhar consigo – ela engole em seco e suspira.
Sua expressão não é de que não saiba, talvez não consiga falar... algo mais forte do que a cena do menino que salvou a sua vida morrendo.
— Por fim – ela acrescenta – ele sorri junto às lágrimas, as mesmas começam a ir para o céu, como se não houvesse gravidade: elas flutuam. E brilham, juntando-se as estrelas em um brilho imenso e espalhado... então eu percebo que acontece o mesmo com o garoto: ele brilha, todo o seu corpo envolvido em um roxo, e, como se todo seu corpo fosse feito de poeira, poeira cósmica, vai se desfazendo e indo para o mesmo destino de suas lágrimas, ele desaparece no céu, mesmo que eu ainda sinta sua presença, vejo que ele se foi. Meu corpo rapidamente se levanta e corre, corre para cima dos monstros, gritando. Consigo ver apenas um leve clarão sair de meus olhos, e com uma velocidade incrível chego ao rebanho de feras que já me espera, mas mesmo assim eles são rápidos, surgem em minhas costas e de repente me cercam, toda aquela energia que senti me revigorar, se esvazia...e então sou atingida nas costas. Tudo parece partir, cada sentimento bom se entristece, a presença do garoto se vai. Ao cair, todos avançam para cima de mim, como hienas prestes a atacar e devorar sua presa, as cenas se escurecem e nisto acordo gritando, suando e assustada.
Ela respira fundo, como se tivesse acabado de se livrar de um de seus problemas. Provavelmente se livrou. Guardar isso pra si deve ser um peso – e é. Eu sei realmente como é isso, aquela garota de meus sonhos que nunca consigo dizer seu nome, pelo menos não ao ponto que eu ouça.
A garota e o garoto dos meus sonhos e de Luna, teriam alguma relação? O que nós temos com eles? Seriam eles alguns dos pontos marcados no mapa? Algo me diz que sim. Eles são como nós. Mas por que temos esses sonhos? E por que somos o que somos? Mais questões...
— Bom, os meus são parecidos com o seu – digo a ela que ainda está perdida em seus pensamentos.
Todos me observam enquanto conto meu sonho. Então sei como Luna estava sentindo-se. É difícil contar uma história sua sendo que nem você sabe exatamente o que aconteceu, e tem a morte. A garota que morre pra salvar minha vida, mas logo em seguida sou atingido, tornando seu sacrifício um ato em vão. Mesmo sendo apenas um sonho, consigo sentir a dor, não só a do ataque, mas também a de ter perdido aquela garota, a da decepção.
Isso torna tudo mais estranho, pois eu não a conheço – pelo menos eu acho que não.
Nada do que eu falo parece impressionar eles, exceto Bryan. Gwen e Ravi tem o mesmo tipo de sonho. A única diferença são as pessoas – é o que achamos, Gwen com um garoto; Ravi uma garota. O pior é que nenhum de nós é capaz de descrever eles. Lembro-me de no meu sonho a minha visão estar um pouco embaçada, e a menina parecia estar sendo agitada em uma velocidade muita grande, pois todo seu corpo fica em apenas um borrão.
São muitas coisas para assimilar.
Digo a mim mesmo que preciso organizar meus próprios pensamentos, preciso ao menos tentar.
Sabemos que temos sonhos parecidos, ouvimos uma voz parecida e compartilhamos uma espécie de chat telepático.
— Primeiro, o que somos nós? – Ravi pergunta como se estivesse lendo minha mente.
Me pergunto se ele realmente não estava.
— Talvez vocês sejam experiências de laboratório, já vi isso em vários filmes – responde Bryan.
— Se fossemos...não devíamos ter um olho a mais, ou nariz? – Gwen indaga.
— Eu não me lembro de minha mãe ter citado nada com relação a laboratórios e cientistas malucos.
— Nossa mãe não citou nada, para falar a verdade Luna.
— Não acredito que possamos ser experiências, mas não podemos descartar nada – explico. – Sua mãe... ela parecia saber de alguma coisa. Mas por que não nos disse nada? Por que não disse para vocês?
De fato ela sabia. Antes de partir ela disse que tínhamos que salvar a terra, disse para sermos forte e que eu teria que encontrar meus pais – ela os conhecia, ela me conhecia.
Vocês são a chave pra tudo.
Somos a chave para que? Salvar a terra, nós?
Sou quase incapaz de me proteger, imagina o planeta. Só pode ser brincadeira.
— Talvez não pudesse, ela disse que queria nos proteger – Luna responde.
— Ela sempre nos protegeu demais – os irmãos se fitam – Ela também disse que tínhamos que salvar o mundo e que éramos a chave de tudo. O que isso significa? – diz Ravi
— Então vocês são tipo super-heróis?
— Eu não me sinto uma super-heroína – Gwen diz um tanto enojada.
— Minha mãe não diria que temos que proteger a terra em vão. Não é algo que simplesmente seja dito nos últimos segundos de vida – a voz de Luna soa um pouco severa. – A questão é, somos diferentes, mas por que somos assim?
Somos assim para salvar a terra – digo um pouco hesitante – De certo modo isso faz sentido. Nossos pais sabem disso, eles sabem o que somos e por que somos assim.
Eu me sinto bem por isso. Quero dizer, isso não me desvia de procurar por meus pais. As respostas estão com eles. Precisamos encontrá-los.
— E vamos salvar a terra do que? – Ravi pergunta.
— Provavelmente daqueles monstros e deve ser por isso que eles querem nos matar – responde Gwen.
— Então eles devem saber de nós mais que nós mesmos – balbucia Ravi – Quer dizer, se você quer caçar alguma coisa, você precisa a conhecer, precisa saber os pontos fortes e fraco.
É esquisito, mas o que ele diz faz sentido. Esses monstros querem nos matar por que vamos salvar a terra... a terra de que? O que eles irão fazer e de onde eles são?
— Por que agora? – pergunto – Sabe, se eles sabem quem e o que somos, por que não tentaram nos matar antes?
— Só agora que desenvolvemos esses poderes, só agora somos realmente uma ameaça – Gwen indaga, pouco perdida em suas palavras.
— Talvez eles não conseguiam localizar vocês. E se eles precisassem que vocês desenvolvessem esses poderes para encontrá-los.
Pode ser que seja isso. São muitas alternativas e não temos nenhuma base.
­— Não dá pra saber ao certo. São muitas hipóteses, precisamos de algo concreto – digo pensando um pouco. – Precisamos encontrar nossos pais ou...
Minhas engrenagens trabalham. Paro um instante esperando se o que estou dizendo é sensato. Pode até não ser, mas diante das circunstâncias é o mais próximo de plano que podemos ter.
— Ou? – Gwen repete erguendo as sobrancelhas.
Olho para ela e eles retribuem com se eu parecesse um lunático. Neste momento, talvez eu seja.
— Ou pegamos um daqueles monstros.
Há um silêncio, eles estão pensando na maluquice que acabo de dizer, talvez cogitando a ideia.
— Você quer sequestrar aquelas monstros ambulantes? – Bryan sibila, enfatizando o fato de que pareço um maluco.
— Não acho que estamos prontos para sequestrar um deles – Luna diz – Ainda não sabemos usar esses poderes, vejam só os resultados da última luta – ela molha os lábios um pouco hesitante – e nem sabemos quando eles vão voltar.
— É, não sabemos quando eles vêm e nem usar direito esses poderes, mas podemos treinar até que eles venham, pois uma hora ou outra sabemos que eles virão e é melhor estar pronto. Gwen sabe lutar, ela pode nos ensinar alguma coisa, só precisamos de um lugar pra ficar pó um tempo – argumento,
— Pode dar certo, mas supondo que arrumamos um lugar pra ficar, treinamos alguma coisa e ainda sim os caras de monstros não apareçam, quanto tempo vamos esperar? – ela diz e sei exatamente ao que se refere.
Ela não quer ficar parada sabendo que seu pai está desaparecido.
— Três semanas? – ergo a sobrancelha, com um tom de dúvida.
Não acho que menos que isso possa fazer com que consigamos no mínimo controlar esses poderes. Muito menos lutar.
— Duas semanas e um treinamento árduo – ela negocia como se fosse sua primeira e última oferta.
Olho para os outros. Quero saber se estão dispostos a ir em frente com isso, quero saber se estamos juntos nessa. Luna assente e volta seu olhar para o chão, Ravi dá de ombros e Bryan, ele sorri para mim e ergue seu dedão fazendo um jóia. Ele sempre vai estar ao meu lado. Tenho medo onde isso possa o levar.
— Está certo – digo sorrindo – Agora só precisamos de um lugar.
— Quando vamos comer? – pergunta Gwen com a mão em sua barriga.
— Também quero saber, não vejo a hora de comer – Bryan diz saltando da cama.
— Bom, acho que por hora não temos mais nada que falar, podemos descer e ver o que tem – sugestiono a eles.
Todos se levantam em concordância – exceto Gwen que já estava em pé. Meus olhos seguem a troca de olhar de Ravi e Luna, parados.
— Acho que temos o lugar certo para ficarmos um tempo, Andrew – Ravi diz.
Andrew.
Pela primeira vez ele disse meu nome sem nenhum deboche.
Fito os dois por alguns segundos.
— Digam-nos sobre isso no caminho.
Eles assentem e todos saem do quarto a caminho do corredor. Fico por último e então me lembro da pedra. Não dá mais para guardar no bolso, ficaria um relevo muito grande e ela está maior que o próprio bolso. Peço que eles esperem enquanto entro no quarto novamente.
Agacho-me na beirada da cama, pego minha mochila e a pedra, olho para ela por um relance.
Mãe, pai, Sr. Walker e Will, estamos indo, vamos conseguir, vamos achar vocês, vamos salvá-los... eu prometo.
Um leve brilho surge dela, como se ela me ouvisse, como se eles ouvissem. Flertando com uma pedra, meu subconsciente debocha. Nisso, a guardo dentro da bolsa, que por sua vez, vai para debaixo da cama. Levanto-me e fecho a porta, onde todos me esperam. Seguimos para o elevador.

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