1 - Os Pesadelos

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Está tudo escuro e nublado. O ar está pesado, e os meus olhos estão irritados. A pancada me deixa tonto; fecho e abro os olhos, trazendo-me de volta ao caos.

Os meus ouvidos zumbem, mas consigo ouvir a garota que me empurra, dizendo para me levantar.

Com a ajuda dela, consigo me erguer do chão. A minha audição se recupera aos poucos.

De pé, analiso o meu redor, e percebo os vários corpos espalhados pelo campo do estádio. Houve uma chacina aqui.

— Consegue ficar em pé sozinho, Andrew? — ela me pergunta.

Não sei como sabe meu nome, e como me conhece.

Meu corpo, por outro lado, age por conta própria e move a cabeça em concordância com ela.

— Pode me soltar, Es... — sou interrompido por alguma coisa que voa por cima de nós e leva consigo a garota.

Ahhh! Andrew, socorro! Faça alguma coisa! — ela grita enquanto é levada para o alto por uma espécie de ave monstruosa.

Congelado e assustado, questiono como eu poderia ajudá-la? Quais chances que tenho contra aquela coisa?

Mesmo imerso no mar de medo, meu corpo decide agir sozinho novamente. A sensação de energia restaurada percorre o meu corpo, e começo a correr em uma velocidade surpreendente, alcançando rapidamente a ave. Dobro os meus pés para pegar impulso, e salto para além da altura do bicho. Ele se descontrola com a minha aterrissagem em suas costas. Seguro em seu pescoço e inclino o corpo dele para baixo.

A resposta dele é um chiado que alcança a minha audição ainda sensível. Mas desequilibra-se e solta a menina de suas garras, jogando-a para o alto.

Estamos a poucos metros do chão, faltando alguns segundos para colidir e aumentar o número de corpos no campo.

Fico em pé na ave, mantendo um equilíbrio que espanta, e pulo na direção da garota. Consigo segurá-la no colo antes que ela tocasse o solo, e pousamos inteiros no solo.

Volto a minha atenção para a ave estranha, ela rola pelo gramado depois do impacto. Um sorriso se desenha em meu rosto.

Só então percebo que ainda seguro a desconhecida nos braços. A coloco de volta ao chão.

— Obrigado, Andrew.

Assinto novamente com a cabeça.

Um som surge distante, como o trotar de um cavalo. Sigo o som e noto outra criatura correndo até nós, como um mamute enfurecido. Por extinto — eu acho —, corremos.

Olhamos para trás algumas vezes, desejando ser mais rápidos que a enorme criatura.

— O que faremos agora? -- ela exige um plano.

— Precisamos fugir e ir atrás dos outros, é o único jeito! Mas temos que despistá-lo antes — explico o plano criado, literalmente, às pressas.

Meu olhar segue mais uma vez para trás, o monstro está cada vez mais perto.

Não faço ideia do que eu mesmo estou falando, penso.

O monstro é enorme, deduzo que tenha dois metros e meio de altura. A sua corrida estremece o solo — um terremoto vivo —, consequência de suas seis patas pesadas. O rosto não tem olhos, e da boca saltam — além da baba descontrolada — dentes afiados que parecem estar prontos pra destroçar qualquer um que esteja em seu caminho. E esse qualquer um somos nós. O restante da face é desfigurado, difícil de identificar e nomear toda a desordem da coisa. As patas são enormes, dando a ele quase a aparência de um elefante. Um elefante de laboratório.

Enquanto analiso o monstrengo, distraído, ouço um baque, e decido voltar o foco para a menina. A minha fuga cessa no mesmo instante, quase tropeçando nos próprios pés e caindo. A garota desconhecida está no chão e seu busto ganhou uma crescente marca de sangue. Corro até ela e me sento ao seu lado.

O Destino Dos Guardiões - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora