17 - Vencendo o Inimigo

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Meus olhos se fecham em defesa da forte luz que cega. Levanto minhas mãos na ilusão que eu posso resistir ao luminoso e sombrio raio vermelho.
  Já não ouço ruídos, minha mente está em um completo vazio. Até que algo cresce, se iniciando com um cochicho e aumentando gradativamente.
Use a mente. Sinta tudo aquilo está ao seu redor, sinta a si mesmo e encontre o que procura.
  A voz some do mesmo jeito que surgiu. O que isso quer dizer? Mais enigmas, mais perguntas sem respostas, já estou cansando-me.
  Gritos.
  Alguém está me chamando e o som vem do lado de fora de minha cabeça. Nem sei se ainda estou vivo. Abro meus olhos e noto que não morri, alias, nunca estive tão vivo. Quase perco o ar de tão extasiado que estou. Pressiono meus olhos e tudo vai fazendo sentido. Diante das minhas mãos ainda erguidas há algo que me protege. Algo invisível aos meus olhos, aos olhos de qualquer um, mas posso sentir.  Uma espécie de energia estranha, estranha não... nova. O cara estranho está tão surpreso quanto eu. O raio laser de seus braços não me alcança, mesmo estando a dez centímetros de distancia. Seria certeiro no meu coração, se me atingisse.
  – Você é cheio dos truques garoto estranho – Ravi diz ficando logo ao meu lado. – Precisamos acabar com isso cara.
  Ele está certo, precisamos. Gwen feriu-se e sabe-se lá como ela está agora, espero que esteja bem. Luna também está ao meu lado, ela encara o cara a nossa frente e põe seu olhar sobre mim. Ela acena com a cabeça para mim, com um olhar de confiança. Acho que quer dizer que está pronta pra o que vir. Retribuo com o mesmo movimento. Então volto minha atenção para frente, pego Ravi tentando passar a mão no que me defende, mas ele atravessa o nada e quase cai desequilibrado.
  Hora de acabar com isso. Inspiro todo o ar que posso. Seguro por poucos segundos e solto com um movimento das mãos para frente. O escudo – acho que é assim que vou chamá-lo, move-se para frente, afastando-se de mim. Deu certo. O cara muda sua expressão, porém mantêm sua postura. Ele contra-ataca, sinto seu raio mais forte, forçando meu escudo de volta pra mim. Seguro firme, com todos os nervos e músculos de meu corpo.
  Ondas circulares no escudo mostram a intensidade de seu poder. Com ânsia, mantenho meus pés firmes no chão. Automaticamente  pancadas manifestam-se em minha cabeça, elas dançam no mesmo ritmo das pulsações de meu coração.
Concentro-me ali. Desligo-me de tudo, eu consigo, sei que consigo.
Minhas mãos tremem, tento controlá-las, mas é em vão. Porém estou conseguindo mover o escudo, distanciando o raio de mim. Ele forçando de lá, e eu daqui. Ele intensifica ainda mais seu poder, posso sentir, consigo vê-lo suar. Desta vez meu corpo é arrastado pra trás, meus pés arrancam a grama. Luna e Ravi me olham assustados.
  – Arhg... Vocês – tento dizer entre bufos enquanto me mantenho no lugar. – Eu não vou segurar por tanto tempo.
Sinto todas as partes de meu corpo se alarmarem, estão gritando por descanso. Eu jamais fiz tamanho esforço. Minhas mãos voltam a tremer, meu pé esquerdo escorrega pra trás, já estou com meu corpo inclinado.
  Enfim Luna e Ravi agem, sou capaz de ver os tiros da arma da senhora Evan atravessarem o cara – nem todos, alguns permanecem e fazem jorrar alguma espécie de líquido preto – Ravi corre pela lateral em direção ao cara, Luna não mexe-se, apenas suas mãos movimentam-se. O cara também percebe e um de seus canhões vai à direção de Ravi, só que ele é mais rápido e continua a correr. O atirador está distraído, há apenas um de seus canhões disparam na minha direção. Respiro e dando lentos passos, empurro o escudo e consigo me erguer. Posso andar mais ainda, ficando em vantagem. Sua cabeça gira rapidamente em minha direção, talvez sentiu que estava o ultrapassando.
  – Ah seu moleque – ele balbucia, sem erros e travações. Com velocidade e força ele volta seus dois canhões em mim.
  Firmo todo o meu corpo, mas ainda assim meu corpo e arrastado lentamente com a força de seu poder. Meu cérebro vira uma apresentação de sapateado, as dores ardem em todo meu corpo. Olho para o cara e como um vulto amarelo Ravi aparece atrás dele. Antes que ele perceba o menino dos cabelos loiros o acerta com um golpe nas costas. Seu corpo se ergue pra frente. Em seguida ele é atingido com um chute na costela esquerda, o raio automaticamente se desliga quando seu corpo é jogado com todo força para o lado. Caio debruçado ao não precisar usar meu poder, com minha respiração ofegante.
  Antes que o cara caia ou bata em alguma coisa, seu corpo é engolido por algo, uma bolha d'água enorme o envolve. A bolha sobe no ar, meus olhos fitam Luna, ela mexe as mãos a sua frente como se a bolha estivesse entre suas palmas. Tiros atravessam a bolha, deixando buracos no homem, desses buracos jorram o liquido preto. Deixando a bolha um pouco sombria. Mas não se mistura à água, é como o óleo... Vai surgindo partículas daquela coisa. Levo um susto com a chegada repentina de Ravi ao meu lado. Ele me ajuda a levantar-me. Luna se mantêm concentrada, o cara tenta se mexer para escapar, mas logo sente as dores do ataque de Ravi. Os tiros que senhora Evans acerta também o atrapalham. Chega a ser agonizante.
  Ele, então, começa a se debater, Luna hesita dando um passo pra trás. A expressão em seu rosto muda, ela está com medo... Assustada.
  Um rosnado surge atrás de mim. Viro-me, com a ajuda de Ravi, mas quando vemos já é tarde demais. O cachorro que foi jogado na parede salta com suas presas afiadas na direção de Luna. Tudo acontece rápido demais.
  Só consigo ver o momento em que a mãe de Luna se joga em sua frente, impedindo o bicho de acertar Luna. E assim ela tem as duas presas cravadas em seu peito, no mesmo instante ela cospe sangue. Mas com um movimento rápido ela joga algo dentro da boca do animal... uma bomba. Os olhos cinzas demonstram medo. Mamãe. Os dois sussurram.
  – Vocês... – sangue voa de sua boca ¬– tem menos de trinta segundos. VÃO‼ ¬– ela grita.
  – Não! – Luna diz já com seus olhos vermelhos – Nós... nós vamos te tirar daqui mãe. Ajude-me Ravi. – diz ela se aproximando de sua mãe, sem saber o que fazer. Sinto meu coração se contrair.
  – Luna... – ele sussurra sem conseguir terminar.
  – Ravi... Cuide de sua irmã. Luna, minha filha, eu sei que errei muito com você. Agora eu vejo o quanto errei, mas sempre fiz pensando no seu bem. – ela tosse novamente – Eu amo vocês. Sempre amei, mesmo não estando pronta... agora vão, sejam fortes, salvem a terra e me deixem orgulhosa. Andrew, encontre seus pais, vocês são a chave de tudo. Eu gostaria de ter dito mais… mais eu não pude. Eu estava tão preocupada com meus filhos, que esqueci do mundo. Me distanciei de todos para a segurança deles, mas acho que exagerei… eu… eu sinto muito, já estou ganhando o que mereço.
  Ela sorri. suas lágrimas misturadas a sangue. Ravi solta-se de mim e beija o rosto de sua mãe.
  – Eu te amo mãe. – ele sussurra – Cuida bem da gente lá de cima, okay?  – vejo as lágrimas escorrerem por seu rosto. Ele a ajeita escorada perto de sua casa.
Eu não sei o que fazer, percebo que o cão não se mexe, acho que acabou se engasgando, ela não deu tempo que ele reagisse. Podíamos levá-la para o hospital, mas uma das presas acertou seu coração e ela lançou uma bomba pra dentro dele, temos menos de dez segundos provavelmente.
  – Luna – sussurro – precisamos ir.
  Sem que me responda ela se abaixa perto de sua mãe. Sussurra alguma coisa que sou não capaz de ouvir, beija seu rosto e testa, do mesmo jeito que Ravi. Ela sussurra alguma coisa novamente, mas desta vez eu entendo. Eu te perdoo mamãe, eu te amo. As lágrimas descem de seus olhos. Ela dá mais um beijo, o último. O beijo de despedida.
  – Agora vocês precisam ir, menos de 5 segundos. Saibam que eu me orgulho de vocês, mesmo nunca tendo dito.
  Ravi pega na mão de Luna e, juntos, começamos a correr o mais rápidos que podemos. Já estamos quase passando a casa quando ouvimos bip. Não dá tempo de fazer mais nada. Pulamos para fugirmos da explosão. Rolamos pela grama, senti minhas costas esquentarem. Essa foi por pouco. Levanto-me com dificuldade, daqui consigo ver o carro que Bryan e seu pai chegaram. 
  Os irmãos se levantam em sincronia, os dois observam a casa deles em chamas. Eu não consigo imaginar pelo o que estão passando, mas deve estar doendo, talvez eu saiba se caso eu... Eu não encontre meus pais.  Luna chora no peito de seu irmão, ele a abraça fortemente, afagando seu cabelo. Não podemos demorar mais, podemos ter acabado com os bichos, mas ainda temos o problema de Bryan estar sendo perseguido, podem chegar a qualquer momento.
Antes que eu posso chamar os gêmeos para irmos, surge barulho de sirenes vindo de não muito longe.
 
  – Vamos! – grito começando a correr, mesmo com alguns músculos ainda doendo.
   Corremos em direção ao carro. Tenho uma sensação estranha, uma sensação de estar sendo observado. Olho por cima do ombro e não vejo nada, não tenho tempo.
  O motorista, que não consigo identificar se é Bryan ou Will,  já liga o motor do carro nos esperando. Chegamos no carro e corro para o banco do passageiro ao lado do motorista, é Bryan que dirige. Viro-me para o banco de trás, onde Luna e Ravi se ajeitam ao lado de Gwen. Gwen. Não vejo Will, onde ele está afinal? Precisamos ir, agora.
  – Bryan, cadê seu pai? – pergunto ainda olhando para o banco de trás.
  – Eu… eu não sei – responde, com o tom de voz confuso.
  – Como assim você não sabe? – já consigo ver os carros se aproximando da casa dos Evans. – Temos que ir agora!
  – Ele não estava aqui quando viemos para o carro, ele ficou pra que quando estivéssemos que ir, já estaria tudo pronto e para vigiar caso os CDP’s aparecessem.
  – Eu não sei quem ou que são aqueles carros ali, mas estão chegando – Ravi indaga.
  – Ótimo – Bryan sussurra. E com hesitação ele puxa a macha e o carro começa a mover-se rapidamente.
  – Ele deve estar bem, com certeza tem uma explicação simples para isso – tento acalmá-lo.
  Ele não responde. Há um completo silencio, só é capaz de ouvir respirações mais que ofegantes. O que foi tudo isso? Melhor pensar em tudo mais tarde. Olho a última vez para afora do carro, os veículos que estavam atrás de nós param violentamente, apontando suas armas para a casa em chamas, que dessa distância parecem pequenas labaredas. O carro vira em uma curva e toda aquela vista some.
  Gwen está escorada na janela, calada. Evito olhar para sua perna, mas é difícil e acabo não conseguindo controlar-me. A perna ainda está torta e o osso está exposto, mesmo coberto por um pano – presumo ser uma camiseta de Bryan. Ela está sangrando muito, o pano de azul está em um completo vermelho, precisamos levá-la para o hospital. Mas como? E se caso já somos procurados? Temos que tentar de qualquer jeito.
  – Precisamos levá-la para o hospital
  – Mas não é arriscado demais? – Bryan diz
  – Sim. Ela está perdendo muito sangue, é perigoso demais. Temos que ao menos ten...
  ¬¬– Não se preocupe comigo, vou ficar bem. – ela diz se movendo. Sua perna corresponde com seu movimento, ela urra e faz uma careta de dor.
  ¬– Gwen – sussurro.
  – Galera – Ravi nos chama. – Tem algo errado com minhas mãos. – ele diz as erguendo para frente.
  Toda a palma de sua mão brilha um lampejo tão claro e vivo quanto o de seu cabelo. A luminosidade amarela pegando intensidade, chegando ao ponto de me fazer estreitar os olhos. A luz começa a girar e gradativamente fica mais rápida. O clarão prende todos, a sensação é de energia, de estar vivo. Até que a luz fica forte demais para meus olhos e fecho-os com a mão. Abro-o logo que a luminosidade se vai. Ravi ainda está com suas mãos erguidas, ele olha abismado para suas mãos, parece que foi o único que não fechou os olhos. Foco nas suas palmas, no lugar da luz há um símbolo circular contornado pela cintilante luz amarela. Não reconheço o símbolo, é diferente de tudo que já.
  Ravi balança sua cabeça freneticamente, como se concordasse com algo.
  – Eu acho que sei o eu fazer – ele diz isso e seu cabelo dá um rápido lampejo.
  – Sabe o que? – Gwen pergunta vendo ele se aproximar de modo estranho de sua perna.
  – Não sei ao certo o que vai acontecer, mas é melhor que nada – diz ele olhando para Gwen.
  Ela apenas assente. Ravi leva suas duas mãos recém tatuadas sobre o osso exposto de Gwen.
  – Acho melhor tirar o pano.
  Gwen respira fundo e com muito esforço ela tira o pano. A fratura está realmente feia, não sei o que Ravi fará mais espero que ajude. Ele esfrega as mãos, inspira e ergue as mãos sobre a fratura de Gwen. Primeiro sinto um arrepio passar por todo o meu corpo, não sei explicar bem, mas tenho quase certeza que tem relação com a luz que sai da mão de Ravi neste exato momento. É mais como um feixe de luz. Primeiro as luzes não tem foco algum, logo, como estivesse se movendo, encontram e mantêm o foco sobre a fratura. A direta iluminando o osso, a esquerda a pele cortada. A expressão de Gwen muda, ela está séria e assustada.
  Todas as duas partes começam a se contornar pela mesma energia da palma de Ravi. Então, o osso começa a se mover para o lugar lentamente, a pele começa a pegar cor e a fechar-se. Gwen segura firme em sua coxa e contrai os lábios. Logo vejo o osso no lugar, é espantoso e surpreendente, parece que ele nunca saiu dali. A pele termina de se fechar, como se a energia a costurasse, mas não deixasse marca nem ponto algum. A perna de Gwen está intacta, se não fosse pelo sangue deixado pela fratura, jamais diria que havia um machucado ali. Ravi da um suspiro cansado e as luzes se apagam.

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