Monótono

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O dia amanheceu nublado. eu sentia meus pés congelando no chão úmido do banheiro. Estava de pé, em frente ao espelho, olhando cada detalhe meu e apontando os meus defeitos. Será mesmo que eu posso ser modelo? Ontem a noite pareceu uma ideia de girico mas hoje não me parece tão ruim.

Percebi que depois que eu acordo eu me sinto mais bonito que o normal. para mim, todas as pessoas tem que amarem a si mesmas.

Mandei um beijo pro meu reflexo e sussurrei um "Gostoso, se eu pudesse te pegava". Ri baixo e comecei a escovar os dentes.

Era assim que eu começava meu dia, com uma boa dose de sinceridade, e não egocentrismo.

Terminei de fazer minha higiene matinal, vesti uma calça jeans escura, um casaco e a camiseta escolar por baixo, coloquei os óculos na bolsa, caminhei até a cozinha com pressa pois já estava bastante atrasado.

Ao contrário das outras mães que eu conheço, Dona Eliza Embruniz nunca fazia meu café da manha, eu sempre me virei sozinho dês dos 10 anos de idade. Eu não reclamava disso, minha mãe me deu tanta coisa, isso era banal, só de ela ter me feito lindo eu já seria grato a vida inteira. Ela cumpriu a sua parte, os olhos verdes vinham da familia dela assim como a estranha mania de comer tudo separadamente. Agora o meu pai me deu os meus piores detalhes infelizmente. Cabelos escuros e a pele não tão branca, não que eu seja racista, mas eu sofri bastante Bullying por ser o mais moreninho da familia. Meus primos e primas sempre me chamaram de apelidos escrotos mas isso não importava agora, o que importava é que eu estava muito atrasado.

Peguei a maça em cima da mesa e sai correndo, quase atropelei minha mãe que acabara de acordar.

- Tchau Mãe..- Disse com a voz rouca, minha rinite cronica fazia com que eu acordasse com a voz do Batman.

Pude ouvir um "tchau meu amor" quase que inaudível.
A minha escola ficava a poucas quadras, dava pra ir a pé de boa. "Mafalda Hernnadez" era daquelas escolas grandes com boa reputação, Claro, nem tudo aquilo que o povo falava dela era verdade. Não saia refrigerante dos bebedouros como diziam. E você via de tudo lá pois era uma escola com todo tipo de gente. Mas, era uma escola boa comparada as outras.

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A sala estava silenciosa só com o barulho dos rabiscos nos cadernos dos alunos. Eu não era um aluno exemplar, só tirava nota porque eu era obrigado a tirar mais do que 50% nas provas, se não eu saia fora do time de futebol da escola, Mas a maioria das vezes eu dormia em sala de aula.

Não me leve a mal, mas se eu me ferrasse eu tinha um plano "B" e um Plano "C", nunca ficaria com notas baixas.

Já era a segunda aula, e o professor repetia a chamada da aula anterior, Respondi a chamada como sempre mas o que me incomodava é que sempre chamavam o ultimo nome "William" sendo que ele nunca vinha as aulas e já fazia um mês que elas tinham começado. Parecia que ninguém o conhecia também, ninguém soltava um comentário como "Ele ta com câncer", " Ele mudou de escola", "ta de noite", Talvez fosse só neurose minha, afinal, é só mais um erro no sistema escolar. né?

Dois bracinhos finos se envolveram por trás de mim me despertando dos meus pensamentos bobos sobre o tal William, O cheiro doce do perfume invadiu minhas narinas de imediato.

- Acorda dorminhoco.... - A voz feminina me fez sorrir.

levantei minha cabeça da carteira e virei pra trás, vi aqueles enormes olhos castanhos e as bochechas levemente coradas por causa do frio. Era Lisandra, minha amiga dês do quinto ano do fundamental, Era desprovida de altura, muito pálida e magra. mas ela tinha uma beleza indecifrável, os cabelos pretos eram lisos na raiz e nas pontas vinham cachos, É errado achar uma amiga tão linda? Eu sou todo errado então que se foda.

O Garoto Do Boné VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora