Eco dos Soluços

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  Por mais que aquela situação me incomodasse muito, Eu não tinha cabeça para tentar entender o porque de eu só estar ouvindo os pensamentos do infeliz chamado William Hwang. Aquele campeonato se aproximava rápido e eu ainda teria meu primeiro dia de trabalho hoje.

O pior de tudo é ouvir os pensamentos perturbados dele e até mesmo assistir as cenas de sexo selvagem que ele imaginava. A droga do meu gemido nem era daquele jeito estúpido! Além disso ainda tinha toda aquela merda traumatizante que me fazia querer voltar pra barriga da minha mãe.

As vezes não era tão desagradável. E quando eu digo "As vezes", quero dizer quando ele se imaginava mamando o meu pau, e babando ele todo. Só de pensar nisso meu Big Hero já acordava dentro da calça jeans.

Mas que merda eu to pensando?

Concentrado Heitor! Eu tenho um campeonato... Não tenho tempo pra isso!
O fato é que: O treinador não gostou nadinha de ver o William esquentando o banco da arquibancada. Graças a Deus! Ou melhor, graças ao treinador, eu não teria que aturar a sacanagem do Branco De Neve durante o treino de futebol, o que era bom porque eu levo o futebol muito a serio. Apesar de ver ele saindo com aquele sorriso doente nos lábios dele era extremamente irritante.

Tudo bem. Eu não era homofóbico, e ele não era doente pelo fato de ser gay...Ou bi, ou qualquer merda que ele fosse, só odiava ter ele o tempo todo me tarando de alguma forma sem nem me conhecer a fundo. Acho que poderia ser qualquer outro garoto que a situação seria menos perturbadora do que é agora, pois parecia que ele tinha o dom de fazer as coisas se tornarem complicadas e desconfortáveis.

A final de contas, que hétero gosta de ser ver de quatro, ou por baixo, ou chupando um cara completamente DES-CO-NHE-CI-DO? Eu não tinha culpa, eu sou humano (Eu acho) e todo humano reage de uma forma.

— "Tsc"...Não tenho tempo pra isso não - Não consegui evitar de dizer quando me peguei pensando muito na mesma coisa.

O treino passou rápido. A maior parte do tempo o time ficou estudando sobre o nosso adversário no próximo jogo. Seria a escola "Benjamin Cavenaghi", o "BCFC" como é mais conhecido popularmente. Não intimidava já que o time tinha ficado na quinta posição na copinha do ano passado. O problema seria um atacante chamado Gabriel Correia, Pelo o que eu sei o time depende dele pra vencer já que o cara marcou 3 gols no jogo anterior. E como eu jogava na Zaga era a minha obrigação não deixar ele passar. Chutar a bunda dele seria bom também.

Eu sei que muita gente odeia futebol, Mas eu acho bom fazer qualquer tipo de esporte, seja futebol, vôlei, golf, ou sei lá. O Esporte fez bem pra mim. Imagine um pré adolescente gordo, telepático revoltado com a vida. Sem nada pra fazer o dia inteiro. Podia se dizer que eu era um mini delinquente já que eu era pequeno (demorei pra crescer) e porque eu arranjava briga até com mendigo. Eu sempre fui explosivo, descontava a minha raiva nos outros, principalmente naqueles babacas que se acham os fodas do bairro... Até hoje acho que isso não mudou. mas enfim... Meu passado não é bom.

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Entrei naquele vestiário depois do treino super cansado. O treino tinha sido de leve mas eu ainda assim estava estressado ultimamente. Esperei todo mundo tomar banho pra eu entrar. O que eu não queria agora era ver marmanjo pelado.

Eu estava completamente sozinho no lugar. A agua gelada molhava os meus cabelos e escorria pelo meu corpo. Os meus músculos relaxavam conforme a água caia pela minha pele. A sensação era muito boa mas doía. Suspirei olhando o meu corpo e a agua contornando os gominhos da barriga.

— Olá... - A voz um tanto rouca me pegou de surpresa, meus pelos se arrepiaram e eu me virei assustado pra ver quem era o filho da puta que tinha me assustado.

Eu acertei em cheio, "Filho da puta". O moreno estava diante de mim e exibia os dentes brancos perfeitos com infantilidade, As covinhas apareciam nas bochechas e o cabelo continuava escondido pelo boné vermelho. Os olhos cor de mar miravam ao redor, como se ele estivesse curioso ou preocupado com o que podia acontecer se o encontrassem ali.

Era apenas um disfarce. Não era como se ele estivesse preocupado de fato, se o pegassem ali ele teria um argumento que nunca falha na vida de um estudante: Eu sou novato e cheguei hoje na escola. Não sabia dessa regra.

Na verdade toda aquela aura confiante que saia dos poros dele estava começando a me dar nos nervos. Aquela merda atingiu em cheio a minha empatia. Eu já estava cheio daquela presença pesada que o cabeça Vermelha tinha.

Tudo nele já começava a ficar insuportável. A respiração, os olhos, o sorriso, a confiança até o dedinho do pé me deixava com vontade de esfregar a cara dele no asfalto.
Respirei fundo e com as palavras da minha confiança eu pude acalmar meus instintos de Heitor.

Saí da ducha e coloquei a toalha na cintura. Ele não pareceu ter visto nada pois se ele tivesse visto eu teria percebido. Soltei o ar dos meus pulmões com um autocontrole incrível e o encarei por alguns segundos da mesma força de confiança que a dele, ele não se abalou com isso, não que eu esperasse isso.

— Escuta...William né...? Eu sei que você é novo - comecei com toda a paciência do mundo - Mas se você quer entrar no time eu aconselho você a falar com...- Ele não me deixou terminar.

— Não quero entrar para o time, vim aqui só pra falar com você... - ele disparou e meu coração começou a bater mais forte... De medo já que eu tava sozinho com aquele maluco.

Reparando por um instante eu pude perceber o sotaque forte saindo dos "R"s e dos "E"s da vida. Ele não era natural do Brasil com certeza. Observando melhor agora, o moreno tinha traços orientais muito delineados. Ninguém perceberia de primeira pois os olhos são grandes. Agora sim, tá explicado porque o nome "Hwam".

Trinquei os dentes por trás dos lábios fechados. Hesitei por um segundo pensando nas possibilidades e nas opções de sair dali sem ter uma advertência por agressão.

— Eu não conheço você... Se quer conversar comigo hoje não é o melhor dia. Vá embora - disparei de forma fria e olhei no fundo do mar dos olhos do mais alto. Mesmo falando com calma, ficava visível a raiva no meio daquela gentileza toda.

— Por que eu deveria? É rápido e não vai te incomodar. - Ele sorriu de orelha a orelha. Isso me fez pensar por um momento que os piercings do seu lábio inferior iam rasgar a pele rosada do infeliz mas não aconteceu nada.

Respirei fundo e contei até dez mentalmente.
— Não torne as coisas difíceis mano... Na moral, sai daqui vai... Eu vou chamar o inspetor e vai molhar pra você - Suspirei cansado daquilo.

— Vai levar só um minuto... A não ser que você queira ficar comigo aqui por mais tempo- Sorriu de forma maliciosa.

— Sai.- minha voz saiu intimidadora e autoritária.

O asiático paraguaio não mexeu um músculo. Nem minha ordem direta e nem meu olhar de desprezo conseguiram atingir aquele coelho gay. Pelo contrario, o maldito estava gostando de me provocar, de ver qual seria a minha próxima reação. E eu já estava no meu limite, faltava pouco pra eu perder a cabeça e deixar a cara daquele idiota de boné vermelho mais bonita.

O maior me olhou de cima a baixo, cruzou os braços e mexeu a cabeça em negação como se estivesse me avaliando. Ah... Como eu odiava esse tipo de coisa.

"Ah Heitor... Você não sabe como fica sexy nem camisa. Não sabe como eu to me controlando vendo esses pelinhos na sua barriga... Caminho da felicidade com certeza. E essa toalhinha pequena cobrindo o seu pau... Eu adoraria tirar."
Fodeu. Ouvi os pensamentos dele e entrei em pânico por completo. Minhas bochechas queimaram. Droga. Porra caralho merda fodeu fodeu fodeu.

"Sem camisa e todo molhadinho depois do banho, Eu quero tirar uma foto dele mas ele ia ficar muito neurótico com isso... Mas puta que eu pariu, que cara gostoso."

Pela primeira vez na minha vida eu senti vergonha por estar perto de um cara. Me senti vulnerável e aberto perto de William Hwam. E esse sentimento estava corroendo por dentro. Era ruim, feria minha masculinidade e isso era inaceitável.

Meu rosto devia estar vermelho que nem um tomate de fazenda do norte. Meus olhos arregalaram-se conforme os pensamentos dele eram processados pelo meu cérebro inocente. O asiático paraguaio continuava com aquele sorriso sacana estampado no rosto e os olhos dele moravam disfarçadamente para o meio das minhas pernas.

O meu estado era totalmente diferente do dele. Enquanto eu estava me segurando para não surtar com ele ali e revelar o segredo da minha telepatia, ele permanecia calmo e relaxado pensando em diversas formas de chupar o meu pau.

Naquela hora eu quis ser um E.T ou um cachorro, ou uma porta, porque porta não sente vergonha. Eu abominei o que eu fiz mas foi preciso, abracei o meu corpo e me virei de costas para o asiático. deixei o ar sair pelo meus pulmões e soltei as palavras com a voz esganiçada.

— Apenas fala o que você tem pra falar e rala peito daqui!

Mesmo sem ver eu pude perceber que aquilo estava o divertindo, aquele diabo de boné vermelho estava brincando comigo... Ia ter troco.

— Eu só queria dizer que você fica lindo com vergonha...

Foi a gota dágua...

Pensa em uma coisa rápida acontecendo. Quando eu fui me dar conta do que eu iria fazer já era tarde demais, O meu punho já estava cortando o vento em direção a cara de cu do imbecil.

O barulho foi alto e o moreno cambaleou pra trás por causa da força do meu braço. Seus olhos espremeram e os dentes cerraram para que eu pudesse ver. O maior levantou a cabeça e eu vi o filete de sangue na sua maçã esquerda do rosto. Eu não liguei para as ondas de chateamento que me acertaram, esse é o preço que se paga quando você. Brinca com Heitor Valentini. Mas ainda não tinha acabado.

Eu estava furioso e quase fora de mim. Eu queria tornar aquilo memorável para nós dois, então eu preparei a sequência de socos que eu aprendi mas eu não contava com uma coisa... Que ele segurasse o meu punho esquerdo com tanta facilidade.

Enfurecido eu já havia partido meu gancho de direita em direção ao infeliz mas no meio do percurso ele conseguiu puxar meu pulso esquerdo me jogando para o lado oposto e desviar dos dois ataques.

Ele fez isso com tanta naturalidade que eu fiquei desapontado comigo mesmo por um breve momento, mas esse tempo de distração me custou muito. Ele puxou meus dois braços e me imobilizou me deixando contra a parede. Minha pele da clavícula ficaria roxa e o rosto vermelho depois de um tempo. Tentei me debater mas não adiantou, ele tinha me imobilizado muito bem e se eu me mexesse muito ele poderia quebrar meu braço. Desisti depois de alguns segundos e o que sobrou foi o eco da minha respiração desesperada pelo vestiário.

Grunhi quando ele subiu um pouco mais meu braço ameaçando quebrar. Merda! Eu não podia fazer absolutamente nada!

— ME SOLTA PORRA! - gritei e quem passava no corredor dos armários deve ter ouvido meus gritos.

— Se você gritar eu quebro seu braço, se você se mexer eu quebro seu braço, se respirar diferente eu quebro seu braço e se você tentar alguma coisa eu faço pior!

— até parece...- Tentei sair mas ele segurou firme meu braço. - Você vai se arrepender disso! - me debati um pouco mais.
Então, por vontade do universo que claramente não gosta de mim nem um pouco! Minha toalha caiu. Eu parei de me debater quando percebi o que poderia acontecer ali, Engoli a respiração e meus pelos todos se arrepiaram. Fiquei sem reação olhando para a parede em pânico.

— Me solta....- rosnei - ANDA VAMOS! PARA COM ESSA BRINCADEIRA CARALHO!

— Por que eu deveria? - Ele aproximou a sua boca da minha orelha e eu pude sentir a respiração dele na minha nuca, meus pelos se arrepiaram automaticamente - Eu sei quem você é de verdade - sussurrou com a voz rouca.

As palavras contornadas por um sotaque forte foram claras para a minha mente e eu entendi muito bem do que se tratava... Mas não podia ser possível.

— Eu não sei do que você ta falando.

— Claro que não sabe... Você não se descobriu ainda...- Okay, agora eu não sabia realmente do que ele estava falando.

Relaxei com isso. Eu tentei imaginar que a aproximação dele não era nada e que ele só pensava que eu era gay por algum motivo que eu não sei ainda mas que eu iria fazer de tudo para mudar e continuar com a minha aparência heterossexual. Nunca mais quero ser confundido.

Então quando eu estava totalmente relaxado ele roçou sua calça no meu traseiro e meus músculos tensionaram de novo.

Outra vez eu me debati e rosnei mas ele continuava ali firme me prendendo contra a parede e cada vez mais próximo de mim. Meus ombros e minha clavícula já estavam doloridos pelo esforço que eu fazia contra a parede. Desisti e olhei pra baixo perdendo as esperanças.

— Você já disse o que tinha pra dizer...Anda! Me solta...- Olhei pra ele pelo canto do olho e ele sorriu mostrando seus dentes perfeitos vitorioso.

— Você gosta de mandar não é? - Ele perguntou mas depois de segundos esperando a minha resposta que eu não iria dar ele continuou - Não é assim que funciona comigo...

— desgraçado... - Murmurei entre dentes.
Ele roçou outra vez a calça contra a minha bunda e eu outra vez tentei fugir dele sem sucesso. Um ruído rouco saiu da minha boca e eu quis me matar por isso.

Heitor Valentini Junior estava sendo abusado sexualmente por um cara que ele tinha acabado de conhecer. Minha vida é uma Merda... Fala serio.

Olhei pelo canto dos olhos de novo e vi o filete de sangue escorrendo pela sua bochecha, sorri com essa paisagem e provoquei.

— Se fizer isso de novo eu vou deixar essa sua cara feia ainda mais bonita - Disparei soltando toda a minha raiva na voz.

— O que? Isso? - ele fez de novo e dessa vez deu pra sentir o membro dele latejando por dentro da calça jeans - Ah Heitor... Você não pode fazer nada e mesmo que pudesse, você soca como uma garotinha mesmo. Nem doeu.

Aquilo fez com que eu me sentisse impotente nas mãos dele. A raiva foi se tornando ódio lentamente e eu juro que eu vou dar um troco tão bem dado nesse filho da puta que ele nunca mais vai esquecer de me chamar de senhor antes do nome. Por enquanto eu teria que aguentar aquela tortura firmemente... E eu não sabia se eu podia.

— Você parece gostar disso - não respondi, continuei olhando pra parede aguentando. - Você gosta...? - Ele beijou meu pescoço e meu ombro com... Carinho? Não sei, sei que tinha nojo dele. Ele esfregou o volume do pênis contra a minha bunda com mais força dessa vez. Eu não fiz nada pois já tinha entendido que não dava pra fugir - Se você pedir com jeitinho eu te solto...

Respirei fundo e meus olhos estavam marejando aos poucos.

— Por favor William... Me solta. - Sussurrei mas dava pra ouvir por causa do eco.

Ele me soltou bem rápido. Eu esperei alguma provocação mas ele só se virou e foi embora dali. Eu nem me dei o trabalho de olha-lo. meu braço, minha clavícula e meus ombros doiam muito, e eu sentia falta de ar por causa da pressão da parede contra o meu peito. Olhei para a vermelhidão do meu braço e pensei no que tinha acontecido ali.
Meu corpo todo tremia e eu senti o vento bater contra a minha pele, não aguentei mais segurar e deixei que minhas lágrimas rolassem, o eco dos meus soluços infestou o vestiário eu encostei minha testa na parede e chorei muito como a muito tempo eu não fazia. Chorei de vergonha, de impotência, chorei por me sentir fraco, chorei porque eu estava com nojo e porque eu não me sentia mais homem... Mas de uma coisa eu sabia, eu iria me vingar e fazer ele pagar por isso.

Continua...  

O Garoto Do Boné VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora