Os Pais.

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Cara, não tava com a mínima vontade de encarar aquele ser humano que me pôs no mundo, eu não sei em que era ele foi meu pai, sinceramente.

1.- Eu não tenho absolutamente nada a ver com ele. Nada!

2.- Ele não me criou e nunca sequer quis saber como eu estou.

3.- por que a minha mãe ligou pra ele? Não faço a mínima ideia.

Bom, Eu até posso ter uma breve ideia. Digamos que a minha mãe sofre de um problema de controle. Quando a situação começa a sair escorrendo das mãos dela feiro areia, ela se desespera e acaba fazendo besteira.

Eu sou a situação, a Besteira é meu pai.

Na moral mesmo, Isso é um porre! Eu não quero ter que encarar meu pai. Tudo bem, eu fui bem mimado sim, mas, não e motivo pra chamar aquele escroto.

"Toc, toc, toc, toc"

Escutei o som leve de quatro batidas na madeira da porta. Respirei fundo, tive um pequeno ataque abafado pelo travesseiro e respirei fundo de novo.
É inacreditável essa vontade anormal do mundo de me tirar da cama o tempo inteiro.

Foda-se, não vou atender e pronto acabou.

"Toc, toc, toc, toc."

...

"TOC TOC TOC TOC TOC TOC TOC...."

As batidas agora tinham se tornado murros. Aquilo foi impossível de ignorar. Levantei num pulo da cama, ajeitei o meu pau na cueca e fui praticamente rastejando feito um morto-vivo até a porta.

Se for minha mãe perguntando se eu vou pra escola eu acho que vou me atirar de uma ponte!

Destranquei a porta com um pouco de dificuldade. Cocei os olhos ainda com um pouco de sono. Mirei à minha frente e enxerguei apenas um peitoral coberto pela camiseta. Meus olhos alcançaram o rosto quadrado com uma expressão dura e os olhos castanhos já conhecidos.

Ah... Não.

Fechei a porta com rapidez, meu coração já começava a ficar acelerado, pude sentir as minhas pernas fraquejando e os pelos do braço se arrepiando instantaneamente. Ta ligado quando um gato percebe perigo? Eu sou um gato, claro, isso é óbvio. Mas, sabe quando o gato se curva todo o seu corpo e fica naquela posição esquisita e assustadora.

Eu com certeza tava nesse estado.

A porta não chegou ao batente, algo fez com que ela parasse a sua trajetória. Vi o braço do ser se sobressaindo pelo vão da porta e os olhos castanhos tão apáticos se revelaram também.

Ele invadiu o quarto com toda a delicadeza de um rinoceronte. Quase quebra a minha porta, isso se não quebrou.

—Isso é jeito de tratar seu pai, sô?- coçou a barba rala já um pouco branca e jogou um sorriso idiota.

—Desde quando você é meu pai, Heitor?- Bufei catando alguma coisa pelo chão pra vestir. Uma jeans surrada me serviu para o momento e eu voltei a fitá-lo. Ele não me encarava... Não, ele tava querendo roubar a minha alma com os olhos. Tava tão concentrado que não percebeu o quão ridículo ele tava com aquela cara de pamonha.

- "ocê" cresceu. - Disse.

—Não era pra ter acontecido? Oh, não vai me dizer agora que você me fez anão...- Segurei o riso e então ele fechou a cara.

—Eliza tava me contando que "ocê" ta dando trabalho... Deu pra virar delinquente agora?

—E o que você tem a ver com isso?- Ri sem humor.- Você pensa que é quem pra chegar aqui e me pedir explicações? Não finja que se importa com algo que você fez e saiu errado. Porque é desse jeito que você me vê não é mesmo, papai? Uma coisa que deu errado.

O Garoto Do Boné VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora