Invadindo Memorias

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O Garoto do Boné Vermelho.

Pov's Heitor.

Numa manhã de segunda eu acordei pensando na filosofia do ser humano e as razões da sua existência, Sim, logo eu, Heitor Valentine Junior, pensando na merda dos seres humanos. Não me leve a mal, mas aquilo tinha um motivo, um motivo doloroso e cansativo. William havia me acordado às fucking quatro da manhã pra ir treinar e isso me levou a seguinte pergunta: Onde merda eu errei pra merecer isso?

E eu mesmo me respondia "O ser humano é passivo de erros". De fato, foi um erro absurdo convidar William pra ser meu professor, me senti o Marcus no filme das Branquelas na cena em que ele tem que Jantar com o Latrel. O imbecil parecia um ditador abusado, eu nunca entendia as funções exatas dos treinos e ele sempre arranjava algum jeito de me sarrar ou me abusar, no fim eu sempre ficava puto. Além de que ele nunca desistia não importava o quanto eu o esmurrasse, ele sempre voltava a me provocar.

—Quanto tempo vou ter que ficar assim? - disse com dificuldade. Os meus pés se encontravam amarrados eu estava de cabeça pra baixo com meu rosto a um metro do chão.

—Até você ficar bem suado... - Uma risada nasal. - Brincadeira, O sangue tem que ir pra sua cabeça, vamos ver do que você é capaz... - Ele disse com toda aquela aura displicente irritante, ele achava que comandava tudo.

Rosnei em manifesto, soltei um longo suspiro começando a reparar no local. Estávamos no porão do asiático, era limpo e bem cuidado, mas, ainda assim, havia muita poeira por causa das coisas velhas que lá estavam, sem dizer a madeira que deixava tudo extremamente quente. Senti um incomodo nos tornozelos por causa do nó mas me limitei a soltar longos suspiros. Não faria nada, quanto mais eu resistisse mais tempo demoraria pro retardado me tirar de lá, decidi ficar quieto e me concentrar como ele sempre dizia. E então, lentamente a minha visão começou a ficar turva e os sentidos foram indo embora como as folhas no outono, senti uma dor lasciva e tudo se foi..

O chão, o teto, as paredes, as caixas empoeiradas, até mesmo William havia desaparecido. Restara apenas o som da minha respiração descompassada. Quando minha visão retornou, eu me senti uma cônsul cereja na área de trabalho toda branca da minha mãe. Eu estava num sonho? Uma visão, Talvez?

Era muito estranho porque ao mesmo tempo que meu corpo todo estava em pânico, algo me dizia que eu já tinha estado naquele lugar, de alguma forma aquele branco todo era familiar, e não estou falando do William. Como tudo naquele lugar tinha sumido, já não tinha mais corda nos meus pés, Caí, mas sequer senti alguma superfície tocar a minha pele.

"Que merda de lugar é esse?" percebi que minha voz não saía da boca. Em meio ao desespero eu tentei gritar, mas nada aconteceu, nem um único som saiu pela minha boca. Mas eu pude ouvir outro.

Um som de riso... Riso de criança. Abaixei a cabeça pra ouvir melhor e aquele riso vinha de todos os cantos, até de baixo. Respirei fundo e me abaixei tocando a imensidão branca da qual eu pisava, e então como se fosse mágica, ao toque dos meus dedos a imensidão se tornou bege no local e a cor se propagava devagar em todas as direções. E assim, o som dos risos foram ficando cada vez mais perto.

Como eu sou uma pessoa muito madura e não gostei nada daquele branco, eu decidi fazer que nem velho tarado em ônibus lotado, passei a mão e tudo e em poucos segundos a sala se encontrava toda colorida com várias cores que foram se focando bem rápido. Eu estava numa espécie de escola, prézinho provavelmente, as crianças riam no parquinho distraídas. Eu olhava toda aquela coisa toda com estranhamento. O que diabos eu tava fazendo ali afinal? Eu nem sabia onde eu tava, tava ficando mais louco que maluco que usa LSD. Olhei aos arredores vendo todas aqueles toquinhos de gente correndo pra todos os cantos, me assustei quando uma correu até mim me atravessando meu corpo.

"Então eu não sou nada aqui..." Conclui.

Reparei de longe alguns gritos e um movimento muito estranho no parque, caminhei pelas pedras chegando na areia e vi um grupo de crianças amontoado, algumas pareciam um pouco mais velhas que as outras. As crianças podem ser cruéis demais, eu não às culpo por não enxergarem a maldade que fazem. Mas que é maldade é.

O grupo de mais ou menos 7 garotos chutavam um outro garotinho, eu via aquilo com pesar, nojo, revolta, mas eu não era nada naquele lugar então por mais que eu tentasse gritar e fazer algo não adiantaria. Os garotos davam ponta pés, chutavam e socavam o pobre coitado no chão que eu mal conseguia enxergar. Então, uma senhora de mais ou menos 60 anos se aproximou espantando a todos que saíram correndo alvoroçados, alguns ainda davam risadinhas debochadas, outros se calaram.

O garoto no chão, coberto por sangue se levanta como se não tivesse sofrido nada, sua cabeça sangrava, os joelhos estavam meio fracos, camiseta surrada e com a cueca aparecendo. Os ferimentos não eram graves afinal de contas se tratavam de crianças, mas... eram sete.

Olhos azuis... Não, um olho vermelho e outro azul...

"Will?" meus olhos se arregalaram ao ver que se tratava do asiático quando menino. Devia no máximo uns 7 anos. Estava todo machucado. Certo, agora eu quero saber realmente aonde diabos eu estou!

—Você também aberração! - A velha senhora gritou! Fazendo o mais novo se encolher. - Tá esperando o que? Saia daqui e vá tomar um banho. Anda logo se não eu mesmo vou bater em você. - Respirei fundo sentindo uma adaga perfurar meu peito. Aquela sensação de impotência me tomou por completo, queria mandar aquela desgraçada pro inferno. - Criatura nojenta! Saía!

Então, o mesmo saiu, de cabeça baixa e cambaleando.

"Sua velha desgraçada! Não vê que está machucado!" Ela só saiu andando seguindo seu caminho bufando como se seu trabalho fosse extremamente incomodo. "Volte! Ei! Sua bruxa de quinta, puta da terceira idade! sua... sua..." Dizia raivoso aos quatro ventos, mas nada saia da minha boca, porém eu precisava daquilo, precisava soltar, Raiva é uma coisa que eu não costumo guardar, Eu só parei quando vi o jovem William se afastando pra longe e então eu o segui.

Ele caminhou lentamente até a piscina da escolinha e se sentou na beirada. Eu observava cada movimento, cada suspiro seu. O asiático sempre estava olhando pra água, tinha e sempre teve olhos expressivos, William sempre sorriu com os olhos, e se entristeceu também... Mas naquele momento os olhos dele ficaram vazios e num movimento súbito ele se jogou na água, mirei o sangue se espalhando pela água azul da piscina.

Não sei o que deu em mim no momento, mas eu corri e pulei, ele precisava de ajuda, meu corpo não se conteve e nem minha mente. Prendi a respiração em reflexo e pude ver a água escurecendo lentamente em volta do corpinho encolhido de William dentro da piscina. Nadei e estiquei o meu braço para pegá-lo, o desespero inundava meu peito como a água daquela piscina, então quando eu estava centímetros da sua pele os meus olhos se fecharam, tudo ficou escuro de repente e quando eu os abri estava realmente me afogando.

Tinha voltado para o porão, William me segurava em seus braços no chão empoeirado do lugar, não me lembro quantas vezes eu tossi, sei que toda vez que tentava puxar o ar eu não fazia isso direito. E o mais estranho de tudo era que minha cara tava supermolhada. Consegui finalmente pegar o ar e vi a garrafa segurada por ele, ele tinha jogado a água da garrafa em mim para que eu acordasse provavelmente. Mas por algum motivo a água irritante continuava a pingar no meu rosto, as gotas se escorreram pelo meu rosto e chegaram nos meus lábios.

Salgada...

Will estava chorando como quando ele pulou na piscina, seus olhos me fitavam com tristeza e ao mesmo tempo surpresa.

— Por que está chorando? - Perguntei, minha voz saiu mais rouca que o normal.

—Não sei... De repente senti uma... coisa profunda. - Ele respondeu e sorriu de forma infantil em meio as lágrimas. - Aonde você foi hein, Heitor?

—Não sei... me diga você. Ai... Minha cabeça tá doendo...

—Vou buscar o Milk. - Ele disse secando as lágrimas e se preparou para sair, mas eu não deixei.

Segurei seu pulso com força e o puxei pra um abraço. Deixei que ele chorasse no meu ombro e de forma consoladora eu passei a mão em seus cabelos. Não achei que era certo deixá-lo sem um abraço depois do que eu tinha visto.

—Diga que não é verdade o que eu vi lá...

—Se eu soubesse o que você viu eu diria... mas eu não sei, nem sei porque estou chorando assim...

Continua. ;-;-;

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