Minha Loucura

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Minhas mãos mal seguravam os papeis velhos e amarelados devido ao choque. Eu fiquei sem forças, tremendo que nem vara de bambu. Minha mente em branco não me deixava pensar em nada, quanto mais eu tentava entender mais eu me confundia, mais eu ficava assustado, mais eu tentava não acreditar.

Sim, aquele realmente era eu, os traços, os cabelos, os olhos eram meus. Até a inicial era a minha. Como William explicaria algo assim?

- Heitor... – Ouvi a voz dele me chamando no corredor. Os meus pelos se arrepiaram instantaneamente. – O que está fazendo? Você ta demorando muito... – A voz se aproximava.

A cada passo ouvido eu podia sentir meus músculos relaxando e o frio na espinha aumentando cada vez mais.

Um passo.

- Heitor...

Mais dois...

- Me responde.

Mais um.

- Desse jeito eu vou ter que... - Ele estava no batente e dava pra sentir a sua aura. – Mas... O que?

Me levantei amassando os papeis com as duas mãos. Olhei no fundo dos olhos dele e ele pareceu entender que eu procurava explicações em meio aos dois mares azuis. Ficou incrivelmente mais branco, abria a boca varias vezes pra falar, mas não dizia nada e isso começou a me enfezar... Muito.

- E-eu... Posso explicar... – O meio japonês desviou o olhar para o chão respirando fundo. – Só, por favor, não estraga eles... São muito importantes pra mim.

Eu respirei fundo e tentei me acalmar, não adiantava me desesperar por causa disso. Eu teria que ser compreensivo nesse momento já que se ele fosse perigoso eu teria que passar segurança pra sair da casa. Mas por algum motivo eu não conseguia pensar que Will fosse ameaçador. Ele tinha uma aura esquisita, pensamentos estranhos, tinha abusado sexualmente de mim uma vez, mas mesmo assim... Ele era meu parceiro de fuga, tinha me salvado e me ajudado naquele ultimo incêndio.

Coloquei os papeis amassados em cima da cômoda e ele pareceu voltar a respirar, seu rosto ficou mais corado e os ombros mais relaxados. Os desenhos eram tão importantes assim?

- Acho melhor... Você se sentar pra ouvir. – Ele disse.

- Olha William anda logo com isso. Eu quero que você me explique essa merda toda agora! Me ouviu? – O asiático arregalou os olhos e voltou a abaixar a cabeça.

- Só... Deixa eu... Não queria que você soubesse assim... – A voz de choro dele acabou com a minha ira. Senti um aperto estranho no peito, mas mantive a pose. – Eu... Sou como você.

- O que quer dizer?

- Eu sou diferente como você Heitor... – As suas bochechas já começavam a ficar vermelhas por causa do choro. – Eu juro que ia te contar, só que...

- Explica isso direito... Não faz sentido nenhum.

- Eu posso ver o futuro. – Ele enxugou as lagrimas e me olhou impassível. – Posso saber o que vai acontecer amanha, e depois, e depois...

Meu coração parou por um breve momento e eu tive que me apoiar na cômoda pra não cair duro ali mesmo. Olhei pra ele não acreditando em meia palavra que saia da boca dele. Não fazia sentido... Eu... Nunca tinha encontrado alguém parecido comigo e agora ele vinha e bagunçava a minha cabeça toda! Que porra!

O asiático abaixou a cabeça e enfiou o dedo no olho me apavorando. Sentei em cima da cômoda no reflexo e então o mesmo levantou a cabeça de olhos fechados. E assim que os abriu eu pude ver... Um com Iris azul como o próprio mar, e o outro com Iris tão vermelha que parecia arder em chamas. Heterocromia era realmente uma coisa muito rara, mas não provava nada. Afinal de contas, ele ver o futuro explicava o que na verdade?

O Garoto Do Boné VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora