O Garoto Do Boné Vermelho

Universo

  Mesmo com tudo o que tinha acontecido, eu ainda tinha o meu primeiro dia de trabalho que nem era a coisa mais importante do mundo agora. No começo do dia, eu me lembro de estar pulando animado como uma gazela que acaba de tirar sarro de um leão perdedor. Hiper animado. Mas agora só restava os vestígios do meu orgulho ferido e da decepção do meu dia.

O que ainda continuava muito claro na minha mente, era aquele filho da puta abusando de mim no vestiário. Eu já tive muitos dias ruins na minha vida mas aquele dia tinha se superado em todos os aspectos e de todas as formas.

1° Erick se declarava Gay

2° William Hwang me tara mentalmente

3° O desgraçado abusa de mim sexualmente no vestiário.

Sim universo... Deu pra entender que você me odeia, não precisa destruir a minha vida, sua antissocialidade já deixou bem claro que você não gosta nem um pouco de mim.

Entrei pela porta dos funcionários atrás do Coffe Heart e reparei na decoração do refeitório juntando os vestiários. O engraçado é que eu tenho certeza que li "Sala dos Funcionários" bem grande na porta, e eu não tinha visto nenhuma alma penada vagando. Será que eu vim cedo demais?

Foda-se, eu espero aqui mesmo.

Me Sentei (joguei na verdade) na poltrona vermelha do lado da maquina de refrigerantes e as paredes do lugar me chamaram a atenção de alguma forma, eram pintadas de bege-cor-de-merda-infantil, as lâmpadas brancas e os moveis todos pretos e vermelhos. A mesa era de carvalho escuro e as cadeiras faziam parte do mesmo conjunto tendo os acentos vermelhos acolchoados. Tinha também uma estante repleta de livros antigos, alguns mais empoeirados que os outros. E os tapetes vermelhos deixavam o lugar com um ar ligeiramente cafona e confortável junto com o cheiro de incenso.

Meu turno começava as quatro e meia da tarde, e ainda não passava que quatro e quinze, então eu concluí que eu tinha mesmo chegado cedo demais.

Eu não tava nervoso e nem ansioso pra trabalhar, na verdade, a minha vontade era de voltar pra casa e tentar entrar em coma de alguma forma, porém eu não estava aguentando mais ficar sem nada no bolso, aquela sensação de estar "duro" no mal sentido é muito ruim, e nem fodendo eu sairia pedindo o dinheiro pra minha mãe.

Suspirei passando os dedos na pelugem vermelha da poltrona tentando relaxar, encostei a nuca em seu encosto e fechei os olhos sentindo aquelas memórias horríveis me atingirem em cheio. As mãos dele, a respiração dele, os pensamentos dele, A forma como ele esfregava aquele negocio em mim ainda estavam vivas e o que eu mais queria era esquecer tudo aquilo que me fazia sofrer. Meu coração começou a bater mais rápido por causa da raiva que inundou meu corpo e minha respiração ficou pesada, sem querer os meus punhos se fecharam com força em cima do braço da poltrona.

— Oi... - Essas pessoas que gostam de aparecer do nada e me fazer ter parada cardíaca não sabem que isso é perigoso?

Imagina uma pessoa mais reluzente do que um anjo que caiu do céu e agora vista ela de uniforme de empregada. Sim, esse anjo caiu na minha frente e não era o William que ia estragar tudo. Tudo bem que ainda tinha o assunto da Lizzy que não estava resolvido, mas como ela resolveu ter uma tara sobrenatural por viados eu vou ter que partir pra outra.

Alguma coisa saiu da boca dela mas eu não entendi porra nenhuma porque me encontrava hipnotizado naqueles olhos verdes amendoados e naquela boca com o gloss rosa brilhando e implorando para que meus lábios colassem ali. A Garota era tão linda que a minha concentração bugou toda.

Os cabelos ruivos estavam soltos e a franja presa por uma tiara preta e branca, as mechas caiam sobre os seios dela de uma forma quase alucinante e as bochechas rosadas ficavam vermelhas lentamente pela forma como eu a encarava. Os olhos esmeralda fitavam os meus com curiosidade.